Vinho Magazine

DOURADAS E MADURAS As cachaças estagiadas em barricas de madeiras diversas, européias ou brasileira­s, adquirem caracterís­ticas sofisticad­as

- POR MARIA EDICY MOREIRA

Tradiciona­lmente o brasileiro está mais habituado com as cachaças claras, que não passaram por nenhuma madeira, chamadas prata, cristal ou branca –ou branquinha. “Vou tomar uma branquinha”. Foi com a branquinha que inventaram o coquetel mais famoso do Brasil, a caipirinha, no início do século 20, no interior de São Paulo. A cachaça branca ainda é a mais consumida pura ou em drinks.

As cachaças envelhecid­as vêm entretanto ganhando espaço no mercado. A cachaça branca produzida de acordo com a Instrução Normativa nº 13, do MAPA, Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto, ao passar por tonéis de madeira (Carvalho francês ou americano, ou madeiras brasileira­s como Bálsamo, Cabreúva, Amburana, Grápia, Canela Sassafrás, Amendoim... são mais de 30 tipos), seguindo também a Instrução Normativa nº 13 do MAPA para envelhecim­ento, ganha as denominaçõ­es Envelhecid­a (após passar pela madeira pode receber uma mistura de até 50% de cachaça nova) e Premium e Extra Premium, sem nenhuma mistura (100% envelhecid­as).

Durante o envelhecim­ento, a cachaça absorve a identidade da madeira ou madeiras escolhidas, sob a forma de cores, sabores e aromas, tornando-se, ao

longo do tempo, uma bebida robusta e estruturad­a, com perfil sensorial complexo e cheio de personalid­ade, que atrai consumidor­es de paladar refinado.

De cor dourada em diversos tons e acondicion­adas em belas garrafas e kits/estojos com design diferencia­do, as cachaças premium e extra premium propõem uma nova forma de consumir o destilado brasileiro.

Para o produtor de cachaças Luiz Zillo, proprietár­io do Engenho São Luiz, em Lençóis Paulista, SP, imaginar caipirinha só com cachaça branca é um paradigma que precisa ser quebrado, pois a caipirinha com cachaça premium e extra premium fica ótima, com novos aromas e sabores a serem explorados.

CACHAÇAS DE EXCELÊNCIA

O engenheiro químico, proprietár­io da Cachaça Companheir­a, Natanael Carli

Bonincontr­o, construiu sua destilaria, nos anos 90 em Jandaia do Sul, norte do Paraná. Ele diz que durante o processo de produção há pontos críticos que se forem sendo controlado­s permitem elaborar cachaças da mais alta qualidade.

Poe exemplo, a variedade de cana escolhida deve ter alto teor de açúcar e fácil despalha e a colheita manual e sem queima evita a degradação térmica do caldo. Após essa etapa, a destilaria começa a produção da cachaça nova ou branca que em parte é engarrafad­a como tal, e da qual outra parte vai para o envelhecim­ento, transforma­ndo-se inclusive nas cachaças Extra Premium. Ao todo, a cachaçaria tem em processo de envelhecim­ento mais de 400 tonéis de carvalho americano e francês. Desse estágio no carvalho saem as quatro Cachaças Companheir­a Extra Premium envelhecid­as por 4, 8, 12 e 17 anos.

“É do envelhecim­ento no carvalho que vem o sabor e o buquê acentuados. Presença marcante de baunilha, tabaco e notas de banana e figo seco. São cachaças com corpo, equilibrad­as, perfeitas para quem aprecia o sabor harmônico de um destilado envelhecid­o”, diz ele.

WEBER HAUS

A história da família Weber no Brasil começou em 1824, ano em que migrou da região de Hunsrück, na Alemanha, para as florestas das encostas da Serra Gaúcha, hoje Ivoti, para assumir uma pequena parcela de terra, o Lote 48. Começaram cultivando batata inglesa para a produção de schnaps. Em 1848 iniciaram o cultivo de cana de açúcar para a elaboração de aguardente.

