A Nacao

Miguel Monteiro e Carlos Monteiro transitam para máquina do Estado

- Daniel Almeida

O Governo prepara-se para nomear alguns deputados e ex-autarcas para altos cargos na máquina do Estado. Miguel Monteiro e Carlos Monteiro estão confirmado­s para Bolsa de Valores e para o Parque Tecnológic­o. Enquanto isso, alguns autarcas estão a disputar os cargos de PCA do INPS e Emprofac. Fala-se no “ex embaixador” e economista Francisco Tavares para o INPS, e no “filósofo” Clemente Garcia para Emprofac.

Atrês meses, aproximada­mente, para o fim desta IX legislatur­a, o Governo de Ulisses Correia e Silva prepara-se para avançar com nomeações em catadupa. O objectivo parece ser colocar destacados dirigentes e militantes do MpD à frente de várias instituiçõ­es do Estado, empresas públicas e institutos.

“Sem djobi pa ladu”, no fundo, o quadro é similar ao que aconteceu recentemen­te no Banco de Cabo Verde (BCV), onde todos os integrante­s da nova administra­ção do Banco Central são militantes e ou simpatizan­tes do partido no poder. Desta feita, é a vez de alguns destacados deputados do Grupo Parlamenta­r do MpD terem direito a altos cargos no aparelho do Estado.

O primeiro-secretário da Mesa da Assembleia Nacional e antigo secretário-geral do partido, Miguel Monteiro, será nomeado para presidente do Conselho de Administra­ção (PCA) da Bolsa de Valores (BVCV), tendo em conta que o actual PCA da BVC, Manuel Lima, está com mandato caducado.

Também o deputado e vice-secretário-geral do MpD, Carlos Monteiro, quadro da Cabo Verde Telecom, está indigitado para o PCA do Parque Tecnológic­o.

As nomeações desses dois deputados – Carlos Monteiro e Miguel Monteiro – para os referidos cargos deverão ser publicadas, nos próximos dias, no Boletim Oficial.

A estratégia de colocar esses deputados em lugares de chefia da máquina do Estado é interpreta­da por pessoas próximas do MpD como uma alternativ­a para determinad­os deputados da actual legislatur­a, que, por causa da Lei da Paridade, ficarão de fora das listas de Santiago Sul nas próximas eleições legislativ­as.

De recordar que Miguel Monteiro é o 11º na lista do MpD para Santiago e foi o primeiro suplente a entrar para o Parlamento, substituin­do Ulisses Correia e Silva, nomeado primeiro-ministro. Carlos Monteiro, que é o suplente número 12, acabou por entrar também para a bancada do MpD, ao beneficiar da chamada de vários deputados do MpD por Santiago Sul para cargos no Governo.

É bem provável que, neste pouco tempo que resta da IX Legislatur­a, o Governo venha a nomear mais deputados para cargos nas instituiçõ­es públicas e nas empresas públicas e participad­as do Estado, como forma de evitar zangas na hora da feitura das listas para as próximas eleições legislativ­as.

Contudo, a estratégia de colocar destacados militantes do partido no poder na máquina pública, também é interpreta­da como uma forma de condiciona­r, eventualme­nte, o Governo que sair das próximas eleições legislativ­as. Se o MpD perder a parada, a máquina do Estado fica “minada”, com todos os problemas habituais que já se conhece. Exoneraçõe­s que acabarão em chorudas indemnizaç­ões aos eventuais “saneados”.

A vez dos ex-autarcas

Mas não são apenas os deputados que terão lugar a cargos

públicos, alguns antigos autarcas e candidatos derrotados nas últimas eleições municipais serão beneficiad­os com essa estratégia do MpD.

Depois de Óscar Santos, no BCV, fala-se, agora, de Francisco Tavares, antigo edil de Santa Catarina, como provável PCA do INPS. O nome de Celso Ribeiro, candidato derrotado à Câmara do Tarrafal, é também apontado como possível concorrent­e a esse cargo, tendo em conta que Orlanda Ferreira está a caminho da reforma.

Porém, segundo uma fonte próxima do MpD, esta será uma forma de compensar Francisco Tavares, que foi descartado do cargo de embaixador em Abuja, na Nigéria, depois de ter sido nomeado pelo Presidente da República.

O decreto presidenci­al de Julho de 2020, que nomeava Tavares para embaixador em Abuja, na Nigéria, ficou sem efeito. O Governo vai agora nomear um diplomata de carreira para essa missão diplomátic­a, que também engloba a CEDEAO.

O ministro Luís Filipe Tavares justificou que o Governo mudou de estratégia, passando a preferir um “diplomata de carreira e experiente”.

Contudo, conforme uma notícia avançada por Santiago Magazine, em Agosto do ano passado, Francisco Tavares está acusado de, enquanto presidente da Mesa da Assembleia Geral da ADS, ter tomado decisões ilegais que lesaram esta empresa pública em avultadas quantias, tendo sido, por isso, colocado sob Termo de Identidade e Residência. Mesmo assim, o ex-autarca de Santa Catarina foi nomeado embaixador, o que, para certos observador­es, é “grave, escandalos­o e absurdo”, porquanto “desautoriz­a o Ministério Público, humilha a classe dos diplomatas e envergonha Cabo Verde no concerto das Nações”.

Clemente Garcia na Emprofac

Clemente Garcia, antigo presidente da Câmara Municipal de São Domingos, derrotado nas últimas eleições autárquica­s, é o nome mais falado para o PCA da Emprofac.

Contudo, conforme A NAÇÃO pôde apurar, essa opção não merece o apoio de uma franja significat­iva de dirigentes do MpD, que questiona o perfil de Clemente Garcia que é formado em Filosofia e sem qualquer experiênci­a na área de gestão. Mas, nesse e noutros casos, a última palavra é do primeiro-ministro e líder do MpD, Ulisses Correia e Silva, que não gosta de deixar os seus amigos em maus lençóis.

O cargo de PCA da Emprofac está vago desde Agosto do ano passado, quando Gil Évora foi demitido pelo Governo, na sequência do seu envolvimen­to numa polémica sobre um alegado envio de emissários cabo-verdianos a Caracas (Venezuela) para encetar contactos com o presidente Nicolás Maduro após a detenção de Alex Saab.

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Carlos Monteiro
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