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DIA DE CÃO

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Dia de cão! E o meu fraco latido era mais um ganido de dor. Meu osso roído caiu no triturador E feito cadela no cio A vida me fode sem amor. Eu fico tão puta (!) Que eu persigo o carteiro. Persigo as motos na rua, Eu coço sarna o dia inteiro. Eu agora só quero andar nua, não aparo mais os pelos, Eu uivo pra lua. Se eu saí pra dar uma volta Foi pra gastar minhas unhas, Mas o asfalto hoje tá quente demais, Queimou minhas patas na frente e atrás, Eu já nem caminho mais Já nem farejo os ais, Ai! Os dias andam maus pra cachorro! Quem dera ter pedigree. Aí não apanhava dos porcos, Podia andar por aí. Cansei de passar sufoco, fui morder, mas só lati E ainda abanei meu rabo torto pra passarem a mão em mim! Dia de cão! Eu corri atrás da bolinha Mas era só ilusão E ainda ouvi sua risadinha E minha bolinha na sua mão Porque você só faz que joga E ri da minha empolgação! Eu vigio tanto a casa que até mastigo as cartas E apanho por subir na cama, na minha cama. Apanho do despertado­r que logo cedo já chama e vou dormindo no metrô. Eu nem sei por que eu vou. Dizem que o dono chamou, mas ninguém me adotou! Eu continuo vira-lata. Virando lata após lata de breja fraca e barata e ainda querem que eu lata antes que alguém me bata, antes que alguém me mata antes que o tédio me mata e anda... que a passagem é cara. no busão cachorro não entra. Na farmácia cachorro não entra. No mercado não entra cachorro E na rua cachorro não aguenta! Dia de cão! Tinha gosto de amargura meu pratinho de ração, Minha água tava suja e eu só posso dormir no chão, marcaram minha castração as vacinas me dão aflição, a vida me nega sua mão, a vida me corta o tesão e eu sigo suportando as pulgas pra ganhar o pão. Na “palma” da pata, uma indagação Será que é defeito da vida, ou é problema meu ser cão?

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