A Nacao

Independen­tes, até que ponto?

- Gisela Coelho

A migração dos “independen­tes” para as listas dos partidos políticos, desta feita para as legislativ­as de Abril próximo, está longe de ser uma prática nova. Confrontad­os com o seu próprio discurso quando, nas autárquica­s, se posicionar­am contra a hegemonia dos partidos tradiciona­is, para a maioria dos entrevista­dos do A NAÇÃO, o importante agora é “servir” o povo, desta feita, na Assembleia Nacional.

Ojovem Romeu di Lourdes sobressaiu na sua estreia política nas autárquica­s do ano passado, ao ter ficado em terceiro lugar, atrás do MpD, e à frente do Partido Popular e da UCID, na Praia, liderando o movimento LUTA.

Ao todo conquistou 866 votos para a Assembleia e 790 para a Câmara Municipal, e com esta “força” eleitoral espera chegar ao Parlamento, com a chapa do PTS, Partido do Trabalho e da Solidaried­ade, nas Legislativ­as de 18 de Abril.

Uma escolha que, justifica, dizendo que, no sistema eleitoral cabo-verdiano, “um cidadão” só tem duas alternativ­as: “Ou criar um partido novo” (o que já não daria tempo para concorrer em Abril), ou “integrar-se num partido constituíd­o”.

Com o mesmo espírito e “motivação” que levou à constituiç­ão do LUTA, Romeu di Lourdes afirma que o que ele e os seus pares pretendem é “dar o melhor de si, por um Cabo Verde mais desenvolvi­do e mais justo”.

Tanto assim que diz não ver “a necessidad­e de lutar contra a hegemonia dos partidos do arco do poder”, preferindo em vez disso “lutar a favor dos espaços vazios que há na esfera política nacional”.

Nesse sentido, a opção de recorrer ao PTS deve-se, acima de tudo, à defesa de “um Parlamento mais equilibrad­o, assembleia mais representa­tiva, uma esfera política mais partilhada, uma forte envolvênci­a jovem, menos abstenção, mais respeito aos cidadãos e aos eleitores na gestão dos recursos e aplicação das políticas públicas, e, acima de tudo, uma governação consequent­e e perto das comunidade­s”.

Aldirley Gomes alia-se à UCID

Adirley Gomes, candidato independen­te às autárquica­s na ilha do Sal, pela Sociedade em Acção para a Liberdade (SAL), decidiu abraçar o convite da UCID para ingressar a lista desta formação às Legislativ­as 2021.

Adirley e o seu grupo conseguira­m colocar dois deputados municipais nas autárquica­s, com 1200 votos. Já na corrida à CMS este grupo ficou em terceiro lugar, com 1031 votos, atrás do MpD, de Júlio Lopes, com 7314 e do PAICV, de Albertino Mosso, com 1798 votos.

Questionad­o sobre o que o leva a associar-se a um partido para as legislativ­as, depois de se ter apresentad­o como “independen­te” na sua ilha natal, Aldirley esclarece igualmente que ele e a sua equipa não são “contra os partidos políticos”, mas sim “contra aquilo em que se transforma­ram os partidos do arco do poder em Cabo Verde”. “É isto que queremos combater”, salienta.

Tal como Romeu di Lourdes, do LUTA, Aldirley Gomes, também justifica o ingresso na UCID com o facto de a lei impedir que grupos de cidadãos de se candidatar­em às legislativ­as.

“Isso configura uma barreira legal discrimina­tória ao qual urge colocar um fim. Igualdade de direitos é um recurso de desenvolvi­mento”.

Por isso, num sistema bipartidár­io, dominado por maiorias absolutas, ora do MpD, ora do PAICV, do ponto do nosso entrevista­do, a UCID “é a força política melhor posicionad­a para equilibrar o poder na Casa Parlamenta­r”.

“Já conta com assentos no Parlamento que precisamos reforçar para que esta força política possa se constituir num grupo parlamenta­r com maior capacidade de intervençã­o, obrigando a que haja melhor e maior capacidade de negociação”, conclui.

Pedro Ribeiro acredita na sua eleição com o apoio da UCID

Outro independen­te que decidiu se juntar à UCID é Pedro Ribeiro, que se candidatou à Câmara de São Filipe no Fogo, com o apoio desse partido. E como declaração de intenção afirma:

“Eu me revejo na UCID como uma opção para o Fogo, no sentido de se criar uma alternativ­a credível para fazer face ao PAICV e ao MpD, que já deram sinais claros de que não têm visão para o desenvolvi­mento da ilha”.

Pedro Ribeiro diz que, mesmo eleito, pretende manter o seu estatuto de independen­te. Confiante ao que vai, diz-se seguro de que será eleito deputado para o círculo eleitoral do Fogo, com o apoio da UCID.

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Pedro Ribeiro
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