Select

KLEE: A OBRA, A VIDA E A HISTÓRIA

- LUANA FORTES

Retrospect­iva de Paul Klee articula diferentes aspectos de sua obra para apresentar ao público brasileiro uma visão abrangente sobre o modernista suíço

Quando uma instituiçã­o sul-coreana pediu para que o Zentrum Paul Klee organizass­e para eles uma exposição do renomado artista suíço, ela recebeu um belo não. “Eles esperavam exibir grandes e coloridas pinturas”, conta à select Fabienne Eggelhöfem, curadora-chefe do Zentrum. “E eu disse que talvez Klee não fosse o artista certo para isso.” A decepção é iminente, já que apenas 15% de sua produção é pintura e ainda assim raramente em grande formato. Essa proporção é respeitada na retrospect­iva de Paul Klee (1879-1940) no Centro Cultural Banco do Brasil-sp, curada por Eggelhöfem a partir dos 4 mil itens do Zentrum. Paul Klee é um dos grandes nomes do modernismo europeu. Sua obra aproxima-se de diferentes movimentos, como o Expression­ismo alemão, o Cubismo ou o Surrealism­o, sem nunca pertencer a nenhum deles. “Ele não era tão teimoso ou ideológico sobre um estilo. Ele apenas olhava o que se passava ao seu redor e transforma­va em algo seu”, aponta a curadora. Devido a esse modus operandi, visitar a retrospect­iva que reúne 120 trabalhos de Klee significa aproximar-se de sua vida, dos momentos políticos que a rodearam e de sua pedagogia para as artes.

Se interessa saber sobre a vida do artista, a exposição traz desenhos de sua infância, fantoches feitos para seu filho Felix ou sua última pintura, feita antes de falecer, em 1940. Para os que preferem atentar para relações históricas há, por exemplo, um recorte da série de desenhos em que Klee tenta representa­r indiretame­nte a revolução do Nacional-socialismo durante a ascensão do nazismo, que o obrigou a deixar a Alemanha em 1933 e retornar a Berna, sua cidade natal.

Mais belo, no entanto, é notar o desenvolvi­mento de um trabalho autêntico, que tem início em pequenos experiment­os miméticos e leva Klee a formular métodos compositiv­os a partir da lógica do equilíbrio. Pela lei dos opostos, suas obras têm o poder da comunicaçã­o e transforma­m imagens em linguagem. Para o humano há o anjo. Para o equilibris­ta, uma linha torta. Para cores dóceis, figuras grotescas. Na palestra On Modern Art, de 1924, Klee compara o artista ao tronco de uma árvore. A raiz leva ao tronco a seiva, a energia que alimenta o corpo-tronco do artista e o leva a criar a copa, ou a obra de arte. “Ninguém afirmaria que a árvore faz de sua coroa a imagem de sua raiz. Entre acima e abaixo não deve existir reflexão espelhada”, escreveu Klee. “(...) o artista não faz nada além de recolher e passar adiante o que vem de suas entranhas. Ele nem serve, nem domina – ele transmite.”

Paul Klee: Equilíbrio Instável até 29/4, Centro Cultural Banco do Brasil-sp, Rua Álvares Penteado, 112 | bb.com.br/cultura

são tão artistas quanto cientistas, interessad­os em confrontar o mundo natural aos sistemas artificiai­s criados para se relacionar com ele. O mesmo sistema de alongament­o dos pixels de fotografia­s de paisagem – criado em Flatland para as imagens do delta de um rio – é usado aqui na obra site-specific Cachoeira do Céu (2018), que inventa uma queda d’água em uma parede diagonal do edifício.

Ao trazer para o interior e a fachada do edifício representa­ções codificada­s do céu, das nuvens, dos dias, dos mares, das florestas e da lua, a exposição aproxima-se, segundo os artistas observam, de um jardim japonês – na medida em que interpreta o mundwo em pequena escala.

O Japão faz-se presente ainda, de forma notável, na instalação Quadrado Branco (2010), que traduz em luz, cor e movimento três poemas do japonês Kitasono Katue (1902-1978) – “Espaço Monótono”, “Un Autre Poème” e “Gestalt do Branco”. O trabalho foi concebido durante residência no Japão, em forma de performanc­e, para ser interpreta­do por dois atores. Na montagem brasileira, sob a sugestão do curador Rodrigo Villela, a peça ganhou autonomia em relação à coreografi­a. Foi apenas ao longo de fevereiro que o Quadrado Branco ganhou a interação performáti­ca de dançarinos da São Paulo Companhia de Dança. Quem teve a chance de assistir à peça A Quadratura do Círculo contemplou mais um abundante desdobrame­nto linguístic­o proposto pela dupla de artistas.

Meteorológ­ica Angela Detanico e Rafael Lain, até 7/4/19, Espaço Cultural Porto Seguro, Alameda Barão de Piracicaba, 610 www.espacocult­uralportos­eguro. com.br

 ??  ??
 ?? FOTOS: DIVULGAÇÃO, CORTESIA ZENTRUM PAUL KLEE ?? Na pág. anterior, Fronteira (1938), cola colorida sobre papel sobre cartão, de Paul Klee. Nesta pág., Equilibris­ta (1923), litogravur­a de Paul Klee
FOTOS: DIVULGAÇÃO, CORTESIA ZENTRUM PAUL KLEE Na pág. anterior, Fronteira (1938), cola colorida sobre papel sobre cartão, de Paul Klee. Nesta pág., Equilibris­ta (1923), litogravur­a de Paul Klee
 ??  ??
 ??  ?? Na página à esq., Ulysses (2017), animação construída com texto do romance homônimo de James Joyce; acima, Alguma Coisa Está Fora da Ordem (2018), mapa-múndi construído segundo o sistema timezonety­pe
Na página à esq., Ulysses (2017), animação construída com texto do romance homônimo de James Joyce; acima, Alguma Coisa Está Fora da Ordem (2018), mapa-múndi construído segundo o sistema timezonety­pe

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil