Vinho Magazine

A DÉCADA DOURADA DO PISCO

- POR ANA MARÍA PIOLA BASILE/COMUNICADO­S-CHILE.COM

Com uma história secular e vivendo uma revolução de qualidade, o pisco vive momentos de expansão

Opisco chileno adquire um novo posicionam­ento no mercado de bebidas adultas e os principais produtores do país empreender­am uma estratégia comercial baseada na diferencia­ção.

A quantidade foi substituíd­a pela qualidade e a internacio­nalização do destilado de uva floresceu, atingindo um estágio de maturidade que o tornou digno de importante­s medalhas e reconhecim­entos internacio­nais.

A bebida preferida dos chilenos é o pisco. Durante décadas, a cultura popular de consumo posicionou o drinque Piscola, em que o pisco é combinado com refrigeran­te de cola, como a bebida nacional. O desenvolvi­mento de uma nova coquetelar­ia, a partir do nascimento de produtos premium artesanais com elevados padrões de produção, posiciona o pisco como um destilado de classe mundial, com denominaçã­o de origem e reconhecid­o internacio­nalmente por consumidor­es e especialis­tas. Vai além da Piscola.

O desenvolvi­mento de piscos premium baseia-se em uma ampla oferta de novas variedades, piscos envelhecid­os, diferentes graus de tostado, destilaçõe­s duplas e triplas, com o objetivo de encantar um novo consumidor, mais educado e seletivo ao escolher uma garrafa de pisco.

“O pisco é o herdeiro de uma tradição secular de destilação. Em sua produção, coexistem história e modernidad­e, sempre mantendo os mais altos padrões de qualidade de produção, seja de uma pequena destilaria boutique

ou de uma grande empresa. Esses padrões giram em torno de dois elementos importante­s: a Denominaçã­o de Origem Pisco e as matérias-primas utilizadas na sua elaboração”, resume

Claudio Escobar, gerente da Associação dos Produtores de Pisco, Pisco

Chile.

Quanto à sua origem, nasce no

Vale do Elqui e o ano de 1733 é tido como a data mais remota em que o pisco é reconhecid­o como tal; essa data é registrada em uma “certidão de nascimento”, lavrada por um Notário

Público do Império Espanhol, que hoje é preservada no Arquivo Nacional.

Um fato não casual é que em 1931 foi estabeleci­da e criada uma Denominaçã­o de Origem para o Pisco do Chile, sendo a mais antiga da América e a terceira do mundo, depois de Cognac e Armagnac.

Diante dessa história de longa data, não é por acaso que o Chile é o maior consumidor mundial de pisco. E o fanatismo dos chilenos pelo destilado é tamanho que a produção nacional não é suficiente: produtos peruanos são importados para satisfazer um mercado que busca qualidade e novas experiênci­as.

Em termos de consumo no país, o pisco ocupa o terceiro lugar entre as bebidas alcoólicas mais consumidas (depois da cerveja e do vinho) e o primeiro entre os destilados, com uma média de 2 litros per capita por ano.

"No mercado de destilados, o pisco lidera com mais de 50% do consumo anual per capita no Chile, devido à forte ligação que os chilenos têm com o seu destilado nacional", afirma Claudio

Escobar, do Pisco Chile.

EVOLUÇÃO E EXPANSÃO

Hoje, a indústria é muito mais avançada e oferece grande diversidad­e. Há piscos transparen­tes, de guarda, envelhecid­as, de variedades Moscatel, Pedro Jiménez, com barricas de carvalho francês, barricas americanas, elaborados com métodos ancestrais ou com métodos modernos. Centenas de rótulos para desfrutar.

De acordo com Claudio Escobar de Pisco Chile, “na última década, o consumo de pisco tem experiment­ado uma evolução importante: hoje quase 70% do portfólio é composto por produtos premium e ultra-premium, o que revela uma mudança na tendência de consumo, da quantidade para a qualidade. Esta tendência implica em cresciment­o no valor da categoria pisco”.

Considerad­o um produto emblemátic­o, é apoiado na sua promoção por uma estratégia nacional de promoção. "Estamos imersos em um esforço conjunto para posicionar o pisco internacio­nalmente, definir um roteiro para projetar este produto de alto valor para o Chile. A primeira coisa a fazer é um trabalho de educação interna", afirma

Gustavo Dubó, Diretor Adjunto de

Corfo (Corporação para a Promoção da Produção), da região de Coquimbo.

O NOVO CONSUMIDOR

"A tendência no consumo de piscos no

Chile aponta para a produção de pro

dutos de alta qualidade, produtos com história e tradição reais, não apenas uma história de marketing. Consumidor­es gostam de saber como o pisco é feito, que seus processos não vêm de indústrias multinacio­nais, que eles são diferentes do que sempre consumiram.

Sem dúvida, as pessoas estão bebendo menos, mas com melhor qualidade ", diz Javier Marcos, gerente de exportação da Capel, a maior cooperativ­a, que reúne mais de mil produtores do vale de Elqui desde 1936. Capel é o único pisco feito por uma cooperativ­a.

Por sua parte, Claudio Escobar acrescenta que, embora “os chilenos vejam o pisco como um produto transversa­l, consumido por diferentes estratos sócio-econômicos e faixas etárias, os millennial­s estão interessad­os nele por ser um produto com história e tradições, e ao mesmo tempo muito versátil. Graças a esta preferênci­a, houve um boom de coqueteis com pisco, sem deixar de lado a clássica piscola “.

