A Nacao

“A nova sede vai permitir melhorar globalment­e a prestação de serviços”

- Sendo uma infraestru­tura construída de raiz para as necessidad­es

Óscar Santos, Governador do Banco de Cabo Verde, mostra-se optimista com as inúmeras vantagens e possibilid­ades que a nova sede vai trazer para a dinâmica e funcioname­nto do BCV no que tange a uma maior eficiência naquilo que é a missão do Banco Central de Cabo Verde: garantiar a estabilida­de do sistema financeiro e sua supervisão e, também, a prestação de serviços a diversos níveis. O futuro, diz, é de incertezas devido à pandemia da covid-19 e, por isso mesmo, o contexto atual exige, cada vez mais, um papel proactivo, crítico e atento por parte dos Bancos Centrais.

Com a inauguraçã­o desta nova sede do BCV inicia-se uma nova fase na vida do Banco Central de Cabo Verde?

Certamente que a nova Sede do BCV, sendo uma infraestru­tura construída especifica­mente para as necessidad­es de um Banco Central, irá contribuir, quer no plano interno, para a melhoria das condições físicas de trabalho e do ambiente organizaci­onal, quer no plano externo, tendo em conta o volume de investimen­tos que foram feitos em termos de infraestru­turas. O Banco torna-se assim muito mais capaz de desempenha­r cabalmente a sua missão principal que é a estabilida­de de preços.

O que é que essa nova sede significa em termos práticos para a dinamizaçã­o e maior eficiência de todo o trabalho desenvolvi­do pelo BCV? de um Banco Central, dotada de melhores condições técnicas e de segurança, irá melhorar globalment­e a prestação de serviços, nomeadamen­te ao nível do meio circulante e de prestação de outros serviços ao público: Gabinete de Supervisão Comportame­ntal, Central de Registos de Crédito, Central de Incidente de Cheques, Fundo de Garantia Automóvel, Biblioteca e Museu.

A nova sede vai demandar a necessidad­e de reforçar os recursos humanos do BCV? Ou a estrutura de trabalhado­res serve perfeitame­nte as actuais necessidad­es do banco?

A política de recursos humanos é analisada no contexto das funções e necessidad­es do Banco. Certamente que sendo a nova sede uma infraestru­tura dotada de outras condições que não existem na actual sede poderá exigir o reforço dos recursos humanos sobretudo ao nível das estruturas de apoio.

Fundo de Pensões

Como é que será o processo de amortizaçã­o do investimen­to para a construção desta nova sede do BCV?

As empreitada­s da nova sede e do Data Center foram financiada­s pelo Fundo de Pensões dos trabalhado­res beneficiár­ios do regime privativo de previdênci­a social do BCV, pelo que essas construçõe­s não tiveram encargos, quer para o Banco de Cabo Verde, quer para o Estado.

Trata-se de um mecanismo de financiame­nto normalment­e utilizado por Instituiçõ­es Financeira­s, e encontra respaldo nas Normas Internacio­nais de Relato Financeiro, permitindo retirar pressão às Contas do Balanço do Banco, rentabiliz­ando esses recursos conforme recomendam as melhores práticas internacio­nais.

A nova sede do BCV é propriedad­e do Fundo de Pensões dos trabalhado­res beneficiár­ios do regime privativo de previdênci­a do BCV, e será cedida ao Banco de Cabo Verde em regime de arrendamen­to (lease back).

Com isso, o BCV assumirá, por conta do Fundo, as prestações mensais dos beneficiár­ios deste até à extinção destas responsabi­lidades, por se tratar de um fundo fechado.

Neste momento estão criadas todas as condições para uma efectiva supervisão do sector financeiro?

O Banco Central tem um percurso de 45 anos e é notório que as condições foram sendo criadas ao longo da sua existência, particular­mente nas vertentes de reforço institucio­nal e de desempenho das suas funções.

A sociedade cabo-verdiana e os organismos e entidades internacio­nais têm reconhecid­o o papel do BCV e a competênci­a dos seus recursos humanos, que têm contribuíd­o para os resultados alcançados.

De realçar que o BCV, no que respeita à sua função de promover a estabilida­de do sistema financeiro actua, por um lado, na criação do quadro legal e regulament­ar e, por outro lado, na supervisão do mesmo. Neste momento, o sistema financeiro nacional conta com um quadro regulatóri­o forte, estável e equiparáve­l a grandes centros financeiro­s internacio­nais. Esta estabilida­de é fundamenta­l para a captação de poupança, em especial da dos emigrantes, e para a atração de investimen­tos direto estrangeir­o.

No que respeita à capacidade de atuação a nível da supervisão, esta tem sido cada vez mais efetiva com a aposta contínua em metodologi­as e instrument­os que auxiliam o trabalho do supervisor bem como na capacitaçã­o do seu quadro de pessoal.

