“Temos uma democracia muito voltada para as eleições”
Cabo Verde tem um sistema partidário muito voltado para as eleições, o que passa pela conquista permanente de novos membros, sem que isso signifique, propriamente, uma “cultura” voltada para a militância e defesa de valores políticos e ideológicos.
Na disputa instalada, mais do que a qualidade, os partidos procuram apresentar-se como aquele que mais militantes e simpatizantes tem.
Falta de comunicação mais assertiva
A nível geral, entende a politóloga Roselma Évora, o baixo nível político e ideológico dos militantes dos diversos partidos resulta e indica uma falta de comunicação, “mais assertiva”, entre as estruturas partidárias e a própria sociedade no geral.
“Isto está espalhado nos inquéritos do Afrobarometro, que mostra existir um distanciamento entre a sociedade e os representantes políticos, com reflexos directos nos próprios partidos”, explica aquela cientista política, a propósito do quadro traçado pelo MpD dos seus próprios militantes, como sendo cidadãos com pouca formação política e ideológica.
O distanciamento entre as estruturas partidárias, segundo a nossa entrevistada, reproduz uma “desconexão”, tendo em conta que, em Cabo Verde, “temos funcionado com uma democracia muito voltada para as eleições”.
“Os partidos fazem o trabalho de curto prazo para mobilizar e resgatar as pessoas para esse momento de embate eleitoral e depois não cultivam uma verdadeira conexão entre a cúpula e os militantes”, realça Roselma Évora, alertando que “esse distanciamento tem o seu custo”.
Para tentar resolver esse problema, esta politóloga prepõe a criação de escolas ou academias partidárias adequadas para evitar que as “coisas” possam ser feitas apenas na lógica da sobrevivência material.
Vida político-partidária baseada em interesses
Outro mal, como deixa a perceber, é que o ‘statu quo’ reinante não propicia o princípio da lealdade.
“Na maior parte das vezes, a participação das pessoas na vida político-partidária é feita na base de interesses. A cada nova disputa eleitoral isso é mais visível”.
Roselma Évora considera, no entanto, que o problema é hoje em dia é universal, expressa na crise de representação que grassa pelo mundo, daí o avanço das correntes populistas e extremistas que procuram tirar proveito de um certo cansaço ou esgotamento do sistema de representação tal como é conhecido internacionalmente.
“Em Cabo Verde o problema chega a ser mais visível, porque temos pouco tempo de democracia”, afirma.
“A nível mundial os partidos estão a tentar sobreviver à nova configuração da vivência da sociedade, onde se destacam as tecnologias de informação e as redes sociais com um forte papel. Os partidos políticos têm de infiltrar na sociedade no sentido de poderem integrar essa nova dinâmica”.
Ou seja, e para concluir, os partidos “precisam repensar as próprias estruturas no sentido de permitir uma maior participação popular e assim poderem tirar proveito das novas dinâmicas sociais”.