Vinho Magazine

CLÁSSICOS FRANCESES

- POR MARIA EDICY MOREIRA

Nenhum povo ama tanto a boa mesa quanto os franceses! Conheça alguns pratos tradiciona­is dessa culinária

Escargots: caracóis na manteiga da Borgonha

Agastronom­ia é uma paixão francesa, e a devocão à boa mesa é parte do modo de vida do povo francês. Cada região da França tem sua culinária própria: a culinária do Noroeste, que usa manteiga, crème fraîche e maçãs; a culinária provençal (do

Sudeste), que prefere azeite, verduras e tomates; a do Sudoeste, que usa gordura de pato, fígado (foie gras), cogumelos (cèpes) e moelas; a culinária do Nordeste, que lembra a cozinha alemã com o uso de banha de porco, salsichas e chucrute.

Além das receitas que ganharam o mundo, existem opções locais como as

do vale do Loire, famosa pelos pratos de peixe de água doce e pelos vinhos brancos; a cozinha basca, onde se usa tomate e pimentão; e a culinária do Roussillon, semelhante à da Catalunha.

Outro detalhe que chama a atenção na culinária francesa são as muitas técnicas de preparação, cocção e apresentaç­ão dos ingredient­es desenvolvi­das pelos chefs de cozinha franceses ao longo dos tempos. Tais técnicas altamente elaboradas permitem preparar talvez os pratos mais belos e saborosos da gastronomi­a mundial fazendo com o ato de cozinhar desenvolvi­do pelos franceses mereça ser chamado literalmen­te de “arte culinária”.

RECEITAS ALÉM DA FRONTEIRA

Em 1954, o casal francês Roger e Fortunée Henry fundou à frente do romântico mercado de flores no Largo Arouche, n centro de São Paulo, o restaurant­e La

Casserole, que hoje é comandado por sua filha Marie-France Henry (desde 1987), atual chef e proprietár­ia do restaurant­e.

Mais recentemen­te ela passou a compartilh­ar a gestão da casa com seu filho Leo.

A fidelidade às técnicas francesas é um dos fatores que garante a qualidade das receitas, a fidelidade dos clientes e

a longevidad­e do La Casserole. Marie conta que muitas vezes, algumas pessoas viajam à França e voltam decepciona­das, dizendo que lá muitos restaurant­es estão

“perdendo qualidade” porque estão aderindo à compra de caldos industrial­izados e comidas pré-prontas.

Para o chef e sócio do Bistrot de Paris,

Alain Poletto, não existe segredo na hora de preparar uma receita clássica francesa.

Só é preciso fazer tudo de forma correta.

Para começar, escolher corretamen­te ingredient­es de qualidade para obter um bom resultado.

Depois é importante cozinhá-los de forma perfeita. “Seria basicament­e o mesmo processo da feijoada para cozinhar o feijão branco para o Cassoulet.

Depois tem alguns truques, por exemplo, aqui no Bistrot de Paris eu coloco uma geleia de cocção de pato que sobra dos cozimentos à vácuo que fazemos em casa. Isso ajuda a dar muito sabor ao feijão, assim como a barriga de porco que fazemos de forma artesanal.

Alain Uzan, chef do Felix Bistrot, explica como prepara o Cassoulet. “O cassoulet é um ‘guisado’ de carnes de pato, porco e linguiças com o feijão branco. É prato da região do Languedoc-Roussillon, que provavelme­nte surgiu durante a guerra dos 100 anos e era feito com os alimentos que restavam na região devido à limitação durante uma guerra.

Alain Uzan, francês que vive no Brasil e trabalha no Felix Bistrot, na Granja

Viana, em Cotia, na Grande São Paulo, diz que os pratos clássicos franceses não trazem uma zona de conforto, pois os imprevisto­s podem ocorrer em qualquer lugar. “As falhas são a possibilid­ade de melhorarmo­s um prato. Muitos pratos surgiram de imprevisto­s e hoje são clássicos. Sempre estamos sujeitos (ainda bem) a correr riscos com algo enquanto cozinhamos”.

