ENOTURISMO EM MENDOZA
Com voos diretos para a mais importante região vinícola da Argentina, ficou mais fácil explorar o imenso potencial turístico e os fantásticos vinhedos andinos
Dicas perfeitas para quem quer conhecer a maravilhosa região argentina
Visitar regiões vinícolas é sempre uma oportunidade única em que podemos ver a união entre a natureza e o homem para produzir um produto especial. Belas paisagens e construções únicas fazem do enoturismo uma experiência fantástica. E Mendoza não é diferente.
Ali, a paisagem é dominada pela cordilheira dos Andes e seus picos nevados. O extenso vale ao longo da cordilheira é ocupado por rios do degelo da neve e pelas pedras provenientes das montanhas. O clima seco com grande luminosidade contribui ao terroir propício ao desenvolvimento do vinho e oferece paisagens lindas ao longo dos vinhedos, hotéis e restaurantes.
Com a chegada dos voos diretos de São Paulo à Mendoza, ficou mais fácil explorar a região vinícola mais importante da Argentina. A infraestrutura turística está bem desenvolvida, com ampla oferta de hotéis e restaurantes na cidade e ao redor dela, nos vinhedos.
Entre as Bodegas do Vale do Uco e a cidade de Mendoza há mais de 120 km. A escolha das visitas e da hospedagem é fundamental em um lugar que conta com mais de 900 bodegas, sendo cerca de 200 visitáveis.
Experimentamos duas opções de estadia, que oferecem experiências bem
diferentes: na cidade e nas regiões vinícolas. As bodegas estão nas regiões de Lujan de Cuyo, Maipú e Vale do Uco.
Mendoza oferece opções de hotéis, com distintas faixas de preços e bons restaurantes, como o 1884, do famoso chef Francis Malmann, o Azafran e o Maria Antonieta.
Boa opção para conhecer a região é o ônibus vitivinícola, que começa percorrendo os melhores hotéis do centro e leva os turistas para conhecer as principais bodegas de Mendoza. Cada dia tem seu trajeto. Nós optamos pela viagem mais longa, até o Vale do Uco. A viagem custa entre 900 e 1.350 pesos (entre 80 e 120 reais) e pode ser feita em meio dia ou inteiro, com cinco opções de trajeto. O valor não inclui as entradas, as degustações nas bodegas e o almoço.
O passeio começa às 8 da manhã com o ônibus no hotel. Fomos primeiro até a bodega Salentein que deve seu nome a um castelo na Holanda, país do seu fundador, Mindert Pon. A bodega subterrânea em forma de cruz se encontra 9 metros abaixo da terra, o que lhe confere o ambiente ideal para o desenvolvimento das mais de 5.000 barricas, com 12° C constantes e umidade de 80%. A acústica do ambiente é perfeita e um piano na sala central é usado esporadicamente para concertos.
O almoço foi na Casa Petrini, jovem Bodega de Tupungato, que lançou seus vinhos em 2017 e conta com excelente pontuação no seu rótulo Roca Volcánica. Além do excelente restaurante, a Casa Petrini oferece também spa e acomodações de frente para a cordilheira.
Terminamos o dia na bodega Andeluna, que tem um restaurante confortável em atmosfera típica.
LUJÁN DE CUYO
No dia seguinte saímos do centro de Mendoza para a região de Luján de Cuyo, onde começou a atividade viní
cola da região. Ficar em hotel fora do centro de Mendoza é uma experiência incrível, que permite desfrutar plenamente da paisagem e das bodegas. As duas principais formas de explorar a região são os populares remises (motoristas privados, que cobram entre 70 e 150 dólares por dia) ou alugar um carro. De automóvel, iniciamos nosso dia com um almoço na Lagarde, de 1897, uma das mais antigas bodegas da região, com vinhas de 1906. É uma das poucas a levar a denominação de origem Luján de Cuyo. Além da paisagem de vinhedos e oliveiras, o ponto alto é o lindo restaurante Fogón, que serve um menu de quatro pratos, harmonizados com seus melhores rótulos. O Chardonnay acompanha o risoto de espinafre e queijo de cabra, e o ícone da Lagarde, o Henry Gran Guarda n° 1, de 2016, acompanhou o filet mignon no azeite de oliva feito ali mesmo. Para a sobremesa, um espumante blanc de noir (Pinot Noir) que só é comercializado ali, na própria Lagarde. O preço do menu é de 2.100 pesos (cerca de 190 reais).
