Miguel Monteiro e Carlos Monteiro transitam para máquina do Estado
O Governo prepara-se para nomear alguns deputados e ex-autarcas para altos cargos na máquina do Estado. Miguel Monteiro e Carlos Monteiro estão confirmados para Bolsa de Valores e para o Parque Tecnológico. Enquanto isso, alguns autarcas estão a disputar os cargos de PCA do INPS e Emprofac. Fala-se no “ex embaixador” e economista Francisco Tavares para o INPS, e no “filósofo” Clemente Garcia para Emprofac.
Atrês meses, aproximadamente, para o fim desta IX legislatura, o Governo de Ulisses Correia e Silva prepara-se para avançar com nomeações em catadupa. O objectivo parece ser colocar destacados dirigentes e militantes do MpD à frente de várias instituições do Estado, empresas públicas e institutos.
“Sem djobi pa ladu”, no fundo, o quadro é similar ao que aconteceu recentemente no Banco de Cabo Verde (BCV), onde todos os integrantes da nova administração do Banco Central são militantes e ou simpatizantes do partido no poder. Desta feita, é a vez de alguns destacados deputados do Grupo Parlamentar do MpD terem direito a altos cargos no aparelho do Estado.
O primeiro-secretário da Mesa da Assembleia Nacional e antigo secretário-geral do partido, Miguel Monteiro, será nomeado para presidente do Conselho de Administração (PCA) da Bolsa de Valores (BVCV), tendo em conta que o actual PCA da BVC, Manuel Lima, está com mandato caducado.
Também o deputado e vice-secretário-geral do MpD, Carlos Monteiro, quadro da Cabo Verde Telecom, está indigitado para o PCA do Parque Tecnológico.
As nomeações desses dois deputados – Carlos Monteiro e Miguel Monteiro – para os referidos cargos deverão ser publicadas, nos próximos dias, no Boletim Oficial.
A estratégia de colocar esses deputados em lugares de chefia da máquina do Estado é interpretada por pessoas próximas do MpD como uma alternativa para determinados deputados da actual legislatura, que, por causa da Lei da Paridade, ficarão de fora das listas de Santiago Sul nas próximas eleições legislativas.
De recordar que Miguel Monteiro é o 11º na lista do MpD para Santiago e foi o primeiro suplente a entrar para o Parlamento, substituindo Ulisses Correia e Silva, nomeado primeiro-ministro. Carlos Monteiro, que é o suplente número 12, acabou por entrar também para a bancada do MpD, ao beneficiar da chamada de vários deputados do MpD por Santiago Sul para cargos no Governo.
É bem provável que, neste pouco tempo que resta da IX Legislatura, o Governo venha a nomear mais deputados para cargos nas instituições públicas e nas empresas públicas e participadas do Estado, como forma de evitar zangas na hora da feitura das listas para as próximas eleições legislativas.
Contudo, a estratégia de colocar destacados militantes do partido no poder na máquina pública, também é interpretada como uma forma de condicionar, eventualmente, o Governo que sair das próximas eleições legislativas. Se o MpD perder a parada, a máquina do Estado fica “minada”, com todos os problemas habituais que já se conhece. Exonerações que acabarão em chorudas indemnizações aos eventuais “saneados”.
A vez dos ex-autarcas
Mas não são apenas os deputados que terão lugar a cargos
públicos, alguns antigos autarcas e candidatos derrotados nas últimas eleições municipais serão beneficiados com essa estratégia do MpD.
Depois de Óscar Santos, no BCV, fala-se, agora, de Francisco Tavares, antigo edil de Santa Catarina, como provável PCA do INPS. O nome de Celso Ribeiro, candidato derrotado à Câmara do Tarrafal, é também apontado como possível concorrente a esse cargo, tendo em conta que Orlanda Ferreira está a caminho da reforma.
Porém, segundo uma fonte próxima do MpD, esta será uma forma de compensar Francisco Tavares, que foi descartado do cargo de embaixador em Abuja, na Nigéria, depois de ter sido nomeado pelo Presidente da República.
O decreto presidencial de Julho de 2020, que nomeava Tavares para embaixador em Abuja, na Nigéria, ficou sem efeito. O Governo vai agora nomear um diplomata de carreira para essa missão diplomática, que também engloba a CEDEAO.
O ministro Luís Filipe Tavares justificou que o Governo mudou de estratégia, passando a preferir um “diplomata de carreira e experiente”.
Contudo, conforme uma notícia avançada por Santiago Magazine, em Agosto do ano passado, Francisco Tavares está acusado de, enquanto presidente da Mesa da Assembleia Geral da ADS, ter tomado decisões ilegais que lesaram esta empresa pública em avultadas quantias, tendo sido, por isso, colocado sob Termo de Identidade e Residência. Mesmo assim, o ex-autarca de Santa Catarina foi nomeado embaixador, o que, para certos observadores, é “grave, escandaloso e absurdo”, porquanto “desautoriza o Ministério Público, humilha a classe dos diplomatas e envergonha Cabo Verde no concerto das Nações”.
Clemente Garcia na Emprofac
Clemente Garcia, antigo presidente da Câmara Municipal de São Domingos, derrotado nas últimas eleições autárquicas, é o nome mais falado para o PCA da Emprofac.
Contudo, conforme A NAÇÃO pôde apurar, essa opção não merece o apoio de uma franja significativa de dirigentes do MpD, que questiona o perfil de Clemente Garcia que é formado em Filosofia e sem qualquer experiência na área de gestão. Mas, nesse e noutros casos, a última palavra é do primeiro-ministro e líder do MpD, Ulisses Correia e Silva, que não gosta de deixar os seus amigos em maus lençóis.
O cargo de PCA da Emprofac está vago desde Agosto do ano passado, quando Gil Évora foi demitido pelo Governo, na sequência do seu envolvimento numa polémica sobre um alegado envio de emissários cabo-verdianos a Caracas (Venezuela) para encetar contactos com o presidente Nicolás Maduro após a detenção de Alex Saab.