ERRAMOS
Nova série de Alex Flemming faz chamada à autocrítica da sociedade brasileira
“Para o Brasil chegar ao ponto de ficar à mercê dos evangélicos, das bancadas do boi, da bala e da Bíblia, é porque todos erramos.” Assim Alex Flemming introduz à select a série Ecce Homo, em exibição em sua primeira individual da Galeria Emmathomas. A exposição é composta de 28 objetos que se articulam como uma grande instalação, amarrados por um laço forte. São 28 desenhos de mãos gravados sobre pias sanitárias de modelos, cores e idades diversas. Posicionados lado a lado, sobre pedestais, os objetos e seus desenhos em baixo-relevo reforçam o coro de uma mesma mensagem, sintetizada no título da série: ecce homo (eis o homem, em latim) são as palavras ditas por Pôncio Pilatos ao entregar Jesus Cristo aos judeus, antes de lavar as mãos.
Se poderia suspeitar da literalidade com que a mensagem é gravada no objeto. Mas aqui também é preciso reconhecer a eficiência da simplicidade, quando se trata de disseminar uma ideia: fazer a crítica e a autocrítica da (ir) responsabilidade diante dos problemas brasileiros. Como afirma Ricardo Resende no texto curatorial, são os trabalhos de estética simples os que melhor atingem a eficiência da mensagem, os que mais tocam o espectador.
Desde os anos 1970, Alex Flemming faz de sua pesquisa artística um campo para a elaboração de comentários sobre os acontecimentos de seu tempo. No primeiro grande projeto realizado, a série de fotogravuras Natureza-morta (1978), ele reinterpretou com o próprio corpo cenas de tortura vigentes naquele mesmo momento pelo regime militar. Notadamente, esse trabalho não foi exposto nas grandes mostras que em 2018 lembraram a censura pós-ai-5. Hoje, seus baixos-relevos em lavatórios são como mensagens na garrafa, proferidas a todos os náufragos brasileiros.
Alex Flemming – Ecce Homo, até 14/4, MAM SP, Parque do Ibirapuera, portões 1 ou 3, mam.org.br