O safari do CHEGA a Cabo Verde
Enquanto Partido Político, o CHEGA aproveitou a tomada de posse de Caesar DePaço, na Praia, em Dezembro passado, para lançar uma ofensiva, sem precedentes, neste arquipélago. Para isso contou com a colaboração do Governo, através do ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades, Luís Filipe Tavares.
O facto de este ser também ministro da Defesa, talvez ajude a explicar a guarda de honra militar, sendo de se questionar, contudo, a responsabilidade do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas (CEMFA), general Anildo Morais, nessa que já é considerada uma “palhaçada”, envolvendo um dos símbolos nacionais de Cabo Verde, a sua instituição militar.
Pois, conforme as normas protocolares, quem tem direito a honras militares, em Cabo Verde, é o presidente da República, o primeiro-ministro, o ministro da Defesa, o CEMFA e os seus homólogos quando visitarem o país.
Além de recepcionados com guarda de honra, no Aeroporto Nelson Mandela, o tempo todo os ilustres visitantes foram transportadores em viaturas chapa amarela, do Protocolo do Estado. Claramente, o esforço das autoridades cabo-verdianas em impressionar DePaço e seus acompanhantes neste “safari” foi mais do que evidente.
Caesar DePaço, 55 anos que foi exonerado, recentemente, do cargo de cônsul honorário de Portugal na Florida, ao fim de quatro anos (Outubro de 2014-Maio 2020), encontrou guarida junto do Governo da cidade da Praia, que lhe investiu no mesmo cargo, também em Palm Coast, na Florida, uma zona onde praticamente não vive nenhum cabo-verdiano.
Esta terá sido uma das estratégias para este apoiante do CHEGA manter o estatuto de diplomata e as imunidades que a função lhe confere.
Como explicou ao A NAÇÃO um diplomata experiente, “normalmente os cônsules-honorários são pessoas influentes, política e economicamente, que aceitam representar os Estados nas zonas onde actuam. Por essa ‘representação’ não recebem honorários, mas obviamente que eles têm os seus interesses na ‘ascensão social’, isenção fiscal, imunidade diplomática, etc.” No fundo, como deixou a entender, “acaba por ser um grande negócio ser cônsul-honorário”.
Pelos dados revelados, esse é claramente o caso de Caesar DePaço, outrora César de Passos. Depois de se ter mudado de Portugal para os EUA, onde, do nada, conseguiu tornar-se milionário através de negócios ligados a matadouros, para, a partir de ossos de animais, produzir um determinado medicamento, ser cônsul é algo que lhe dá particular prazer e prestígio.
Presidente da Fundação DePaço, sediada nos EUA, este empresário é conhecido pela sua filantropia, através de donativos à Polícia da Florida, mas também financiamento de equipas de futebol, boxe – dos vários negócios que possui, ao que consta, está também ligado à segurança privada.
Aliás, através de Fernando Madureira, antigo líder da claque do FC do Porto, os Superdragões, há já em Cabo Verde uma empresa a prestar serviços na área de segurança privada. Madureira participou, recentemente, na ilha do Sal, numa formação de cerca de 200 elementos, alguns dos quais ex-fuzileiros das FA. Esses “formandos” devem integrar o nosso sistema de protecção a lugares, individualidades públicas, etc.
A posse de Caesar DePaço aconteceu no começo de Janeiro, na cidade da Praia, onde este controverso empresário português aproveitou para passar o fim-de-ano na companhia da família e de destacados dirigentes do CHEGA.