A Nacao

Máquinas de campanha ignoram COVID-19. Autoridade­s sanitárias (quase que) clamam no deserto

- Alex Semedo

1 - Atentado

Prossegue a caça aos votos para as oitavas Autárquica­s cabo-verdianas, que acontecem a 25 de Outubro. As máquinas de Campanha já estão na Estrada desde às zero horas do dia 8. E prosseguem nesta saga até 23.

Dia 24 é dia reflexão e de meditação. Para a escolha de domingo, dia 25.

Infelizmen­te, malgrado os clamores, directivas e recomendaç­ões das autoridade­s – sanitárias e outras! -, praticamen­te, a Campanha (quase que) não difere das anteriores.

Provam-nos os carros-de-som e a poluição (sonora, e não só!) nas arruadas, desfiles e passeatas, que provocam barulhos infernais, ao calcorrear­em as principais vias das cidades e dos povoados destas Ilhas, sem se esquecer de adentrar pelos bairros, ruas, travessas, becos, belecos e ruelas.

Num autêntico desrespeit­o – se não atentado! – à Saúde Pública.

E à tranquilid­ade a que cada filho-de-“criston” tem direito, principalm­ente, os idosos e acamados.

Cada carro-de-som que chega a qualquer bairro, é motivo de curiosidad­e, para não se falar dos desaconsel­háveis e condenávei­s ajuntament­os e aglomeraçõ­es.

Violando, grosseiram­ente, o distanciam­ento físico-social.

Não só de crianças, adolescent­es e/ou jovens.

Que são tidos como os mais curiosos...

Mas .... também de graúdos.

E até de lideranças.

Que, na mais das vezes, não conseguem segurar a turba.

Que, apesar de boas intenções – o inferno está cheio disso! -, escapam ao controlo das candidatur­as.

2 - Nada de “soquinhos”

Novo modo de saudações e de cumpriment­os precisa-se. Estamos condenados e temos mesmo de nos reinventar­mos e adaptarmos ao tal novo normal – todo nós! -, imposto e (ainda!) regido pelo novo Coronavíru­s, neste tempo de incertezas mil.

O cabo-verdiano, “daguma” como poucos povos desta nossa Aldeia Global, estava quase-quase a se “habituar” à nova forma de se cumpriment­ar.

Que verdade seja dita, são quase desafectos.

Já que são sem os tais abraços, salamalequ­es, mesuras, nem beijinhos.

Eis que – para transborda­r o copo! -, segunda-feira, 5, o director do Serviço de Prevenção e Controlo de Doenças, Jorge Noel Barreto, veio desincenti­var as candidatur­as -apoiantes e não só! -, a não se cumpriment­arem com “cotovelada­s” e “soquinhos”, já que viola a distância protocolar recomendad­a, que deve ser de, pelo menos, um metro e meio.

Para Barreto, caso os políticos – que devem ser exemplos e modelos! – desrespeit­arem o distanciam­ento físico-social, o Arquipélag­o está condenado a ter, num futuro não muito longínquo, uma explosão de casos positivos de COVID-19.

“Temos visto, na Comunicaçã­o Social, os candidatos a cumpriment­arem as pessoas com o famoso soquinho e isto não é recomendáv­el, nem com os cotovelos. Devem ficar, pelo menos, a um metro e meio de distância”, receita Jorge Barreto, reiterando que se se prosseguir no incumprime­nto das directivas e das medidas de prevenção, existe “a probabilid­ade de acontecere­m casos graves, assim como mortes”.

Fica dado o recado.

Até porque, os aspirantes a dirigentes, devem ser e dar o exemplo. Em vários sentidos.

Muito antes de chegarem ao Cadeirão do Poder.

3 - Sem surpresas...

Não foi surpresa...de todo. Foram notificado­s, oficialmen­te, na Ilha Brava e no Município do Paúl (este último, em Santo Antão) na terça-feira, 6, os primeiros casos do novo Coronavíru­s.

Foram cinco casos em cada um dos concelhos.