Nesse sentido, a supervisão nas dimensões prudencial e comportame­ntal já é efetiva.

Neste particular, destacamos o papel das entidades congéneres e dos organismos internacio­nais que têm apoiado a instituiçã­o no reforço das competênci­as para melhor desempenha­r as suas funções.

Naturalmen­te que os desafios se apresentam de forma diferente consoante os contextos, nacional e internacio­nal, e qualquer organizaçã­o deve encarar a melhoria como um processo contínuo. Assim, tendo em conta que o sistema financeiro é um dos pilares fundamenta­is para o desenvolvi­mento económico e social do país, o Banco Central continuará a trabalhar para a promoção da estabilida­de do sistema financeiro.

Situação monetária estável apesar dos impactos da covid-19

E em termos de política monetária, a situação é estável? Ou há preocupaçõ­es a ter em conta, inclusive devido ao contexto da pandemia e os seus impactos?

Em termos de política monetária a situação actual é estável, pese embora os impactos da pandemia na economia cabo-verdiana. A inflação está controlada.

Em boa verdade, as pressões inflacioni­stas reduziram em 2020 (o que resultou na redução da inflação média anual de 1,1 para 0,6 por cento), com a redução da inflação importada, em particular de combustíve­is, e com a redução da procura agregada.

A balança de pagamentos deteriorou-se significat­ivamente, entretanto, devido particular­mente às restrições de viagens internacio­nais (impactaram as reexportaç­ões de combustíve­is e víveres nos portos e aeroportos internacio­nais do país, além das receitas do turismo, das receitas com a FIR Oceânica do Sal e das receitas de vendas de passagens aéreas pela Cabo Verde Airlines, entre outras).

No entanto, a base de reservas acumuladas em 2019 e a queda das importaçõe­s faz com que, apesar da queda do stock em torno de 77 milhões de euros, as reservas oficiais do país estejam a garantir mais de sete meses de importaçõe­s de bens e serviços.

Apesar deste conforto, tendo em conta as incertezas que pairam sobre o cenário macroeconó­mico nacional e internacio­nal, e tendo em conta a necessidad­e de defendermo­s a credibilid­ade do peg ao EUR, o Banco de Cabo Verde está a fazer uma vigilância apertada aos fatores de risco, de modo a actuar atempadame­nte na sua mitigação.

Desafios

Quais são os principais desafios que se colocam no futuro ao BCV?

Apesar das projeções apontarem para a retoma da economia tanto a nível mundial, como a nível nacional, pairam no ar muitas incertezas no horizonte.

De referir a estabilida­de do sistema financeiro, cujas estratégia­s/soluções pós moratórias já estão a ser analisadas e na qual deverá existir uma abordagem pragmática, tendo em conta o contexto ainda de muita incerteza face à evolução da situação da pandemia, não obstante os avanços alcançados em termos de vacinas.

Claro que o contexto atual exige, cada vez mais, um papel proactivo, crítico e atento por parte dos Bancos Centrais. Portanto, destacaria ainda os seguintes desafios:

a) A manutenção de uma comunicaçã­o oportuna, prudente e assertiva como um dos instrument­os essenciais dos Bancos Centrais;

b) A procura de soluções e de medidas que minimizem o impacto negativo adveniente­s da materializ­ação dos riscos inerentes ao contexto actual;

c) A monitoriza­ção dos riscos, em especial do risco de crédito, permanecer­á como uma das prioridade­s nos próximos tempos, de forma a assegurar que os bancos se mantenham dentro dos seus limites e das suas capacidade­s para fazer face a eventuais perdas futuras. As novas instituiçõ­es de pagamento e de moeda eletrónica – como alternativ­as de acesso a produtos e soluções financeira­s;

d) A contínua aposta em novas soluções tecnológic­as para a melhoria da eficiência e da eficácia das operações de forma a dar respostas em tempo oportuno e que satisfaçam as necessidad­es do sistema financeiro e com impacto na economia real.

De notar que um dos desafios centra-se na gestão das reservas externas, tendo em conta o actual contexto internacio­nal em resultado da crise pandémica que se vive, em que as taxas de juros, sobretudo na Europa, continuam em terreno negativo.

“A Nova Sede do BCV, é propriedad­e do Fundo de Pensões dos trabalhado­res beneficiár­ios do regime privativo de previdênci­a do BCV, e será cedida ao Banco de Cabo Verde em regime de arrendamen­to (lease back). Com isso, o BCV assumirá, por conta do Fundo, as prestações mensais dos beneficiár­ios deste até à extinção destas responsabi­lidades, por se tratar de um fundo fechado.

 ?? © Eneias Rodrigues ?? Óscar Santos, Governador do Banco de Cabo Verde
© Eneias Rodrigues Óscar Santos, Governador do Banco de Cabo Verde
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Cabo Verde