O pior da extrema-direita em Portugal
Apesar de recente, a ligação do CHEGA às autoridades cabo-verdianas não é de hoje. No dia 16 de Março de 2020, o próprio líder desse partido, André Ventura, publicou um post na rede social Facebook dando conta do cancelamento de uma deslocação a este arquipélago.
“Tinha agendado para esta semana, juntamente com o vice-presidente Diogo Pachego Amorim, estar em Cabo Verde, na cidade da Praia, para reunir com a comunidade portuguesa, apresentar cumprimento aos cabo-verdianos e ter reuniões bilaterais com o Presidente da República de Cabo Verde, vice-primeiro-ministro, ministro dos Negócios Estrangeiros, ministro do Comércio e Indústria, ministro do Estado, ministro do Turismo, ministro da Administração Interna”, frisou.
André Ventura disse ainda que tinha à sua espera o seu amigo Caesar DePaço e a esposa, Deanna Padovani-DePaço, assim como o vice-presidente da Comissão Política Distrital do Porto do CHEGA, José Lourenço.
“Iria assistir à nomeação de Deanna Padovani-DePaço como cônsul honorária em New Jersey”, revelou com visível satisfação.
Apesar de a viagem do lider do CHEGA não se ter efectivado, o vice-presidente do partido, José Lourenço, que já estava em Cabo Verde, aproveitou a ocasião para se reunir com o ministro Luís Filipe Tavares.
Como o próprio Lourenço conta, também no facebook, no dia 18 de Março, “momentos antes de fecharem o espaço aéreo em Cabo Verde, reuni com o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, Dr. Luís Filipe Tavares, em representação da Dra. Deanna Padovani-DePaço, cônsul “Ad Honorem” de Cabo Verde em New Jersey e em representação do partido CHEGA, na pessoa do Dr. André Ventura. Acompanhado pelo amigo e advogado Dr. José Araújo, do ex-deputado de Cabo Verde Dr. Cristiano Monteiro e do ex-embaixador de Cabo Verde nos USA e candidato Presidencial, Dr. Carlos Veiga. Um ministro de quem gostei particularmente. Uma viagem atribulada, com muitas histórias para contar”.
Dizer que as autoridades cabo-verdianas desconheciam as ligações políticas do seu cônsul-honorário em Palm Coast a André Ventura, ou a ideologia que professam, seria implausível.
Ligações explosivas
De todo o modo, as ligações de Caesar De Paço, André Ventura e outros elementos do CHEGA, com Cabo Verde, acabaram por vir à baila durante a reportagem que o canal SIC, de Portugal, emitiu na segunda-feira, 11, sobre as “catacumbas” desse partido político. De Paço, como mostrou a SIC, num acto do CHEGA em Lisboa, chegou a fazer a saudação nazi, do braço estendido.
Conhecido por ser contra os ciganos e os emigrantes, sobretudo os de origem africana, o CHEGA integra no seu interior vários elementos da extrema-direita portuguesa, alguns dos quais notórios neofascistas.
Um dos ideólogos desse partido é Diogo Pacheco Amorim, um antigo operacional do General António Spínola, integrante do MDLP, organização que tentou um golpe de Estado em Portugal, meses depois do 25 de Abril de 1974.
O MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal) foi fundado, diga-se, por Alpoim Calvão, outro homem de Spínola, que comandou a invasão a Conakry, em 1970, para prender ou matar Amílcar Cabral, derrubar o então presidente Sékou Toure, pondo no seu lugar alguém da confiança de Lisboa e Paris.
Estes factos encontram-se narrados pelo próprio Calvão em mais de uma ocasião. Afora isso, o CHEGA integra igualmente elementos do MAN (Movimento da Acção Nacional), outra conhecida organização neofascista, dirigida por Mário Machado, a mesma cujos elementos foram acusados e alguns condenados por terem assassinado à porrada (socos, pontapés e cacetadas), na madrugada de 11 de Junho de 1995, o jovem cabo-verdiano Alcindo Monteiro, na zona do Bairro Alto, em Lisboa.