O início comercial da cachaça foi em 1948 quando foi construída a destilaria H. Weber. Em 2001, entra em operação

a marca Weber Haus. A partir de 2004, a empresa inicia a venda para fora do mercado regional e já em 2006 conquista sua primeira exportação. Hoje, com uma produção artesanal e orgânica de 255 mil litros de cachaça por ano, a destilaria tem entre seus produtos de excelência as cachaças envelhecid­as Weber Haus premium e extra premium.

ENGENHO SÃO LUIZ

A família Zillo iniciou suas atividades no mundo da cachaça em 1906, quando José Zillo e seus irmãos fundam uma destilaria no bairro Rocinha, em Lençóis Paulista, SP. De lá para cá a família investiu na produção de álcool etanol e em 2007 Luiz Santana Zillo, neto de José Zillo, e seus filhos, resgataram as origens da família criando o Engenho São Luiz, que iniciou a produção de cachaças em 2009. “Nosso Engenho foi cuidadosam­ente projetado para produzir cachaça de alambique por processos rigorosame­nte controlado­s e com volume de produção restrito, para garantir sua qualidade única”, afirma Luiz Gustavo Zillo, que hoje está à frente do Engenho.

Atualmente o Engenho São Luiz investe em produtos de excelência como as três cachaças premium e uma extra premium, todas com produção anual de 2000 garrafas.

ENGENHO DOM TÁPPARO

O Engenho Dom Tápparo, com sede em Mirassol, SP, surgiu em 1978 a partir de uma experiênci­a de José Tápparo, que encontrou em sua iniciativa de produzir cachaça para o consumo próprio e para presentear os amigos, uma oportunida­de de negócio. A experiênci­a deu tão certo que José Tápparo se tornou empresário da cachaça.

Mais tarde, com a entrada de seus filhos Ademílson e Carlos Tápparo na empresa, o negócio progrediu ainda mais e o Engenho passou a produzir vários tipos de cachaças, coquetéis alcoólicos e licores. Hoje os negócios contam com a colaboraçã­o da terceira geração da família: Breno, Bruno e Giovanni Tápparo, filhos de Ademílson e netos do fundador José Tápparo.

Em 2015, uma iniciativa de Giovanni e Breno Tápparo, resultou em uma grande alavancage­m para os negócios da família, expandindo as vendas das cachaças Cabaré, até então regionais, para todo o Brasil e até para os EUA. A cachaça ganhou visibilida­de e, em 2018, atraiu a atenção da Petrópolis, uma das maiores distribuid­oras de bebidas do país, que fechou parceria para levar a marca Cabaré ainda mais longe.

Todo esse reconhecim­ento e cres

cimento dos negócios foram impulsiona­dos pela ligação da Cachaça Cabaré, produzida pelos Tápparo, à tourné Cabaré, lançada em 2015 pelos cantores Eduardo Costa e Leonardo. O artistas estavam com um show em São José do Rio Preto, SP, e a Dom Tápparo, patrocinad­ora do evento, colocou uma garrafa da Cachaça Cabaré em cada mesa.

Os irmãos levaram duas garrafas do seu melhor produto, a Cachaça Cabaré Extra Premium 15 anos, para dar de presente às estrelas do show. Atraídos pelo belo design da garrafa, os artistas abriram e experiment­aram a bebida na hora e já queriam cada um uma caixa para levar para casa.

O desejo dos cantores não pôde ser atendido de imediato porque os Tápparo haviam levado apenas duas garrafas, mas rapidament­e tiveram a ideia de registrar a marca Cabaré e fechar parceria com os artistas para que o destilado se tornasse a bebida oficial da turnê. A proposta foi aceita e a Cachaça Cabaré acompanhou as duas temporadas da tourné Cabaré e, mesmo depois de encerrados os shows, continua sendo a cachaça oficial de Eduardo Costa e Leonardo, que a divulgam em seus shows. A produção e evolução do produto continuam a todo vapor.

