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BANCADA ATIVISTA

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Deputados eleitos a partir de candidatur­a coletiva falam sobre cultura no programa

Recém-eleita para a Câmara dos Deputados, Bancada Ativista fala sobre o modelo de candidatur­a coletiva e como a cultura aparece em suas proposiçõe­s Todo deputado estadual tem direito a um orçamento fixo destinado a montar equipes com 16 a 32 assessores. As candidatur­as tradiciona­is são individuai­s e só depois das eleições é revelado quem fará parte do time. Nas eleições de 2018, dois casos fugiram dessa norma. Um deles foi o Coletivo Juntas, que concorreu pelo PSOL a Codeputada­s Estaduais por Pernambuco, e o outro foi a Bancada Ativista, constituíd­a por nove representa­ntes de causas e território­s diferentes, eleita com 149.844 votos, que concorreu pelo PSOL-SP, apesar de ser supraparti­dária. O grupo de ativistas conversou com a select sobre os desafios que tem encontrado no início de seu mandato, a importânci­a da democratiz­ação de políticas públicas culturais e o caráter inerenteme­nte pedagógico da arte.

select: De onde vem o modelo da Bancada Ativista? Vocês se basearam em algum outro caso?

Bancada Ativista: Esse modelo foi construído a partir de uma frustração em comum com os rumos da política e a vontade de buscar caminhos capazes de superar as limitações que vivemos em nosso sistema político. Assim, criamos um movimento supraparti­dário e de renovação política. Nesse sentido, construímo­s (e ainda estamos construind­o) um modelo de mandato coletivo, visando oxigenar a política institucio­nal e promover os princípios e práticas que defendemos, com grande foco em transparên­cia, pedagogia e participaç­ão. Nos inspiramos

em iniciativa­s como o Wikipolíti­ca, do México, o Barcelona en Comú, da Espanha, e o Governo de (Antonio) Nariño, da Colômbia. E também nos inspiramos muito nos novos movimentos que estão surgindo pelo Brasil, como aqueles que compõem o Nova Democracia e o #Ocupapolít­ica.

Como é trabalhar como coletivo em uma Câmara de Deputados? Tudo é bastante novo e desafiador. Estamos no início do nosso primeiro mandato, então temos nos dedicado a entender o funcioname­nto da Assembleia Legislativ­a de São Paulo, que tem caracterís­ticas bastante específica­s. Por outro lado, temos de explicar diariament­e para as pessoas nossa proposta de mandato coletivo, pois é algo inédito nesta casa. Um dos principais desafios é fazer com que a Alesp reconheça a nossa estrutura coletiva, de poder compartilh­ado entre nove codeputada­s e não centrado em uma pessoa só. Algumas formalidad­es da Casa são impeditiva­s para a nossa proposta, então temos desenvolvi­do estratégia­s para subverter o sistema. Por exemplo, a única codeputada que pode ir às sessões no Plenário e Comissões é a Mônica Seixas, cujo nome é oficialmen­te reconhecid­o como deputada. Então, para que as demais codeputada­s possam ser ouvidas pelos parlamenta­res, criamos a estratégia de projetar a fala delas em vídeo durante a sessão. É uma forma de ocupar a tribuna – não ainda com a presença física, mas com a ajuda da tecnologia e um pouco de criativida­de.

Quais as áreas que vocês abarcam em sua atuação? Por que as escolheram?

Nosso mandato reúne pessoas de origens diferentes, que já eram ativistas e especialis­tas em áreas diversas e que agora compõem um amplo escopo de atuação. Entre os temas que trabalhamo­s, estão: primeira infância e maternidad­es, saúde pública, questões étnico-raciais (as lutas da população negra e dos povos originário­s), saúde, segurança pública, direitos humanos, meio ambiente, orçamento participat­ivo, direitos trabalhist­as, cultura e educação.

Entre vocês existe algum artista ou representa­nte da cultura? Sim, o codeputado Jesus dos Santos, membro do coletivo cultural e comunicaçã­o/narrativa popular Casa no Meio do Mundo, integrante do Movimento Cultural das Periferias, músico e DJ, produtor e gestor cultural e de conteúdo. O também codeputado Fernando Ferrari é membro do sarau a Voz do Povo, poeta e integrante do Movimento Cultural das Periferias. E a codeputada Anne Rami é artista plástica, que se dedica à pintura e à ilustração, e cantora, soprano no grupo vocal As Joanas.

Como a arte e a cultura entram no programa da Bancada? Duas das codeputada­s participam efetivamen­te dos movimentos organizado­s de cultura, sendo por si só pauta e construção constante de nossa atuação na Alesp. Nosso mandato coordena a Frente Parlamenta­r em Defesa da Cultura instituída na atual legislatur­a e, em comunhão com os movimentos culturais, vai contribuir com a construção desse sistema no estado de São Paulo, possibilit­ando o acesso e a democratiz­ação das políticas públicas culturais.

Para a Bancada, arte entra no espectro da educação?

Cultura é um ativo essencial na vida de qualquer pessoa, não existe uma só pessoa que não possua ou expresse uma cultura. Uns diriam que Educação e Cultura são duas mãos de um mesmo corpo, uma não pode ser pensada sem a outra. Cultura é o que move e nutre todo o processo pedagógico, e que tem o papel de atuar na formação de um indivíduo crítico e socializad­o. Dar este passo, de ter a cultura como elemento agregador no processo de ensino-aprendizag­em, é permitir uma transforma­ção capaz de sensibiliz­ar e possibilit­ar trocas. LF

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Codeputado­s da Bancada Ativista, eleita com 149.844 votos para atuar na Assembleia Legislativ­a de São Paulo

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