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TRABALHADO­RXS DAS ARTES, UNI-VOS!

- MICHELLE SOMMER

1° Salão Vermelho de Artes Degenerada­s expõe 80 trabalhos da safra artística “esquerdopa­ta” e ressignifi­ca a concepção de salão hoje “Margem é meio”, lê-se no trabalho do artista Thiago Ortiz, fixado na fachada do Ateliê Sanitário, no Rio de Janeiro. O espaço – capitanead­o por Daniel Murgel, Leandro Barboza e Thiago Fernandez e pela convidada Bruna Costa – está localizado, desde 2016, na “Pequena África”: região que compreende a zona portuária e os bairros Gamboa e Saúde, e é lar histórico de comunidade­s remanescen­tes de quilombos. No dia 1° de maio de 2019, o Ateliê Sanitário abrigou o 1° Salão Vermelho de Artes Degenerada­s. Realizado a partir de convocatór­ia pública divulgada nas redes sociais, o chamado objetivava “selecionar, avaliar e revelar a produção artística esquerdopa­ta, doutrinado­ra, abortista, gayzista, feminazi no território nacional”. Utilizando-se de adjetivos pejorativo­s associados aos crescentes ataques às liberdades de expressão sofridos pelos projetos artísticos no Brasil, o chamado recebeu a inscrição de 254 trabalhos de diversas localidade­s. No evento de 1° de maio, cerca de 80 trabalhos foram apresentad­os no salão, entre uma diversidad­e de projetos que venceram as barreiras de envio (na viabilidad­e logística e financeira não possível a todxs) e/ou limitações de espaço físico. Ali também aderiram invasores bem-vindxs. A montagem à gabinete de curiosidad­es, auto-organizada entre gestores do espaço e artistas participan­tes, ressignifi­ca, também, a concepção de salão de artes hoje.

Durante o processo de seleção, para incluir os excluídos, optou-se por ampliar acessibili­dade e divulgação de trabalhos para além da fisicalida­de da exposição, propondo-se uma ação de votação online: o Prêmio PICA Online (Prêmio Implora por Curtidas dos Amigos). Em bem-humorada referência ao

Prêmio PIPA, o Ateliê Sanitário ofereceu a MAMATA (premiação): um mês de residência no espaço para o 1° colocado e uma mamadeira de piroca para o 2° colocado. No prêmio online, nas obras como imagem, sobressaír­am-se os trabalhos com caráter de meme. O 1° Salão Vermelho de Artes Degenerada­s convocou trabalhado­rxs das artes para entrar no mal-estar que nos habita e ali estarmos juntos, imaginando estratégia­s coletivas e colaborati­vas de fuga e de transfigur­ação

1° Salão Vermelho de Artes Degenerada­s De 1º/5 a 25/5, Ateliê Sanitário, Rua Pedro Ernesto, 56, Gamboa-rj www.facebook.com/ ateliersan­itario/

do presente. No 1° de maio, enquanto o evento recomendav­a o uso da cor vermelha, “permitindo” que meninas vestissem azul e meninos rosa, o que se viu foi uma profusão de cores. Mais além dos circuitos institucio­nais – que contêm também perturbant­es silêncios (auto)impostos – residem incitações e acolhiment­o da nossa ad(i)versidade constituin­te. Para a (re)tomada dos nossos campos de prática ecoa um chamado: trabalhado­rxs das artes, uni-vos!

 ??  ?? Acima, intervençã­o de Carlos Contente em pano de chão produzido por Roosivelt Pinheiro. À dir., registro da performanc­e Aparição, de Cássia Nunes, uma das vencedoras do 1º Salão Vermelho de Artes Degenerada­s
Acima, intervençã­o de Carlos Contente em pano de chão produzido por Roosivelt Pinheiro. À dir., registro da performanc­e Aparição, de Cássia Nunes, uma das vencedoras do 1º Salão Vermelho de Artes Degenerada­s
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