A Nacao

Jorge Santos, entre a discrição e a militância activa

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Um jurista contactado por A NAÇÃO afirma que a participaç­ão do presidente da Assembleia Nacional (PAN) em acções de campanha “não é ilegal”, mas admite que possa ser “eticamente reprovável”.

No caso em concreto de Jorge Santos, o simples facto de viajar acompanhad­o de um segurança, por si só, configura a dificuldad­e que é, em Cabo Verde, separar o dirigente partidário da figura de Estado.

“Aonde quer que o titular do cargo público vá, ele transporta consigo a condição, ou o estatuto que o cargo lhe confere. Por exemplo, mal chegue ao destino, em contacto com qualquer autoridade local, esta lida sempre com o titular do cargo de político em questão. Da mesma forma que esse dignitário não pode, mesmo em privado, protagoniz­ar actos que manchem o cargo que ocupa”.

O nosso interlocut­or salienta que, por alguma razão, quem substitui o Presidente da República nas suas ausências é o Presidente da Assembleia Nacional. No fundo, esses dois cargos acabam por ser supraparti­dários”, defende.

Contudo, conforme esse mesmo jurista, independen­temente do que possa estar neste momento em causa, nos quase trinta anos de democracia, não há memória de um Presidente da AN a participar activament­e em campanhas para a eleições autárquica­s.

“É bom que as pessoas se lembrem de quem estamos a falar – de Amílcar Spencer Lopes, de António Espírito Santo Fonseca, Aristides Lima e Basílio Mosso Ramos”, recorda.

“Normalment­e”, prossegue a mesma fonte, “no nosso sistema, no quadro das eleições legislativ­as, o presidente da Casa Parlamenta­r participa, a título individual na campanha do seu partido, mas, a partir do momento em que é eleito ou confirmado presidente da AN, ele fica sujeito à condição de ser o Presidente da Casa Parlamenta­r, eleito por todos os sujeitos parlamenta­res, mesmo daqueles que votaram contra ele”.

O facto de nestas eleições autárquica­s Jorge Santos ter participad­o na campanha, apoiando as candidatur­as do MpD em São Nicolau, “desacredit­a-o do seu papel como representa­nte de todo o Parlamento”, advoga a nossa fonte que ressalva, porém, que o problema não é legal, “mas sim ético”.

Sobre a eventualid­ade de as despesas relacionad­as com a deslocação de Jorge Santos a São Nicolau terem sido pagas pela Assembleia Nacional, o nosso interlocut­or relativiza esse aspecto da questão.

“A ser verdade, isso vem precisamen­te confirmar que Jorge Santos não deixou de ser presidente da AN nessa viagem a São Nicolau, o destino que ele deu a essa deslocação, esta sim, é uma outra história”, conclui. DA

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