UMA grande trama
A mostra individual Acordelados, no Anexo da Galeria Millan, traz esculturas, desenhos e peças em cerâmica e vidro da artista paranaense Lidia Lisbôa. A curadoria foi assinada por Thiago de paula e souza, parte do trio à frente da Trienal de Artes em sorocaba, que ficou em cartaz até o fim de janeiro. Quando o visitante entra na exposição, as três obras que primeiro vê são as peças de crochê da série Tetas que Deram de Mamar ao Mundo (2021), elaboradas com retalhos de tecidos. Lidia começou a fazer crochê na infância, com as tias, em Guaíra, no extremo oeste do paraná. “Aprendi de olhar”, relembra ela, que consegue com essas tramas gigantes — cada uma tem mais de 3 metros de altura — criar um encantamento. Um deslumbre como aquele no avião, quando passeamos pelas nuvens e temos a impressão de ter a mínima ideia da textura do céu. Quando você deixa de se impressionar com o tamanho das obras, começa a reparar o toque de cada tira ali usada. A paleta norteada por cores claras também é desmembrada e, de repente, seu olhar é atraído por um pedacinho de pano marrom, bem clarinho mas vibrante. Lidia também apresenta peças de cerâmica, parte da série Cupinzeiros, e desenhos, como Memórias de Rendas 4 (2021). “Faço crochê, daí pulo para a cerâmica. Depois, pinto, arrumo a casa e volto para o crochê, não tem uma ordem. É tudo muito natural”, explica a artista, que tem sua fala em sintonia com a do curador: “o que a gente tentou na exposição foi fixar o gesto que norteia a produção artística da Lidia. É a corda, é o ‘acordelar’ diferentes materiais. isso pode ser visto no crochê, mas também está na série Cupinzeiros, em que ela vai sobrepondo cordões de argila. Também é possível notar esse raciocínio na união das miçangas no grande fio do trabalho Cordão Umbilical (2021)”. Anexo Millan. Rua Fradique Coutinho, 1360, Vila Madalena, ☎ 3031-6007. ♿ Seg. a sex., 10h/19h. Sáb., 11h/ 15h. Grátis. Até 19/2. galeriamillan.com.br.