A Nacao

Poluição sonora Os bairros que não dormem, cidadãos à beira do desespero...

- Romice Monteiro

Várzea, Eugénio Lima, Achadinha, Tira Chapéu, Bela Vista e Paiol estão entre os bairros mais agitados e barulhento­s da cidade da Praia. Com a pandemia, a situação só piorou. Em certas zonas, em vez de serem repousante­s, as noites chegam a ser autênticos pesadelos. E ai daquele que reclama.

Apoluição sonora, através de barulho e inquietaçã­o na cidade da Praia, não é um tema novo. No entanto, a preocupaçã­o é constante por parte daqueles – cidadãos e munícipes – , que no seu dia a dia conseguem uma noite tranquila de sono. Nos finais-de-semana então, o barulho, a agitação e o incómodo em certos bairros chegam a ser “desesperad­ores” para os moradores.

Várzea “do convívio”

Na Várzea, mais concretame­nte na rua de São Bento (cemitério), a tranquilid­ade é rara. “Sexta, sábado e domingo, deitar e descansar por aqui é quase impossível. Há muitas lojas, bares e, fora isso, as pessoas organizam convívios em casa, com música alta. Às vezes, numa mesma rua, há duas ou três casas com músicas diferentes a tocarem ao mesmo tempo”, diz Yannick, um dos entrevista­dos do A NAÇÃO.

Para este morador, o problema de fundo tem a ver com a cultura, a educação e a formação cívica das pessoas, mas também com o uso abusivo de álcool. “Mesmo durante o dia, o barulho é constante e todos parecem estar habituados a isso. Já à noite, sob o efeito de álcool, nos convívios, as pessoas aumentam o tom. Costumam ficar na praça, no centro da nossa zona, e fazem aglomeraçõ­es que terminam quase sempre em confusões, brigas, quebra de garrafas, gritos, tiros, etc.”, acrescenta.

Em situações do género, Yannick diz que pouco adianta chamar a polícia. “É preciso insistir porque, se for só pelo barulho e incómodo, a polícia quase nunca aparece. No caso de violência, ou situações mais graves, sim, pode dar-se o caso de ela aparecer”, diz, realçando que a intervençã­o da Polícia Nacional, para se fazer cumprir as leis municipais, tem sido fraca e que as pessoas, sabendo disso, primam pela impunidade.

Com a pandemia, a agitação na Várzea só aumentou. Desconsola­do o nosso interlocut­or continua: “As pessoas queixam-se de dificuldad­es, mas, quando se trata de paródia, dão sempre jeito de arranjar condições para organizar, gastar o pouco dinheiro que têm. Mesmo com a covid-19, são poucas as pessoas que usam máscaras na rua e o distanciam­ento social não funciona”.

Eugénio Lima, “zona de sabura”

A situação no bairro de Eugénio Lima é semelhante. “Às vezes, no meu caso, são cinco noites mal dormidas, consecutiv­as. Gritos nas ruas, guerra entre grupos rivais, troca de tiros, etc.”, descreve uma moradora que preferiu o anonimato justifican­do que, na zona, “pouca gente sabe aceitar as críticas”.

Segundo essa cidadã, que re

side em Eugénio Lima há mais de 20 anos, este bairro tem a fama de “zona de sabura”, e atrai “fãs de paródias” de outros lugares, à custa de noites mal dormidas para quem mora nele. Além de mais, destaca que o bairro está também entre os mais agitados, tendo em conta o desemprego jovem, uso de drogas e outros vícios e males.

“São muitos jovens desemprega­dos que, por falta de ocupação, estão sempre disponívei­s para organizar paródias e ‘passa sabi’, de dia e de noite, de madrugada. Isto tudo à custa de nós outros que, depois de dia cansativo de trabalho, não podemos descansar em casa, porque não há tranquilid­ade”, lamenta afirmando que alguns bares costumam permanecer abertos até o dia seguinte.

“Eles fingem estar fechados e continuam a venda, mesmo de porta fechada, até o dia seguinte. Só não vê quem não quer porque eles denunciam-se a si mesmos com o barulho que fazem”.

Inconforma­da com a situação, a nossa entrevista­da diz que liga para a Polícia Nacional, sobretudo quando o barulho passa dos limites e envolve tiros e atritos entre os grupos rivais. “Eu ligo porque o barulho chega a ser tanto que não consigo dormir para descansar e acordo, todos os dias bem cedo, para trabalhar. Na maioria das vezes a Polícia dá desculpas, que está sem viaturas para mandar para o terreno. Já perdi a conta”.

Também em Eugénio Lima a pandemia deixou de meter medo. O uso de máscara e o distanciam­ento social “deixaram de ser realidade” depois do estado de calamidade. “Em pouco tempo as pessoas se esqueceram do perigo, não respeitam o distanciam­ento social, não usam máscaras nem quando se dirigem aos centros comerciais”, diz.

Para melhorar a situação esta munícipe acredita que a luz do fundo do túnel está nos movimentos, associaçõe­s que têm estado a realizar palestras para “acordar os jovens para a vida”.

Outros bairros…

Do mapa das zonas onde o barulho nocturno reina constam outros bairros, nomeadamen­te, Achadinha, Pensamento, Tira Chapéu, Bela Vista, Paiol, Achada Santo António...

De entre as queixas ouvidas pelo A NAÇÃO constam música alta, berros e gargalhada­s, troca de tiros. Esta reportagem tentou ouvir o Comando Regional da Polícia Nacional sobre o que tem feito perante as denúncias como as relatadas, entre outras questões. Mas, até o fecho desta edição, não obtivemos resposta.

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