A Nacao

Impressão 3D: imprimir a imaginação

- O fabrico aditivo ou, simplesmen­te, impressão 3D ainda é um universo por explorar no país, mas já dá os primeiros passos através da Casa da Ciência do Mindelo, um projecto do Pólo da Universida­de de Cabo Verde (Uni-CV), na ilha do Monte Cara. Carlos Alves

As impressora­s 3D criam os objectos, camada por camada, com os mais variados tipos de matéria-prima, de forma semelhante a que as impressora­s tradiciona­is criam imagens de pontos de tinta ou ‘toner’, mas em três dimensões.

Com esta tecnologia pode-se criar qualquer objecto, desde peças de foguetão, próteses, réplicas, óculos de sol, um carro de dois lugares, uma casa, um barco a remos, um protótipo de ouvido biónico ou até tecidos vivos.

O que antes parecia ter saído da ficção científica é cada vez mais uma realidade. Realidade que a Casa da Ciência da Uni-CV, em São Vicente, possibilit­ou a um grupo de dez formandos na primeira edição do curso em “Modelação e Impressão 3D para Iniciantes”.

O curso, que teve início a 18 de Maio e decorreu até 22 de Junho, com uma carga horária de 20 horas, foi ministrado pelo docente em ciências da computação e presidente da Casa da Ciência, Érico Fortes.

Em entrevista ao A NAÇÃO, Érico Fortes explica que o projecto visou estimular a curiosidad­e dos jovens sobre uma área muito promissora.

“Tentámos ser criativos e levar a ciência, nas mais diversas formas, à comunidade estudantil e não só. Não me considero um especialis­ta em modelação 3D, mas sim um curioso, então, começamos a estruturar o programa e decidimos avançar com um curso”, começa por explicar Érico Fortes.

Inicialmen­te pensado para alunos do ensino secundário, a formação acabou por ser alargada aos universitá­rios e “todas as pessoas que tivessem o interesse em participar e o comprometi­mento em aprender para depois replicar o conhecimen­to adquirido”. Devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19, a Casa da Ciência optou pelo número máximo de dez participan­tes.

O curso deu a conhecer aos jovens todo o processo de modelação 3D, isto é, desde a fase de criação de um modelo em três dimensões das peças (o desenho), a fase de impressão e a pós-impressão.

Impacto da impressão 3D na sociedade

A impressão 3D, mesclada com pessoas motivadas a solucionar pequenos problemas do quotidiano, pode transforma­r completame­nte a vida das pessoas e até salvando vidas.

Segundo o docente, quase todos os objectos imaginávei­s são possíveis de se produzir, através da impressão 3D. Dependendo apenas do tipo da matéria-prima, do tamanho da peça, da qualidade desejada, da velocidade de impressão, “e com várias aplicações no dia-a-dia, independen­temente da área que serão utilizadas.

Para impressões de peças ou objectos 3D mais funcionais as indústrias especializ­adas utilizam matérias como ABS (acrilonitr­ilo butadieno estireno), o nylon, TPU (poliuretan­o termoplást­ico), a fibra de carbono, entre outros compostos mais variados de materiais.

Érico Fortes trabalha também com robótica e drones e devido à carência de peças específica­s no mercado viu-se obrigado a arranjar uma solução, igualmente, válida para resolver o problema.

“Com algum conhecimen­to em modelação pode-se criar facilmente um objecto e imprimi-lo. Um objecto que é importado dos Estados Unidos da América ou da Europa demora dois meses chegar a São Vicente, mas é algo que posso fazer em muitos em impressão 3D. Isto é aplicável na área da saúde, da mecânica, da engenharia, da agricultur­a e de várias outras”, fundamenta o professor de informátic­a.

Neste sentido, Fortes diz acreditar que o curso de iniciação modelagem 3D é uma forma de incentivar as pessoas a criarem ideias, conceitos e objectos e lembra que a técnica pode, ainda, ajudar a reduzir “e muito” os custos, por exemplo, de importação de um objecto.

Empreended­orismo 3D

Com o advento da pandemia de covid-19 em Cabo Verde a impressão 3D, que já era uma ferramenta de trabalho de Érico Fortes, pôde transforma­r-se numa oportunida­de de negócio.

Esse docente universitá­rio conta que, com a chegada da covid-19 e com entrada do país em estado de emergência, no ano passado, deu-se uma rotura de estoque dos equipament­os de protecção individual (EPI’s). Com o mercado, nacional e internacio­nal, a apresentar dificuldad­es em suprir a demanda daqueles materiais. A partir daquela altura, Fortes começou a desenhar e imprimir as suas próprias viseiras e óculos de protecção. “Algo de péssimo”, como uma pandemia, estimulou-o a “treinar ainda mais e a ser mais criativo”.

“Num primeiro momento comecei a produzir viseiras para doação a algumas instituiçõ­es, depois comecei a ser solicitado

pessoas particular­es e comecei a vender viseiras impressas em 3D. Neste sentido, foi uma oportunida­de acabou por se transforma­r num negócio”, destaca o docente.

Relação custo/benefício

Apesar das vantagens já apontadas da impressão em 3D, Érico Fortes admite que em Cabo Verde os custos com a impressão em 3D ainda são um pouco elevados, pois, não são todas as pessoas que condições financeira­s para comprar uma impressora 3D. Este equipament­o pode variar de dezenas a centenas de contos. Além disso, há que contar ainda com os custos adicionais com a sua manutenção, bem como com a adquirir a matéria-prima.

Por exemplo, um rolo de 1 kg de poliácido láctico (PLA), sendo um material semelhante ao utilizado nas embalagens de plástico biodegradá­vel, pode custar cerca de 4 mil escudos. Sendo que este um tipo de matéria-prima é mais utilizado para fins recreativo­s e um dos materiais utilizados na Casa da Ciência.

O Futuro

Com a impressão 3D, o consumo no futuro poderá ser “just in time”, com qualquer pessoa a ter a oportunida­de de adquirir a “modelagem” do objeto ou coisa desejados e imprimi-los em casa quantas vezes quiser.

Às vezes, as novidades e tecnologia­s podem assustar, pelo facto de não sabermos com lidar com elas e nem mesmo de sabermos quais serão as consequênc­ias. Com a impressão 3D pode construir uma prótese para uma pessoa amputada e, enquanto se imprime uma arma de fogo completame­nte funcional. Aqui, o mais relevante será encontrar formas de controlar o possível – e previsível - lado negativo dessa tecnologia e aproveitar, ao máximo, as suas potenciali­dades.

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Formandos 3D
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Érico Fortes
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Impressora 3D
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