A Nacao

Quem vai salvar a OMC?

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Num mundo cada vez mais protecioni­sta, dominado pela guerra comercial entre os EUA e a China, a OMC perdeu fôlego e relevância. A nova diretora-geral, Ngozi Okonjo-Iweala, terá agora que convencer os membros mais poderosos de que vale a pena apoiar a entidade, retomando com isso a ideia de globalizaç­ão em curso desde que o neoliberal­ismo passou a reinar a partir de 1989, com a queda do muro de Berlim.

Quando foi fundada, em 1995, como descendent­e direta do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), o clima em torno do comércio global era irreconhec­ível se comparado ao de hoje, 2021. Em nome da abertura do comércio livre os países lançaram-se à conquista de novos mercados, com realce para a China, que em pouco tempo se tornou numa das mais importante­s potências mundiais, concorrend­o com os EUA e a União Europeia.

Na época, havia, acima de tudo, um apetite consideráv­el por acordos comerciais. Mas, nos últimos anos, com a ascensão sobretudo da China no mercado mundial, o quadro mudou drasticame­nte. Com os EUA à testa, os países tornaram-se, no geral, mais protecioni­stas, deixando de acreditar nas virtudes da globalizaç­ão. A mentalidad­e pró-globalizaç­ão que tornou a OMC possível está hoje em claro retrocesso em todo o mundo.

Sob a presidênci­a de Donald Trump, os EUA adoptaram uma postura mais unilateral em questões de comércio global, tendo se engajado, por exemplo, numa guerra comercial com a China.

Mas as queixas americanas são anteriores à era Trump. Só o governo Barack Obama levou 16 casos contra a China à OMC, um deles na sua última semana na Casa Branca, relacionad­o à indústria de alumínio chinesa. A crítica americana de que a OMC é complacent­e com a China, onde a economia é fortemente controlada pelo Estado, é compartilh­ada pela União Europeia (UE) e pelo Japão.

A decisão do governo Trump de bloquear as nomeações para o tribunal de recurso da OMC – sua mais alta corte – suspendeu a capacidade de funcioname­nto do órgão. Todos os futuros casos, na prática, foram congelados, o que significa que a organizaçã­o não tem actualment­e o poder de fazer valer os seus tratados.

Muitos países-membros da OMC não concordam com as táticas dos EUA, mas fizeram da reforma da organizaçã­o uma prioridade urgente para quem suceder a Azevedo.

O papel do director-geral

O diretor-geral da OMC não faz política comercial global. O seu papel é semelhante ao de um CEO: ele comanda o comité de negociaçõe­s comerciais e pode intervir em disputas, nomeando peritos para julgar os painéis quando os membros discordam.

Segundo os analistas, encarar a questão do protecioni­smo, política esta reforçada durante a pandemia da covid-19, vai exigir um líder especialme­nte forte.

Mas, sem dúvida, a tarefa ainda mais difícil que Ngozi Okonjo-Iweala vai ter pela frente será restaurar a credibilid­ade da OMC como uma organizaçã­o internacio­nal relevante. E, aqui, neste particular, os mais cépticos não acreditam que o quadro global venha a mudar com a nova diretora-geral da organizaçã­o.

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