PARA DECOLONIZAR A BRASILIANA
A ESTRATÉGIA CRIATIVA DE DENILSON BANIWA, ENTRE OUTROS ARTISTAS BRASILEIROS, DE EXIBIR EM SEUS TRABALHOS AQUILO QUE A BRASILIANA DE FATO É: UM CONJUNTO DE DOCUMENTOS DA CULTURA E DA BARBÁRIE INAUGURADAS COM O EMPREENDIMENTO COLONIAL
DENILSON BANIWA É ARTISTA INDÍGENA CONTEMPORÂNEO, NASCIDO NO INTERIOR DO AMAZONAS.
Por vários anos tem desenvolvido, sobre suportes diversos (pintura, performance, gravura, desenho, instalação), uma investigação crítica sobre a continuada violência – de Estado e de particulares – cometida contra os povos originários das terras que constituem o Brasil. Junto a um número crescente de outros criadores indígenas, tem formulado maneiras de resistir a exclusões seculares e de afirmar o direito de viver diferente. Entre seus muitos trabalhos recentes há uma série de intervenções gráficas e discursivas que faz sobre as ilustrações de um livro chamado Grandes Expedições à Amazônia Brasileira, publicação que apresenta centenas de imagens feitas por artistas que vieram ao país, integrando expedições culturais ou científicas, a partir do século 16. Livro que reúne representações de tipos humanos, de cenas supostamente vividas e de espécies animais e vegetais encontradas no Brasil desde a colônia até o início do século passado. As intervenções de Denilson Baniwa, feitas com nanquim, são chamadas por ele de “rasuras”, pois riscam informações ali existentes e acrescentam outras novas, modificando os significados primeiros daquelas pranchas. Em uma delas, chamada A Catequização. Reescritura sob Perspect-ativismo (2020), acrescenta traços e frases sobre a reprodução de uma pintura que descreve a pregação de um padre de batina para um grupo de indígenas despidos, que se aglomeram em torno dele: traços que, sobrepostos ao traje do padre, acoplam nele um pênis ereto; e frases, graficamente associadas às figuras dos indígenas, de rejeição àquela tentativa de captura de crenças. Intervenções que aproximam pregação religiosa de violação e catequização de epistemicídio. Em outra dessas rasuras, intitulada Não Há Cartografia no Mundo dos Pajés (2020), o artista escreve a frase-título do trabalho sobre um mapa dos rios da Amazônia feito no século 17 e desenha, sobre essa representação ocidental que divide territórios unos, a imagem do que parece ser um remo indígena decorado com grafismos – objeto que, disposto horizontalmente sobre a prancha cartográfica, articula e defende um complexo hídrico ocupado à força por estranhos.