Perspectiva sociológica
A maioria dos nossos entrevistados relacionaram a poluição sonora e a agitação nocturna ao alcoolismo, entre outros problemas sociais. No ponto de vista do sociólogo Elísio Semedo, a falta de civismo e urbanidade está relacionada com a pobreza.
“Os bairros mais problemáticos são constituídos, na maioria, por pessoas de baixa condição socioeconómica, baixa escolaridade, em resumo, de baixos valores sociais e morais, com pouca noção de civilidade, com famílias desestruturadas, alto consumo do álcool, ambiente propício á indisciplina. Nestes bairros não há uma imposição familiar de se estar em casa e se resguardar a partir de certas horas da noite. O convívio informal e espontâneo é através de fala e muitas vezes em voz alta e aos gritos, acompanhado de álcool e música. Sob a influência do álcool e outras drogas, por vezes, as consequências são a discussão, zangas e brigas que causam desassossego”, explica.
Desta forma, continua Semedo, o ambiente nos ditos bairros problemáticos é sempre de violência e as crianças crescem, neste mundo, sem boas referências e bons valores, acabando quando adultos por reproduzir os mesmos hábitos e práticas, por vezes, difíceis de combater. “Há certos bairros que se tornam tão violentos ao ponto de provocar receio e insegurança nos agentes policiais, que não conseguem nem fiscalizar nem fazer rusgas a certas horas da noite”.
Para travar este quadro de degradação, onde tudo se mistura, falta de urbanidade e certos vícios, Elísio Semedo diz acreditar que a solução está em combater a pobreza, melhorar o comportamento das pessoas e “educar” para a cidadania, de vida em comunidade.
“Temos que trabalhar a raiz”, insiste, “diminuindo a taxa da pobreza, apostando na educação comunitária e familiar e trabalhando as questões relacionados com os maus hábitos. Este trabalho tem de ser em estrita parceria entre as autoridades, envolvendo a Câmara Municipal, os agentes da educação, a Polícia, a Inspecção Económica... Com programas integrados, infraestruturas culturais e de lazer, equipas sociais, é possível trabalhar e educar as comunidades, por mais problemáticas que elas possam parecer”, termina.