DESIGN ORGÂNICO
O ESTILISTA LABÔ YOUNG GANHA O MUNDO COM SUAS CRIAÇÕES A PARTIR DE VEGETAIS, E QUER CONTINUAR PRODUZINDO NA REGIÃO EM QUE CRESCEU E DE ONDE VEM SUA INSPIRAÇÃO
Ancestralidade e natureza informam o styling do artista e estilista paraense Labô Young
É NO QUINTAL DE SUA CASA EM ICOARACI, DISTRITO DE BELÉM DO PARÁ, QUE O ESTILISTA LABÔ YOUNG ENCONTRA INSPIRAÇÃO PARA BOA PARTE DO QUE CRIA.
Ele conta que aprendeu com sua mãe a utilizar o que tinha à mão para confeccionar seus próprios brinquedos. Das plantas, palhas, caroços e sementes que havia ali surgiam miniaturas de vacas e bois, criados com a ajuda de muita imaginação. É nesse quintal com tucumanzeiro, mangueira e aceroleira, entre outras árvores frutíferas, que Young diz encontrar ainda grande parte dos materiais que servem agora para um propósito mais sério, mas não menos criativo. As mesmas plantas, palhas, caroços e sementes são hoje matérias-primas para figurinos de moda, trabalho pelo qual o estilista está chamando atenção e ganhando prêmios. Seu nome aparece entre os 50 jovens talentos mais inovadores de todo o mundo, na lista New Wave: Creatives 2020, do British Fashion Council, e Young também ganhou neste ano, ao lado de Rodrigo Polack, o melhor figurino do Music Video Festival por Vênus em Escorpião, clipe de Gaby Amarantos no qual suas peças, máscara e vestido construídos inteiramente de folhas, aparecem em meio a um cenário futurista como reforço ao grito pela preservação da floresta.
Autodidata, sem titulação acadêmica, Labô Young diz que sua formação é ancestral. “Minha família vem de gerações ribeirinhas e são artistas também. Criam barcos, cestas, roupas, tudo a partir do próprio imaginário e isso se conecta muito comigo”, diz. Filho de uma marajoara que se mudou ainda nova para Icoaraci, o artista costumava viajar na infância para a Ilha de Marajó, lugar que se tornou referência em seu processo. “É um instinto ancestral. Eu e minha mãe sempre tivemos uma conexão muito forte com o rio, com a ilha, a floresta. A nossa vivência, enquanto pessoas amazônicas, é uma influência muito forte”, diz, lembrando das narrativas que cresceu ouvindo de seu avô, que era pescador. Eram histórias do folclore amazônico que encantavam Young e tinham como pano de fundo o cuidado com a floresta, mas, ao mesmo tempo, lhe davam medo por conta dos personagens que podiam também fazer mal. “Tinha medo por não entender, mas hoje entendo que nós fomos criados na encantaria e somos também encantaria.”
SOMOS ENCANTARIA
Apesar da inventividade que sempre o acompanhou, Young conta que foi sua mudança para a Ilha de Mosqueiro, onde se encontrou longe dos amigos, que fez com que se voltasse para si mesmo e seu universo afetivo. Se antes, juntamente com sua turma, ele gostava de customizar peças de jeans, foi nesse deslocamento, em 2017, que o paraense começou a criar peças de roupas a partir de vegetais. E foi essa opção que, apenas dois anos depois, o colocou em contato com o estilista serra-leonês Ib Kamara, o cultuado editor de moda da revista britânica i-d. Ao ser chamado como modelo de um editorial da publicação estrangeira, que seria fotografado por Rafael Pavarotti, seu conterrâneo, Young aproveitou para mostrar suas criações e acabou sendo convidado para participar também de um editorial da revista do jornal francês Le Monde, que foi dedicado ao Rio de Janeiro. “Depois dessa parceria, as coisas começaram a acontecer e as pessoas entenderam o meu trabalho”, lembra. De lá para cá, além de colaborações com a cantora Gaby Amarantos, Labô Young participou da produção de curtas, como Queda do Céu, de Fernando Nogari, e Não Existe Pecado ao Sul do Equador, de Igor Furtado, e outros videoclipes, como Flor de Mureré, do grupo paraense Carimbó Cobra Venenosa. Também tem colaborado com frequência para projetos da marca Farm, criando desde adereços e máscaras para as vitrines de lojas em São Paulo e Rio de Janeiro até adornos para editoriais de moda.
Para todos esses trabalhos o artista conta que são raras as vezes que sabe de antemão o que vai criar. O que prefere, na verdade, é levar vários materiais consigo para sentir, na hora, o corpo de cada pessoa. A primeira vez que confeccionou um vestido, ele lembra, foi durante um cafezinho da tarde com uma amiga. No meio do encontro, visualizou uma folhagem que achou bonita e, como por encanto, estava pronta sua mais nova peça. “Não foi nada muito pensado, foi de sentir o corpo mesmo e as formas que as coisas têm e onde elas se encaixam”, lembra. “Sempre vou descobrindo coisas novas na natureza.”