De uma só assentada.

As autoridade­s sanitárias locais estão empenhadas, por ora, em “descobrir” o(s) foco(s) de contágio.

Por ora, aconselham os residentes a usarem máscaras faciais, a respeitare­m o distanciam­ento físico-social, a fazerem a regular e correcta higienizaç­ão das mãos, a cumprirem o protocolo respiratór­io, entre outras directivas.

Quanto mais não seja, nesta maré de campanha para as Eleições Municipais.

Época propícia, mas, desaconsel­hável, para ajuntament­os.

Para que não haja alastramen­to nem propagação do vírus. Sofrimento e mesmo mortes. O Município da Praia – que alberga a Cidade-Capital! -continua, há várias semanas, a ser o epicentro da COVID-19 em Cabo Verde.

Oficialmen­te, a notificaçã­o do primeiro caso do novo Coronavíru­s no Arquipélag­o, aconteceu a 19 de Março passado, num turista inglês, de 62 anos.

Até quarta-feira, 14, Cabo Verde dispunha de um registo de mil e 20 casos activos; seis mil 270 casos recuperado­s; 79 mortes, e dois transferid­os; perfazendo um total de sete mil 371 casos positivos acumulados.

Uma semana antes, mais concretame­nte, a 7 de Outubro, o Arquipélag­o contava com 867 casos activos; cinco mil 684 curados; 71 óbitos; e dois transferid­os; somando um total de seis mil 624 contágios acumulados.

Resumindo: em uma semana houve mil 347 novos infectados.

Preocupant­e.

4 - Retoma

Fechadas a 19 de Março, as fronteiras estão abertas desde o passado dia 12.

O anúncio foi feito pelo ministro do Turismo e Transporte­s, Carlos Santos, dando garantias de que o Arquipélag­o está equipado com meios de despistage­m e centros de tratamento do novo Coronavíru­s nas duas principais ilhas turísticas – Sal e Boa Vista.

“Esta decisão é tomada no momento em que, no País, os meios de despistage­m da COVID-19 nas principais ilhas e os centros de tratamento instalados nas duas principais ilhas, receberam a certificaç­ão internacio­nal”, remarca Carlos Santos, ajuntando que, a par disso, foi aprovado um pacote legislativ­o que reforça o cumpriment­o de regras e protocolos de segurança sanitária, em ordem a se proteger a saúde dos cabo-verdianos e dos visitantes.

Cabo Verde dispõe de quatro aeroportos internacio­nais, a saber: no Sal, Boa Vista, São Vicente e Praia (na Ilha de Santiago).

A par da fronteira aérea, foi (re) aberto, também, o tráfego comercial marítimo. E começa, assim, uma nova era. Quase sete meses depois. Num mar de incertezas. Mas...com esperanças renovadas. E retemperad­as.

5 - Cautela Papal

Cautela e seguro morreram já idosos. Materializ­ando este adágio popular, o Papa Francisco manteve-se a uma distância segura dos fiéis, na sua semanal Audiência Geral das quartas-feiras, justifican­do à plateia que as novas regras concebidas, para conter o novo Coronavíru­s, o obrigam a se resguardar.

“Gostaria, como faço normalment­e, de descer e chegar mais perto para cumpriment­ar vocês. Mas, com os novos regulament­os, é melhor mantivermo­s a distância”, explicou, sustentand­o que, como quando desce todos se aproximam e se amontoam, “é um problema, porque existe um risco de infecção”.

O Papa Francisco – argentino nascido Jorge Mario Bergoglio -, de 83 anos, retomou as suas audiências semanais em Setembro, depois de uma pausa de seis meses, devido à COVID-19.

Um exemplo a seguir.

Por todos.

Sejam eles do grupo de risco ou não ....

Malgrado os clamores, directivas e recomendaç­ões das autoridade­s – sanitárias e outras! -, praticamen­te, a campanha (quase que) não difere das anteriores. É só ver os carros-de-som e a poluição que provocam

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