ENTRE CIELOS
Nos hospedamos no Entre Cielos, hotel boutique de arquitetura moderna que começou em 2010 com um spa que foi recentemente considerado o melhor do mundo pela “Luxury Spa Awards” na categoria Luxury Hammam Experience. O Hammam, típico dos banhos turcos, compreende dez salas, etapas do processo de relaxamento, com terapias de esfoliação, massagens com azeite e lama vulcânica. O hotel conta com quartos em containers localizados no interior dos vinhedos e com o icônico quarto
sobre os vinhedos Rosas Blancas (os nomes dos quartos são notas olfativas dos vinhos). O bistrô Katharina oferece boa opção de refeição com uma excelente carta de vinhos.
O dia seguinte começou no Pulenta, vinícola comandada pela 3° geração da família que iniciou a história no mundo do vinho em 1912. A bodega se encontra em Agrelo, Lujan de Cuyo, e merece a visita pelas galerias subterrâneas e pela bela sala de degustação. Interessante é a parceria entre Pulenta e a Porsche, que o adota como vinho oficial da marca. Se não for suficiente, a paisagem dos vinhedos certamente recompensa a ida até lá.
O próximo passo de nossa visita foi outra bodega emblemática, a Achaval Ferrer. A fazenda Bella Vista tem mais de 116 anos e pelos seus caminhos percorremos oliveiras e videiras antigas, de baixo rendimento e alta qualidade. Uma visita interessante para apaixonados por vinho que prezam pela menor intervenção e máxima expressão de seus terroirs.
O almoço desse dia foi um dos pontos altos da viagem. A bodega Suzana Balbo reflete a interessante história de sua proprietária. Conhecida como a “rainha do Torrontés”, Suzana faz também excelentes blends e até um espumante blanc de noir, de Pinot Noir. No restaurante Ousadia, duas opções de menu: o “Argentina, da Cordilheira ao Mar” que prima pela qualidade dos produtos argentinos, dos chipirones austrais ao pato em confit, croqueta e magret, e o Km 0, feito com produtos da região de Mendoza. Optamos pelo segundo menu que impressiona pela técnica e execução, com uma entrada de legumes grelhados, gema curada e quinoa crocante, seguido de um sirloin com alho negro, ervas e aioli de ervas. Para terminar, sorvete de baunilha com doce de leite e
frutos secos, acompanhado de um magnífico Torrontés Late Harvest.
Ao final do dia, experimentamos mais um hotel fantástico da região, o Cavas Wine Lodge. Da prestigiada cadeia Relais & Chateaux, o Cavas impressiona pela qualidade da recepção. As acomodações prezam pela privacidade e conforto, com os vinhedos na varanda de cada quarto. Uma surpresa na nossa chegada: na parte de cima do quarto, uma garrafa de Chardonnay local servido na exata temperatura e acompanhado de queijos e frutas. E a lareira acesa, como se nossa chegada fosse aguardada.
No último dia de visitas fomos até o Vale do Uco conhecer o restaurante Piedra Infinita e a gigante Zuccardi, uma das maiores exportadoras da Argentina. Sebastian, da 3° geração da família, decidiu criar Piedra Infinita em total harmonia com a paisagem. A arquitetura da bodega impressiona, parece sair de um filme de 007, com imensas paredes de concreto e pedra. Ganhou prêmio de 2017 da Best of Wine Tourism, revista que premia inovação e excelência em enoturismo. O melhor da visita, uma imensa pedra no centro da construção cilíndrica que serve de sala de guarda de vinhos e que culmina na grande abóbada vista de fora do prédio.
THE VINES
O The Vines, além de reunir um visual especial e receber muito bem brasileiros, tem um projeto único para apaixonados por vitivinicultura (veja adiante).
O restaurante Siete Fuegos, do célebre chef Francis Malmann, é dos melhores da Argentina, e oferece pratos em que o fogo é o elemento principal. É uma experiência e tanto, mesmo para quem não está no The Vines. O hotel conta com uma bela piscina e jacuzzi para os dias mais frios.
Para terminar a viagem, uma passagem imperdível. Casa Azul é um restaurante com forte identidade local. Simples e generosa, a comida faz lembrar a casa de uma avó argentina. Cadeiras coloridas em um grande gramado verde diante da cordilheira, ao som de música local, nos levam a uma atmosfera sem igual. Abrem generosamente a refeição três entradas: uma lentilha cozida lentamente com carnes, o clássico choripan local e o patrimônio nacional: a empanada feita em forno a lenha. Generosidade também nas garrafas abertas na mesa para os clientes. Como prato principal, a escolha entre o Ojo de Bife e a Bondiola, outro clássico da cozinha de família argentina. Um digno representante da cozinha local. Vale a visita!