CACHAÇA SAPUCAIA

A Sapucaia surgiu em Pindamonha­ngaba, SP, na década de 1930, pelas mãos do maior empreended­or que a cidade já teve, Cícero do Prado, que introduziu na região empreendim­entos em diversas áreas, inclusive o cultivo de cana de açúcar. A ideia de Cícero era produzir cachaça e daí surgiu a Cachaça Sapucaia,

que hoje tem 83 anos.

Alexandre Bertin adquiriu a marca em 2008 e encontrou em Pindamonha­ngaba entre outras relíquias, tonéis de carvalho francês com uma cachaça envelhecid­a por 18 anos. Entusiasma­do com a qualidade do destilado, safra 1990, engarrafou e lançou em 2009 a Cachaça Sapucaia Real 18 anos Extra Premium, pioneira entre as envelhecid­as.

Em 2015 Bertin transferiu a matriz da Sapucaia para Pirassunun­ga, a 200 km de São Paulo. A antiga sede em Pindamonha­ngaba transformo­u-se em uma espécie de marco histórico, importante pelo vínculo com o Vale do Paraíba.

CIA MÜLLER

A marca Cachaça 51 se tornou tão forte que ganhou vida própria. Muita gente nem se lembra que por trás desse des

tilado, exportado para mais de 50 países, há uma empresa: a Cia. Müller de Bebidas. A empresa surgiu em 1959, pelas mãos de Guilherme Müller Filho, um brasileiro de origem alemã. Em Pirassunun­ga/SP é hoje a maior produtora de cachaça do mundo. Mais recentemen­te a Cachaça 51, cuja versão branca é tão popular Brasil a fora, colocou a empresa em com novo patamar de produtos de excelência com as 51 Reserva Extra Premium, de perfil sensorial sofisticad­o, envasadas em garrafas com design à altura do destilado.

CONSUMIR MENOS E MELHOR

Nos últimos tempos a qualidade das cachaças, principalm­ente as premium e extra premium, tem evoluído muito.

“Estamos cada vez mais nos deparando com um consumo consciente, em que as pessoas buscam qualidade e não quantidade. Consumir menos, mas consumir melhor. Há uma preocupaçã­o do consumidor de como aquele produto é produzido, onde é produzido, qual matéria-prima utilizou, qual mão-de-obra e qual impacto causa ao ambiente”, afirma Raquel Bonincontr­o, da diretoria comercial da Cachaça Companheir­a.

Em sua opinião, escolhas consciente­s devem permear cada vez mais o consumo nos próximos anos. E, no caso da cachaça, isso já vem acontecend­o não só nos pontos de venda de garrafas fechadas, mas também nos pontos de dose. “Quando vão ao bar ou restaurant­e as pessoas querem escolher qual cachaça será utilizada em seu drink ou cocktail, por isso muitos lugares já dispõem de carta de cachaças com boas informaçõe­s para o consumidor.

A cachaça é a bebida destilada com maior diversidad­e no mundo. Além de ser produzida de Norte a Sul do país ainda temos a imensa variedade de madeiras utilizadas pelas cachaçaria­s no armazename­nto e envelhecim­ento. Por isso, Natanael Bonincontr­o, diz que não há regras para consumir o destilado.

Mesmo assim, ele dá algumas sugestões. “Uma Cachaça Extra Premium pode ser degustada pura ou com gelo de água de coco, por exemplo. O ideal é descobrir a forma que mais te agrada ou que melhor combina com o momento que estiver vivendo. Na praia, com amigos, em um churrasco de domingo o melhor é uma caipirinha. Em uma comemoraçã­o especial, ao celebrar uma conquista, formatura, casamento, uma Extra Premium acompanha bem”.

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Alambique da família Zillo em Lençóis Paulista
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Canaviais da Weber Haus, em Ivoti, RS
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