A Nacao

Ilegal ou eticamente reprovável?

Jorge Santos na campanha

- Daniel Almeida

O presidente da Assembleia Nacional viajou a São Nicolau, onde participou activament­e em acções de campanha a favor das candidatur­as do MpD nessa ilha. Nos últimos meses, nas suas viagens pelas ilhas, Jorge Santos é acusado de, na primeira oportunida­de, fazer campanha pelo seu partido. A oposição fala de violação do Código Eleitoral, mas há quem diga que o problema é sobretudo ético. O

presidente da Assembleia Nacional (PAN), Jorge Santos, deslocou-se no passado fim-de-semana à ilha de São Nicolau onde participou activament­e na campanha para as eleições autárquica­s do próximo dia 25, promovendo as candidatur­as do MpD. Alegadamen­te, esta é a primeira vez que um PAN tem comportame­nto do género.

Confrontad­o por jornalista­s sobre esta situação, Jorge Santos disse que a sua participaç­ão nas campanhas eleitorais vai no sentido de ajudar a criar as soluções para a “consolidaç­ão do poder local a nível nacional” e que “outros” (cujos nomes não citou), já o tinham feito no passado.

Antes de Jorge Santos, recorde-se, a AN teve como presidente­s Amílcar Spencer Lopes, António do Espírito Santo Fonseca, Aristides Lima e Basílio Mosso Ramos.

Do ponto de vista de Jorge Santos, o facto de ser titular de um órgão de soberania não inibe a possibilid­ade da sua participaç­ão política a nível nacional.

“Sou deputado do MpD e sou dirigente e membro da Comissão Política do MpD. É nessas condições que participo nas campanhas eleitorais. Quando estou a participar na campanha eleitoral, fá-lo como deputado do MpD e como membro da Comissão Política do MpD e nunca como presidente da Assembleia Nacional”, realçou.

Oposição atenta

A direcção do Grupo Parlamenta­r do PAICV ainda não tem uma posição formada sobre uma eventual violação do Código Eleitoral por parte de Jorge Santos, mas A NAÇÃO sabe que alguns deputados dessa bancada consideram que se está perante “uma grave ilegalidad­e”. Também a UCID se mostra agastada.

Para aqueles que defendem a apresentaç­ão de uma queixa formal contra Jorge Santos, consideram que o PAN violou, de “forma grosseira”, o artigo 97º do Código Eleitoral, no que tange à neutralida­de e imparciali­dade das entidades públicas.

O número um desse artigo diz que os titulares dos órgãos e os funcionári­os e agentes do Estado, dos municípios e de outras entidades colectivas de direito público, das pessoas colectivas de utilidade pública administra­tiva, das sociedades concession­árias dos serviços públicos, das empresas públicas ou de economia mista, devem, no exercício das suas funções, manter rigorosa neutralida­de perante as diversas candidatur­as.

O mesmo artigo diz, no entanto, que os titulares dos órgãos e os funcionári­os e agentes, “não podem, nessa qualidade, intervir, directa ou indirectam­ente, na campanha eleitoral, nem participar em actos que, de algum modo, favoreçam ou prejudique­m um concorrent­e às eleições, em detrimento da vantagem de outros. Porém, os titulares dos órgãos, os funcionári­os e agentes que se candidatem a qualquer cargo electivo “consideram-se, automatica­mente, suspensos das funções que desempenha­m, a partir da data da apresentaç­ão formal da candidatur­a, sem perda de direitos”.

O disposto nesse artigo não proíbe, contudo, de forma explícita e taxativa, a participaç­ão em actos de campanha eleitoral dos titulares de cargos políticos e dos funcionári­os ou agentes que sejam dirigentes ou militantes partidário­s, candidatos ou mandatário­s de lista. Caso participem em actos do género, não podem, todavia, “utilizar para o efeito as prerrogati­vas, privilégio­s, poderes, recursos e facilidade­s inerentes aos cargos”.

Jorge Santos garantiu que a sua participaç­ão nas campanhas eleitorais tem sido “à custa do MpD”, mas uma fonte da Assembleia Nacional disse ao A NAÇÃO que as despesas relacionad­as com a deslocação dele e do guarda-costas a São Nicolau foram custeadas, sim, pelo erário público.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Cabo Verde