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AFOGANDO EM IMAGENS

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Páginas são sucessão de portas, em livro de Katia Maciel

A montanha, o horizonte e o espelho são limites. Mas o limite entre refletir e ser refletido; ou ser leitor e escritor; não faz sentido na obra de Katia Maciel. Na praia, sentada de costas, a artista olha para um mar que saiu de sua memória. Mareando (2007) foi o primeiro trabalho em que ela se colocou dentro da imagem. Está nas primeiras páginas do livro monográfic­o que traz um panorama de sua trajetória. Nas páginas seguintes, a silhueta escura da artista caminha sobre a espuma e a areia clara de Mar Adentro (2014). Em Arvorar (2012), seu contorno não se mistura, mas se sobrepõe à floresta projetada à sua frente. Entende-se pelo texto-legenda que acompanha a fotografia que o que é raptado pela imagem da floresta não é o corpo, mas a respiração daquele que a observa. Isso se dá por meio de um microfone suspenso, que funciona como sensor que conecta o visitante à imagem, modificand­o-a. A estratégia da instalação interativa, fartamente explorada por artistas que trabalham os encontros entre arte e tecnologia, repete-se na organizaçã­o deste livro. Na escolha das cerca de 150 fotografia­s que compõem a publicação, desenha-se um percurso cíclico em torno de relações espectrais entre fundo e figura; imagem e realidade; que levam a uma incerteza: estamos dentro ou fora da imagem?

Se o vídeo Trailer (2018) – título homônimo do segundo livro de poemas da artista – é formado pela sucessão de frames de todos os seus trabalhos em loop, este livro é um longa-metragem. Dirigida pela artista, a publicação tem feição autobiográ­fica, ainda que transpassa­da pelas vozes de 15 autores que com sua obra interagira­m.

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