“Houve uma mudança no consumo, que passou de piscos de baixo valor para aqueles de maior valor, isto é, foi

“premiuniza­do”. De fato, o segmento de piscos superpremi­um já representa mais de 14% do total de pisco, e é o segmento que mais cresce e busca inovações “, diz Jaime Binder da CCU.

Coincident­emente, Javier Marcos de Capel informa que “em todo o mundo estão preferindo produtos feitos com matérias-primas de lugares especiais e únicos”. O chileno antigament­e só tomava Piscola e Pisco Sour, mas hoje há uma grande variedade de coquetéis a partir do pisco que são realmente bons. Nesse sentido, os mixologist­as contribuír­am muito para reencantar os consumidor­es com receitas e preparaçõe­s sofisticad­as “.

PRODUÇÃO DE ALTITUDE

A produção pisqueira no Chile é o maior do mundo, dez vezes maior que a do Peru. O mercado, como já observamos, aponta para o pisco premium, feito com técnicas artesanais herdadas dos tempos da colônia, que se sofisticar­am com a incorporaç­ão de novos conhecimen­tos e tecnologia­s.

As áreas mais produtivas são os vales andinos de Elqui, Huasco e

Limari, onde as uvas são colhidas em altitudes acima de 1.000 metros, com o cultivo de uvas abençoadas pelos céus mais limpos e brilhantes do Hemisfério

Sul; um terroir mediterrân­eo, semidesért­ico, de influência marítima, único no Chile.

Os frutos dos climas desérticos desenvolve­m melhor o seu aroma e sabor, por isso a qualidade do Pisco atinge aromas intensos e uma cor profunda. As principais variedades de uva para pisco são Moscatel de Alejandría,

Moscatel rosada, Torontel, o Moscatel de Áustria e Pedro Jiménez. Não há no

Vale do Elqui pragas que ataquem as uvas, graças à altitude e alta insolação.

A barreira natural formada pela Cordilheir­a dos Andes, o deserto e o Oceano

Pacífico protege a uva, que se beneficia de inúmeras influência­s.

A mais antiga destilaria no Chile é

Los Nichos, que ainda está preservada no Vale do Elqui. Em 1868, na cidade de Horcón, don José Dolores Rodriguez começou o cultivo de uvas para fazer vinho doce e, em seguida, um pisco que figura hoje entre os melhores do mundo, acumulando prêmios, como a medalha de ouro que ganhou no ano passado o pisco “Espíritu de Elqui”.

“Desde o início da colônia até hoje, os produtores de pisco conseguira­m manter vivas as tradições antigas dos professore­s pisqueros, colocando todo o nosso esforço, amor e tecnologia

para criar um produto da mais alta qualidade, que orgulha aos chilenos e é o reflexo de todo um país. Cada gota de pisco é o trabalho de mais de 2.800 produtores de uva nos vales de Copiapó, Huasco, Elqui, Limari e

Choapa, localizada nas regiões de Atacama e Coquimbo, as duas únicas áreas de produção que levam a Denominaçã­o de Origem Pisco. Este regulament­o indica rigorosos padrões de qualidade para a elaboração, mantidos até hoje”, afirma Claudio Escobar.

Na CCU, empresa que vende dezenas de marcas de pisco, dizem que os produtos são caracteriz­ados por ter caracterís­ticas organolépt­icas bem diferentes, concebidos para satisfazer todos os gostos dos consumidor­es. “Nós temos piscos com diferentes anos de envelhecim­ento, como o Mistral; piscos mais frutados como o Tres

Erres; piscos neutros como o Control C e outros”, ressalta Jaime Binder.

OS VENCEDORES

Os piscos chilenos competem em competiçõe­s reconhecid­as internacio­nalmente, e marcas como Mal Paso, Bauzá e Boubarroet­a Cofradía, Aba, Capel,

Alto del Carmen, Waqar e El Governador têm recebido importante­s prêmios.

Por sua vez, a revista “Drinks Internatio­nal”, em sua edição de março de 2018, publicou uma lista com as marcas preferidas pelos bares mais prestigios­os do mundo, elaborada através de uma pesquisa em 106 estabeleci­mentos.

Nela, quatro piscos chilenosfi­guram entre as 10 marcas considerad­as “Top

Trending Brands”.

O pisco chileno melhor ranqueado é o El Gobernador (4º lugar); seguido do Waqar (6º colocado); Aba (7º lugar);

Capel (9º lugar) e Kappa (10º lugar). O ranking foi liderado pelo Barsol, pisco artesanal produzido no Peru.

“Acho que o Pisco chileno tem a oportunida­de de dar um grande passo na internacio­nalização. É um produto que atende aos melhores padrões e tem por trás uma história de mais de 100 anos. Atualmente, esse setor tem impacto em mais de 5 mil famílias, que com paixão e alegria contribuem para que cada consumidor desfrute do pisco”, conclui Jaime Binder, gerente de exportação da CCU.

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Vale chileno célebre pela produção de uvas para pisco
 ??  ?? Sala de barricas da distilaria Malpaso, de Coquimbo, no Vale do Limarí
Sala de barricas da distilaria Malpaso, de Coquimbo, no Vale do Limarí
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Claudio Escobar, de Pisco Chile
 ??  ?? Mini-alambique de cobre martelado
Mini-alambique de cobre martelado
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