A fidelidade às receitas clássicas francesas, segundo Marie, acabou diversific­ando o público do La Casserole que busca no restaurant­e os pratos clássicos franceses. “A cozinha francesa acabou

tendo uma repercussã­o internacio­nal por várias razões durante muitas décadas e os clássicos franceses se tornaram os queridinho­s de muita gente”, afirma.

No Bistrot de Paris, do qual o chef francês, Alain Poletto, é sócio e assina o menu com pratos clássicos franceses, como Cassoulet, Entrecôte au poivre,

Magret de pato aux fruits rouges, Steak tartare e Crevettes à la provençale, entre outros, também não há um público especifico. Segundo Poletto, basta apreciar a gastronomi­a francesa.

“É nossa tradição, nossa cultura e fazemos questão de respeitar as origens de nossas receitas e, qualquer receita clássica e bem-feita vira motivo de festa. Nossos avós e mães fazem para que a gente não perca essas tradições com esses pratos típicos”, afirma Poletto.

O Felix Bistrot tem em seu menu pratos franceses clássicos e modernos.

Com alguma adaptação dos alimentos típicos das culinárias: brasileira e italiana.

Sempre priorizand­o o método francês de execução. Segundo Uzan, essa composição gastronômi­ca atrai quem tem referência­s sobre a culinária francesa.

Apesar das adaptações de ingredient­es e das receitas francesas modernas ofertadas pelo Felix Bistrot, Alain Uzan diz que é muito importante manter o conceito da casa: que é a comida sentimenta­l de memória afetiva da família.

“Para lembrarmos dos sabores que os nossos pais e avós cozinhavam”.

RECEITAS CLÁSSICAS FRANCESAS

Bouillabai­sse: Surgiu em Marselha (França). Sua principal caracterís­tica é o modo de servir o peixe separado da sopa.

Trata-se, na verdade, de dois pratos: uma sopa, em que se serve o caldo sobre fatias duras de pão; e um prato de peixe com vegetais.

A história popular sobre a origem dessa sopa sugere que Vênus, Deusa da beleza, serviu Bouillabai­sse a seu marido, Vulcano, para que ele dormisse enquanto ela teria um encontro amoroso com Marte. Escritores gregos argumen

tam que, por volta do ano 600 a.C., os fundadores de Marselha levaram consigo da Grécia a receita de uma sopa de peixe conhecida como Kakavia, que serviu de base para a futura Bouillabai­sse. Outros textos medievais citam cozidos de peixe em água e/ou azeite e vinho; porém, até hoje, não se conseguiu apurar com precisão a origem da atual Bouillabai­sse.

Outra versão sugere que a Bouillabai­sse nasceu entre os pescadores, ao redor do velho porto (Vieux Port). Após separar os peixes para vender, faziam uma sopa para a família com os que sobravam.

Com o tempo, o prato foi sendo aperfeiçoa­do. Hoje, os marselhese­s o degustam assim: primeiro, só o caldo do peixe com roille (um molho picante à base de maionese, pimenta malagueta e alho); depois, os pedaços desossados dos vários peixes, mergulhado­s num pouco do caldo.

A mais diferencia­da caracterís­tica, no entanto, não é o peixe, porque sopas e cozidos possuem peixes, mas o aroma e o sabor original derivado da combinação de ingredient­es que transforma­m a Bouillabai­sse de Marselha em algo especial.

A origem da palavra Bouillabai­sse teria vindo dos abades do convento de Marselha bouillon abaissé e quer dizer “reduzir por evaporação”.

Blanquette de veau: É um cozido de carne magra de vitelo (na maioria das vezes a paleta) com cenouras, cebolas, champignon (e às vezes aipo) para formar o caldo. A palavra “blanquette” dada ao prato se deve à cor branca do molho do guisado) e da vitela). Há relatos de que o prato teve origem no final do século 17, muito provavelme­nte na região da Provence.

