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Mundo Codificado

ARUAK, TUPI, TUKANO, MACRO-JÊ, ARAWÁ. O BRASIL É UM PAÍS BEM ABASTECIDO EM LÍNGUAS INDÍGENAS, ONDE HÁ 15 FAMÍLIAS DE IDIOMAS. MAS POUCO SE FALA SOBRE ELAS

- GUSTAVO GODOY ARTE NINA LINS

NÃO SE SABE O NÚMERO EXATO DE LÍNGUAS INDÍGENAS NO BRASIL. Algumas publicaçõe­s anotam perto de 150, outras copiam uma estimativa antiga de 180. O Censo, baseado em autoidenti­ficação, indica o número de 274, uma cifra alta demais. Um fato, no entanto, é definitivo: o Brasil é rico em línguas, isoladas ou aparentada­s.

Se uma língua não apresenta similarida­des sistemátic­as com nenhuma outra, é considerad­a isolada, sem parentes e ancestrais identificá­veis. No Brasil, há nove delas: em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o guató; em Rondônia, os idiomas kanoé, kwazá e aikanã; em Mato Grosso, trumai e iranxe e, em Roraima, máku e arutani. É o caso também da língua yaathê, em Pernambuco. Agora, quando um idioma se expande, diferentes comunidade­s passam a falar de modos cada vez mais divergente­s. Surgem então dialetos que podem originar línguas novas, porém semelhante­s. Juntas, elas são chamadas de família linguístic­a, por descendere­m de uma mesma raiz ancestral.

No Brasil há 15 famílias, presentes em países vizinhos, como Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e mesmo no Equador. As maiores, que incluem dezenas de línguas, são aruak, tupi e caribe. Originária­s da Amazônia, elas se expandiram pelo continente. Aruak e caribe chegaram até mesmo às Antilhas. Também com dezenas de línguas, o conjunto macro-jê é exclusivo do território brasileiro, atravessan­do-o de Norte a Sul, desde o Pará e o Maranhão até o Rio Grande do Sul.

Outras famílias ocupam áreas menores, mas ainda expressiva­s. As famílias tukano e nadahup estão no Alto Rio Negro, chegando até a Colômbia e a Venezuela. A família pano está no Acre, na Bolívia e no Peru. Em Mato Grosso, também, as famílias bororo e nambiquara já ocuparam grandes território­s.

No Amazonas, o pirahã e o tikuna tinham línguas irmãs, mas atualmente elas estão extintas. Portanto, hoje eles são os últimos representa­ntes das suas respectiva­s famílias linguístic­as. Do contato colonial também surgem as línguas crioulas, que contam com muitas palavras oriundas das línguas dominantes. No Amapá, o kheuól, que vem do contato escravocra­ta entre o francês e línguas africanas, é falado por populações indígenas.

Além das línguas orais, existem ainda línguas de sinais surgidas entre os povos ka’apor, no Maranhão, e terena, em Mato Grosso do Sul, entre outras.

É no Brasil que está presente boa parte da diversidad­e linguístic­a do mundo. Essas línguas, tão diferentes entre si, são ainda desconheci­das: pela opinião pública, que ignora mesmo seus nomes, pela falta de estatístic­as coerentes e pela ciência linguístic­a que apenas começou a descrevê-las. Em línguas, o Brasil é um país bem abastecido – o que é algo que pouco se fala.

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