Impressão 3D: imprimir a imaginação
As impressoras 3D criam os objectos, camada por camada, com os mais variados tipos de matéria-prima, de forma semelhante a que as impressoras tradicionais criam imagens de pontos de tinta ou ‘toner’, mas em três dimensões.
Com esta tecnologia pode-se criar qualquer objecto, desde peças de foguetão, próteses, réplicas, óculos de sol, um carro de dois lugares, uma casa, um barco a remos, um protótipo de ouvido biónico ou até tecidos vivos.
O que antes parecia ter saído da ficção científica é cada vez mais uma realidade. Realidade que a Casa da Ciência da Uni-CV, em São Vicente, possibilitou a um grupo de dez formandos na primeira edição do curso em “Modelação e Impressão 3D para Iniciantes”.
O curso, que teve início a 18 de Maio e decorreu até 22 de Junho, com uma carga horária de 20 horas, foi ministrado pelo docente em ciências da computação e presidente da Casa da Ciência, Érico Fortes.
Em entrevista ao A NAÇÃO, Érico Fortes explica que o projecto visou estimular a curiosidade dos jovens sobre uma área muito promissora.
“Tentámos ser criativos e levar a ciência, nas mais diversas formas, à comunidade estudantil e não só. Não me considero um especialista em modelação 3D, mas sim um curioso, então, começamos a estruturar o programa e decidimos avançar com um curso”, começa por explicar Érico Fortes.
Inicialmente pensado para alunos do ensino secundário, a formação acabou por ser alargada aos universitários e “todas as pessoas que tivessem o interesse em participar e o comprometimento em aprender para depois replicar o conhecimento adquirido”. Devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19, a Casa da Ciência optou pelo número máximo de dez participantes.
O curso deu a conhecer aos jovens todo o processo de modelação 3D, isto é, desde a fase de criação de um modelo em três dimensões das peças (o desenho), a fase de impressão e a pós-impressão.
Impacto da impressão 3D na sociedade
A impressão 3D, mesclada com pessoas motivadas a solucionar pequenos problemas do quotidiano, pode transformar completamente a vida das pessoas e até salvando vidas.
Segundo o docente, quase todos os objectos imagináveis são possíveis de se produzir, através da impressão 3D. Dependendo apenas do tipo da matéria-prima, do tamanho da peça, da qualidade desejada, da velocidade de impressão, “e com várias aplicações no dia-a-dia, independentemente da área que serão utilizadas.
Para impressões de peças ou objectos 3D mais funcionais as indústrias especializadas utilizam matérias como ABS (acrilonitrilo butadieno estireno), o nylon, TPU (poliuretano termoplástico), a fibra de carbono, entre outros compostos mais variados de materiais.
Érico Fortes trabalha também com robótica e drones e devido à carência de peças específicas no mercado viu-se obrigado a arranjar uma solução, igualmente, válida para resolver o problema.
“Com algum conhecimento em modelação pode-se criar facilmente um objecto e imprimi-lo. Um objecto que é importado dos Estados Unidos da América ou da Europa demora dois meses chegar a São Vicente, mas é algo que posso fazer em muitos em impressão 3D. Isto é aplicável na área da saúde, da mecânica, da engenharia, da agricultura e de várias outras”, fundamenta o professor de informática.
Neste sentido, Fortes diz acreditar que o curso de iniciação modelagem 3D é uma forma de incentivar as pessoas a criarem ideias, conceitos e objectos e lembra que a técnica pode, ainda, ajudar a reduzir “e muito” os custos, por exemplo, de importação de um objecto.
Empreendedorismo 3D
Com o advento da pandemia de covid-19 em Cabo Verde a impressão 3D, que já era uma ferramenta de trabalho de Érico Fortes, pôde transformar-se numa oportunidade de negócio.
Esse docente universitário conta que, com a chegada da covid-19 e com entrada do país em estado de emergência, no ano passado, deu-se uma rotura de estoque dos equipamentos de protecção individual (EPI’s). Com o mercado, nacional e internacional, a apresentar dificuldades em suprir a demanda daqueles materiais. A partir daquela altura, Fortes começou a desenhar e imprimir as suas próprias viseiras e óculos de protecção. “Algo de péssimo”, como uma pandemia, estimulou-o a “treinar ainda mais e a ser mais criativo”.
“Num primeiro momento comecei a produzir viseiras para doação a algumas instituições, depois comecei a ser solicitado
pessoas particulares e comecei a vender viseiras impressas em 3D. Neste sentido, foi uma oportunidade acabou por se transformar num negócio”, destaca o docente.
Relação custo/benefício
Apesar das vantagens já apontadas da impressão em 3D, Érico Fortes admite que em Cabo Verde os custos com a impressão em 3D ainda são um pouco elevados, pois, não são todas as pessoas que condições financeiras para comprar uma impressora 3D. Este equipamento pode variar de dezenas a centenas de contos. Além disso, há que contar ainda com os custos adicionais com a sua manutenção, bem como com a adquirir a matéria-prima.
Por exemplo, um rolo de 1 kg de poliácido láctico (PLA), sendo um material semelhante ao utilizado nas embalagens de plástico biodegradável, pode custar cerca de 4 mil escudos. Sendo que este um tipo de matéria-prima é mais utilizado para fins recreativos e um dos materiais utilizados na Casa da Ciência.
O Futuro
Com a impressão 3D, o consumo no futuro poderá ser “just in time”, com qualquer pessoa a ter a oportunidade de adquirir a “modelagem” do objeto ou coisa desejados e imprimi-los em casa quantas vezes quiser.
Às vezes, as novidades e tecnologias podem assustar, pelo facto de não sabermos com lidar com elas e nem mesmo de sabermos quais serão as consequências. Com a impressão 3D pode construir uma prótese para uma pessoa amputada e, enquanto se imprime uma arma de fogo completamente funcional. Aqui, o mais relevante será encontrar formas de controlar o possível – e previsível - lado negativo dessa tecnologia e aproveitar, ao máximo, as suas potencialidades.