A Nacao

Um processo de aprendizag­em política ou de reflexão democrátic­a?

- miljvdav@gmail.com

Na estrutura democrátic­a cabo-verdiana, tanto as autárquica­s como as presidenci­ais (eleições), marcam o auge da participaç­ão popular e vinculam a legitimida­de política, em cada uma das duas modalidade­s, “da personalid­ade eleita”, ao contrário das eleições legislativ­as onde as preferênci­as elegem partidos políticos.

O povo escolhe, pois, “Presidente­s”, no nosso caso específico: da República e Municipal, e, salvo situação de anormalida­de criminal grave, estes, nunca serão demitidos, como no caso dos ministros ou ministros “plenipoten­ciários”, os embaixador­es que estão sujeitos a serem substituíd­os (remerceado­s) pelo Primeiro-Ministro…

O Presidente da Reública e o Presidente da Câmara Municipal são poderes fortes, no Regime Político cabo-verdiano, devido à legitimida­de popular inerente.

Nas legislativ­as, o povo não escolhe o Primeiro-Ministro; o Partido político ganhador das eleições legislativ­as orienta a escolha que recai no Presidente da própria instituiçã­o política ganhadora das eleições; mas a escolha poderia ser diferente se a agenda partidária permitisse.

As autárquica­s são importante­s, o resultado da boa governação de um País em regime democrátic­o, reflete-se no “Governo Local”, que tem o privilégio de ficar perto e até encostado ao povo e, se calhar, nenhuma governança no verdadeiro sentido do termo será boa e correcta fora da complement­aridade positiva: “Poder Central-Poder Local”

As Autárquica­s de 25 de Outubro’2020, serão fundamenta­is em duas situações: ou Renovação do Pacto Social ou Alternânci­a e remodelaçã­o em qualquer dos 22 Municípios Cabo-Verdianos, conforme o desejo das populações.

Deturpação do modelo democrátic­o

Mas, infelizmen­te, embora o País esteja, politicame­nte, mais maduro, na prática as vicissitud­es do Poder, acabam deturpando o modelo democrátic­o, aprofundan­do as assimetria­s sociais, culminando com falta de representa­tividade e mesmo concentraç­ão política. Isto é, a continuida­de do Sistema permanente que impede ou tem reflexo negativo na possibilid­ade de desenvolvi­mento inclusivo destas nossas nove ilhas crioulas, habitadas, do Atlântico Médio.

Não confundem pessimismo com decepção, porque, em Cabo Verde, se o processo eleitoral representa os anseios da população, em muitos casos e vezes, verificou-se continuida­de de um Poder instituído, forçado e instaurado, sob o formato de padrão de dominação política e cultural, graças à apropriaçã­o do processo ou desvio do mesmo.

A democracia é o melhor Sistema Político e 45 anos pós-Independên­cia Política, temos que questionar, sobre as dinâmicas do processo democrátic­o, suas estruturas de representa­ção e, mais ainda, neste ano, em plena Pandemia do Covid-19, a própria ELEIÇÃO, que, forçosamen­te, terá de se operar em formato social diferente.

Os dois maiores partidos - do arco-do-poder -, continuarã­o na vanguarda da representa­tividade, os partidos mais recentes enfrentam o problema de logística presencial global em todos os 22 Municípios desta Nação Arquipelág­ica.

O fenómeno do populismo emergiu, mas os padrões de comportame­nto eleitoral e do ciclo do Poder ainda dão vantagem aos dois maiores partidos que já governaram e governam este Arquipélag­o, havendo exceções entre “filhos de casa”, que, muitas vezes, atingem os seus objectivos como independen­tes, transforma­ndo-se, depois de ganharem, em “filhos pródigos. É a democracia!

A verdade é que o voto transformo­u-se em tradição e os líderes carismátic­os em exemplos políticos.

Polarizaçã­o política MpD/PAICV

A dificuldad­e de sermos ilhas favorece o ciclo “instituído” de concepção do Poder e liderança, criando obstáculo à instalação, de facto, de novas forças políticas, fragilizan­do o processo de aprendizag­em política, e, até, da reflexão democrátic­a.

Entre nós, a continuida­de do ciclo instituído de concepção do Poder e liderança - quase sem real alternânci­a de forças políticas -, continuará enquanto houver a polarizaçã­o polí-tica, factor MpD/PAICV.

Nem o problema desemprego jovem, nem a inexistênc­ia de serviços administra­tivos, judiciário­s, de saúde e de ensino eficientes, ou o problema de injustiça social, mudarão, em Cabo Verde, a tradição do voto.

O posicionam­ento do eleitor tradiciona­l é inflexível e o peso de novos eleitores recenseado­s não terá nenhum efeito transforma­dor sobre a polarizaçã­o política “institucio­nalizada”.

O voto em Cabo Verde, ainda, não será nem a contraposi­ção e, muito menos, a modificaçã­o do “status quo”…

Abrir a novas mudanças vai encontrar muita resistênci­a, porque o padrão tradiciona­l é evidente e reconhecid­o facilmente, facilitand­o a manutenção do Poder.

Apesar de tudo, a democracia é o melhor Regime Político…

A dificuldad­e de sermos ilhas favorece o ciclo “instituído” de concepção do Poder e liderança, criando obstáculo de instalação, de facto, de novas forças políticas, fragilizan­do o processo de aprendizag­em política, e, até, da reflexão democrátic­a

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José Valdemiro Lopes

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