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CONTRA A LINGUAGEM NORMATIVA

- PAULA ALZUGARAY

Leonardo Villa-forte dedica pesquisa à transescri­tura e à escrita não criativa, que nasce quando a literatura se torna uma máquina de remix

Se a prática apropriaci­onista do readymade

gerou uma robusta família espraiada em todas as gerações de artistas do século 20, estamos diante de uma genealogia de escritores que trabalham para erradicar noções tradiciona­is de gênio, trabalho e processo, no século 21. Esse DNA literário de uma escrita não criativa foi o tema da dissertaçã­o de Mestrado do artista e escritor Leonardo Villa-forte – eleita a melhor do Departamen­to de Letras da PUCRIO, entre 2015 e 2016 –, que ganha publicação em edição atualizada. Em Escrever sem Escrever: Literatura e Apropriaçã­o no Século 21,

Villa-forte cita Marjorie Perloff (a definição de gênio não original), Frederico Coelho e Mauro Gaspar (Manifesto da Literatura Sampler), Nicolas Bourriaud (o conceito da pós-produção aplicado à arte contemporâ­nea), mas cita, fundamenta­lmente, Kenneth Goldsmith, o escritor criador do site Ubuweb e de curso universitá­rio sobre escrita não criativa.

Além de cinco livros de Goldsmith, a bibliograf­ia inclui a entrevista “Copiar é preciso, inventar não é preciso”, concedida a Giselle Beiguelman na primeira edição da select, em 2011, sob o título “Abaixo a originalid­ade”. As reflexões de Goldsmith sobre o autor-curador, agente-chave na atual paisagem midiática de fluxo veloz da informação, serviu como balizador da atitude curatorial assumida pelo projeto editorial da revista. Mas também foi determinan­te para o início da pesquisa acadêmica de Villa-forte, segundo nos conta o autor por e-mail.

O livro de Villa-forte contextual­iza a pratica da transcriçã­o de textos – transescri­tura –, na obra de escritores e artistas como Christian Marclay, Jorge Luis Borges, Verônica Stigger ou Ramon Mello, cujo livro Poemas Tirados de Notícias de Jornais é uma espécie de reescritur­a do poema de mesmo título de Manuel Bandeira. Mas a primeira obra descrita pelo autor é a sua própria Mensagens, composta de duas pilhas de folhas de papel com impressões de todas as mensagens SMS recebidas e enviadas durante o ano de 2012.

A escrita não criativa é predominan­temente um exercício de linguagem, que inclui, como um procedimen­to-chave, a citação, e com a premissa da negação da originalid­ade como normativid­ade. Afinal, como aponta Villa-forte, citare em latim é “pôr em movimento, fazer passar do repouso à ação”. Em contribuiç­ão à pesquisa de Villa-forte, sugerimos a leitura de Impulso Historiogr­áfico, de Giselle Beiguelman, uma transcriçã­o do Impulso Arquivista, de Hal Foster, sob a ótica do artista-historiado­r, publicado na select #40, Historias da Arte.

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Capa do livro Escrever sem Escrever: Literatura e Apropriaçã­o no Século 21, de Leonardo Villa-forte

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