Ngozi Okonjo-Iweala, a nigeriana que vai dirigir a OMC
A economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, 66 anos, é a nova directora-geral da Organização Mundial do Comércio. Trata-se da primeira mulher e africana a comandar a OMC, organismo que rege as trocas comerciais no mundo e que, com a globalização em recesso, vem perdendo força.
Tida como mulher aguerrida e tecnicamente competente, com provas dadas no seu país (Nigéria) e no Banco Mundial, onde trabalhou durante 25 anos e onde chegou a número 2, Ngozi Okonjo-Iweala tornou-se nesta segunda-feira, 15, a primeira mulher e a primeira africana à frente da OMC. A sua nomeação para o cargo de directora-geral foi decidida durante uma reunião extraordinária entre os membros da organização, depois que a sua adversária, a ministra sul-coreana do Comércio, Yoo Myung-hee, ter retirado a candidatura na sexta-feira passada.
Yoo Myung-hee, na verdade, deixou de contar com o apoio fundamental dos EUA, mais precisamente do ex-presidente Donald Trump. Num sinal de novos tempos, o novo inquilino da Casa Branca, Joe Biden, resolveu apostar em Okonjo-Iweala.
Em comunicado, Okonjo-Iweala disse que sua prioridade será abordar as consequências económicas e de saúde da pandemia de covid-19 e implementar as respostas políticas necessárias para a retomada da economia global. “A nossa organização enfrenta muitos desafios, mas trabalhando juntos podemos tornar a OMC mais forte, mais ágil e mais bem adaptada às realidades de hoje”, alertou.
Antes mesmo de sua designação, a economista já contava com amplo apoio de vários membros da OMC, incluindo China, União Europeia, União Africana, Japão e Austrália.
“Ngozi é uma das pessoas mais qualificadas para a posição específica pela qual compete”, disse à DW (Voz da Alemanha), Shamsudeen Usman, ex-ministro do Planeamento Nacional da Nigéria, dias antes da decisão final. Os dois trabalharam lado a lado como ministros sob o governo do ex-presidente Goodluck Jonathan em 2011.
A OMC, um órgão com sede em Genebra encarregado de promover o livre comércio, está sem liderança desde que o brasileiro Roberto Azevêdo deixou o cargo um ano antes do previsto, no final de Agosto de 2020. A renúncia surgiu depois que a OMC se viu envolvida na crescente disputa comercial entre os EUA e a China. As críticas dos EUA vinham já desde os tempos de Barack Obama, acentuando-se com Donald Trump, que chegou a classificar a OMC como sendo uma organização “horrível” e “inimiga” da América. Encurralado, e sem apoio do
seu próprio país, Brasil, parceiro dos EUA nas críticas à China, Azevêdo não teve outra saída senão abandonar o cargo.
Peso pesado na política
Durante o seu segundo mandato como ministra das Finanças da Nigéria, Okonjo-Iweala foi “reconhecida por desenvolver programas de reforma que ajudaram a melhorar a transparência governamental e estabilizar a economia”, de acordo com a revista americana de negócios Forbes, que a colocou em 48º lugar no ranking mundial das “50 Mulheres Poderosas” em 2015. Principal produtora de petróleo de África, a Nigéria é tida como um dos países mais corruptos do mundo.
Formada em Harvard, Okonjo-Iweala é Ph.D. pelo MIT e preside o conselho da Gavi, uma aliança global de vacinas fundamental para garantir que os países em desenvolvimento tenham o tão necessário acesso às vacinas contra a covid-19.