Baixo nível político e ideológico dos militantes é maior “deficiência” do MpD
Uma das maiores “deficiências” do MpD é o “baixo nível” político e ideológico dos seus militantes. Esta conclusão é da estrutura concelhia desse partido na Praia, que já programou uma formação de capacitação política no sentido de colmatar essa lacuna. Carlos Veiga, Jacinto Santos, José António dos Reis e Mário Silva serão os formadores. Mas há quem diga que o mal não é exclusivo ao MpD.
Não é todos os dias que um partido, ainda por cima com as responsabilidades políticas e históricas do MpD, traça de si próprio um retrato tão pouco elevado, descrevendo os seus militantes como sendo indivíduos com “baixo nível” político e ideológico.
Esse défice, conforme uma publicação na página “MpD Praia”, na rede social Facebook, “tem impedido o partido de ser um ‘exército’ único, com unidade orgânica e direção central, o que se traduz na débil capacidade de argumentação política dos seus militantes e da base de apoio”.
A mesma publicação da estrutura agora liderada pelo ex-vereador Beta Melo diz ainda que “importa, pois, inverter esta situação, dotando a militância e os amigos do partido de acções de formação e capacitação política, chamando a este propósito reconhecidos especialistas da nossa área política e recorrendo ao núcleo de fundadores do MpD”.
Assim, no quadro do plano de Atividades da Comissão Política Concelhia da Praia para 2021, “a nossa intenção é proceder à sistematização destas ações de formação. Nesse sentido, iniciamos este processo com a realização das Conferências Democráticas – subordinadas ao tema Liberdade, Democracia, Progresso Social e Desenvolvimento – , cujos conferencistas são quatro dos fundadores do MpD”.
Carlos Veiga, Jacinto Santos, José António dos Reis e Mário Silva serão os formadores desta acções, que decorrerão todas as sextas-feiras, do próximo mês de Março, com emissões online. Aliás, esta é a segunda vez que esse “quarteto” aparece em actos a assinalar os trinta anos da democracia em Cabo Verde (ver caixa).
Constatação no terreno
Questionado pelo A NAÇÃO de como tirou a conclusão de que uma das maiores “deficiências” do MpD é o “baixo nível” político e ideológico dos seus militantes, Beta Melo afirmou que essa constatação foi feita nos contactos que tem tido no terreno.
“São os próprios militantes que reconhecem essa fragilidade”, sublinha.
“E são eles também que têm solicitado a realização de acções de formação de capacitação política”, precisou, sublinhando que essas deficiências, em termos político e ideológico dos militantes, “é transversal a todos os partidos políticos”.
A formação pretendia, consoante Melo, será ministrada por gente “com história” no MpD e “capaz de passar uma mensagem daquilo que é a democracia e dos ideais de centro -direita”.
Questionado sobre as escolhas de Jacinto Santos e José António dos Reis, para ministrarem essa acção de formação ideológica do partido com o qual romperam no passado, Beta Melo contrapõe que “são dois fundadores do MpD e conhecem os ideais do partido”.
E sobre a possibilidade de esses dois fundadores do extintoPRD reintegrarem o MpD, nestas eleições, o presidente Beta Melo garante que a referida acção de formação “não tem nada a ver com isso”.
De realçar, entretanto, que Jacinto Santos já se posicionou na sua página do Facebook como um apoiante do MpD nestas eleições (ver caixa).
Partido força
Para um quadro próximo do MpD, mas que prefere não se identificar, diante da caracterização feita de si mesma enquanto organização, é a própria estrutura concelhia desse partido na Praia a dar a entender que não sabe do que está a falar.
Ainda por cima, quando, entre os propósitos anunciados pela nova direcção do MpD na Praia, é fomentar um partido que seja “um ‘exército’ único, com unidade orgânica e direção central”, ou seja, um partido de vanguarda leninista ou então de direita autoritária, de matriz fascista.
Pois, também nesses dois modelos de partido, há o princípio pára-militar, com unidade orgânica e direcção central, liderada no topo da pirâmide pelo chefe, cujas decisões não podem ser contestadas pelas estruturas intermédias e muito menos pelas bases da organização.
“Devo dizer, no entanto, que o Beta tem razão num aspecto: o MpD tem muito a melhorar nas suas estratégias de mobilização”, ressalva o nosso interlocutor, “até porque, como todos sabemos muito bem, a ideologia muito pouco importa em Cabo Verde”.
Ferir suscetibilidades
Também sem se identificar, por alegadamente não querer empolar o assunto, um destacado dirigente ventoinha considera que o retrato traçado por Beta Melo acerca dos militantes como sendo de “baixo nível” político e ideológico, “pode ferir suscetibilidades”, mas também admite que este “é um problema real” e que é transversal a todos os partidos políticos cabo-verdianos.
“Muitos jovens entram para a política mais pelas cores das camisolas ou por influência familiar. Outros, até os mais veteranos, estão na política mais numa lógica de promoção social e ou de tentar alcançar um cargo na máquina do Estado. Infe
lizmente, esta é a realidade que temos”.
A nossa fonte considera ainda que, de uma forma geral, diante da actual preparação das bases, são poucos os que conseguem decifrar o que é ser de ‘esquerda’ ou de ‘direita’.
“Mas, o MpD, é um partido de ‘centro-direita’, que defende o liberalismo, menos Estado, mas, igualmente, com uma forte preocupação social”, lembra.
Este dirigente é de opinião que, deste ponto de vista, isto é, a iniciativa promovida pela Comissão Política Concelhia do MpD da Praia “é bem-vinda” neste momento, sobretudo quando se aproximam as eleições legislativas, porquanto, esta será de “extrema importância” para o trabalho de terreno dos militantes e simpatizantes do MpD.