Em Construção
Com superpedido de impeachment e abertura de inquérito por prevaricação, o país em brasas entra em franca reconstrução
EXUBERANTE EM SEU ESTOQUE INFINITO DE TINTA, VERMELHA COMO BRASA, NEGOCIANTES INSCREVERAM NESTE TERRITÓRIO, EM 1505, UMA MARCA: BRASIL. E ESCREVERAM COM SANGUE.
Desde então, o povo da terra Brasil era só, e somente, quem trabalhasse nessa empreitada derrubando e carregando, por toda a mata, o ouro escarlate, a madeira do pau-brasil. Ser brasileiro, para todos que já viviam ou que aportaram aqui, nunca foi uma escolha. O sufixo, que determina atividade e profissão, mantém o país preso e refém de um ciclo infinito de extração. Brasileiros, poderíamos ter sido chamados canavieiros, garimpeiros, seringueiros e madeireiros.
Com o tempo, o território passou por diferentes denominações: Império do Brasil, República dos Estados Unidos do Brasil, República Federativa do Brasil. Enquanto muitos ainda entendiam que o Brasil poderia ser chamado somente de Confederação Brasileira de Futebol, Seleção Brasileira, ou Sul-sudeste. Pois a verdade é que, nas últimas décadas, enquanto democracia federativa, estávamos ainda em construção. Eleito por um sistema que hoje define como facilmente fraudável, miliciano, garimpeiro, exaltador da tortura e da ditadura militar, e responsável pela marca avassaladora de mais de 520 mil brasileiros mortos pela Covid-19, o coiso-presidente coleciona o maior número de pedidos de impeachment já feitos na história e é alvo agora de um superpedido de impedimento, redigido por alas de esquerda, centro e direita, listando os 23 crimes de responsabilidade cometidos por ele. No último dia de fechamento da presente edição, a Procuradoria-geral da República pediu abertura de inquérito contra o makadawalitsa (em Baniwa, pessoa considerada sem valor) por crime de prevaricação no caso da vacina Covaxin, superfaturada em 1.000%. Seríamos outros tivesse o nome deste país Brasil sido escolhido pelos povos que já habitavam e respeitavam o território? Pindoranos ou pindorenses, palmeirianos ou palmeirenses, papagaianos ou papagaienses, hoje vivemos juntos e precisamos lutar também juntos por um projeto de reconstrução. Destruído, arrasado, devastado e enlutado o Brasil já está. Que país os jovens retratados por Victor Moriyama na imagem icônica da manifestação de 19J em uma Paulista quase irreconhecível vão construir depois do fim? Símbolo exuberante da tinta vermelha como brasa, que palavras vão inscrever neste imenso território?