Steak au poivre: Consiste em bifes altos de filé mignon cobertos com molho de pimenta do reino cortada com a faca ou amassada grosseiram­ente. Os steaks são fritos em fogo alto para que a carne fique com uma crosta por fora e mal passada por dentro. O steak au poivre tem origem no século 19 nos bistrôs da Normandia.

Conta-se que os figurões da época levavam suas companheir­as para jantares tardios, acreditand­o que o poder afrodisíac­o do prato apimentado entrasse em ação

Cassoulet: É uma receita de origem francesa da região de Languedoc-Roussillon, em especial das cidades de Carcassonn­e,

Castelnaud­ary e Toulouse. Tem diversas versões, mas a receita é feita basicament­e com feijão branco seco e carnes, principalm­ente o confit d’oie (confit de ganso), confit de canard (confit de pato), salsi

chas, linguiça, carne de porco e até carne de perdiz ou cordeiro.Põe-se o feijão de molho algumas horas antes levar ao fogo baixo em caçarola de barro, daí a origem do nome Cassoulet.

Conta-se que houve uma invasão dos ingleses durante a Guerra de 100 anos e, para manter a forma dos soldados franceses, que estavam famintos, os habitantes de um vilarejo na região de Toulouse ofereceram o que tinham em suas casas: porco, pato e feijão.

Coq au vin: Trata-se duma preparação com vinho tinto. Esse clássico da culinária francesa surgiu nas imediações da cidade de Clermond-Ferrand, na região rural da Auvergne.

Segundo a lenda, durante a batalha entre os homens de Vercingeto­rix, chefe dos celtas, e o exército romano de Júlio

César, entre 58 e 51 a.C., o herói gaulês acabou sendo acuado no desfiladei­ro de

Puy-de-Dôme. Para simbolizar sua rendição, Vercingeto­rix enviou um galo de briga a César, como um convite para jantarem juntos. O galo foi servido cozido em um vinho local. Tradiciona­lmente, o prato era preparado com galos reprodutor­es, velhos, quando não cumpriam mais sua função.

Sopa de cebola gratinada: A sopa de cebola é feita fritando em manteiga rodelas muito finas de cebola até ficarem castanhas e reduzirem o volume. Em seguida, junta-se água ou caldo e farinha de trigo junto com a cebola e cozinha até fomar uma base cremosa. Depois de pronta, a sopa é colocada na sopeira, distribuin­do queijo e pão torrado na superfície. Posteriorm­ente cobre-se com massa folhada e leva-se ao forno para gratinar.

Escargot à la bourguigno­nne: é a receita mais conhecida, feita com caracois da Borgonha, região francesa que tem também os melhores vinhos, manteiga, alho e salsinha.

Crème brûlée: É uma sobremesa feita com creme de leite, ovos, açúcar e baunilha, com uma crosta de açúcar queimado por um maçarico.

Profiterol­es: Sobremesa feita com massa leve (choux ou carolina). Recheada com com cremes, sorvetes e caldas. O doce é popular na França, onde foi considerad­o uma iguaria real no século 16. A sobremensa foi criada por um chef italiano para atender a um pedido de Catarina de

Médicis, soberana da França.

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 ??  ?? Coq au vin: galo cozido no vinho tinto
Coq au vin: galo cozido no vinho tinto
 ??  ?? Sopa de cebola coberta com massa folhada
Sopa de cebola coberta com massa folhada
 ??  ?? Bouillabas­se: a sopa de peixe de Marselha
Bouillabas­se: a sopa de peixe de Marselha
 ??  ?? Steak au poivre: filé alto e pimenta fresca
Steak au poivre: filé alto e pimenta fresca
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Profiterol­es: massa leve recheada com creme

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