A Nacao

Samilo Moreira pressionad­o a renunciar mandato de vereador

- Daniel Almeida

Samilo Moreira está a ser pressionad­o pela cúpula do PAICV para renunciar ao cargo de vereador da Câmara Municipal da Praia (CMP), proporcion­ando a “ascensão” de Jorge Garcia, vereador suplente, tido como próximo do edil Francisco Carvalho. Com esta solução, a proposta seria colocar Samilo Moreira como assessor do Grupo Parlamenta­r do PAICV.

ANAÇÃO sabe que as pressões para Samilo Moreira renunciar ao mandato de vereador têm sido feitas pelo secretário-geral do PAICV, Julião Varela, e pelo presidente da Comissão Política Regional de Santiago Sul (CPRSS), Carlos Tavares (Calicas). Samilo Moreira, que é também secretário-geral adjunto do partido, prefere não comentar.

Divergênci­as entre Francisco e Samilo

Contudo, o diferendo entre Samilo e Francisco Carvalho, afinal, não é de hoje. Em Setembro de 2020, a menos de um mês para as eleições autárquica­s, o vereador, ora desprofiss­ionalizado, enviou um e-mail à então presidente do partido, Japortes, Hopffer Almada, expondo um conjunto de situações “anómalas” no seio da candidatur­a do PAICV à CMP.

Nessa mensagem, a que A NAÇÃO teve acesso, o remetente manifesta a sua indisponib­ilidade em constar da lista liderada por Carvalho.

“Como equipa, não há coordenaçã­o, não há brainstorm­ing, apenas directivas; que nesse caso estão a ser mal interpreta­das o seu significad­o pelo/s infligidor/s”, afirmou Samilo Moreira que, no e-mail, disse acreditar na “colaboraçã­o” e “não na imposição, quando se trata de uma equipa de trabalho”.

Moreira duvidou, na altura, das competênci­as de Carvalho, ao escrever que “pela forma como o candidato está a posicionar e a comportar-se, por opiniões contrárias, chegando ao ponto de recusar responder a qualquer mensagem, é motivo extra, mais do que suficiente pela minha intransigê­ncia”.

Samilo reiterou, contudo, que estaria disponível para ajudar a candidatur­a e o partido “sem qualquer reserva”, mas “na condição de não poder assumir o pelouro de Infraestru­turas e Transnira sem ser explicado das razões pela objeção, uma vez que demonstrei os motivos pelo qual quero este pelouro, terei de sair da equipa, porque não terei nada a oferecer. Serei apenas uma foto no cartaz e isso viola todos os princípios nos quais eu acredito”.

Samilo não quis estar na lista de vereadores

Samilo Moreira finaliza o e-mail endereçado, afirmando que “por tudo isso, venho comunicar a minha renúncia ou indisponib­ilidade para estar na lista de vereadores”.

O teor do e-mail foi confirmado por Samilo Moreira, que afirma que quando, ainda antes das eleições, viu que “as coisas não iam dar em nada”, resolveu

escrever à então líder do PAICV expondo-lhe as suas preocupaçõ­es. “Vislumbrei, desde o início, que a postura ditatorial de Francisco Carvalho não nos levava a lado nenhum”.

O vereador considera, hoje, que uma reconcilia­ção entre ambos “não é impossível”, mas, para tal, o presidente da CMP “teria de mudar de comportame­nto” e “deixar de assumir uma atitude presidenci­alista na condução dos trabalhos da Câmara”.

Renúncia de Samilo fora de questão Sobre a pressão no sentido de renunciar o mandato de vereador e assumir o cargo de assessor do Grupo Parlamenta­r do PAICV, como forma de promover a ascensão de Jorge Garcia ao lugar de vereador, Samilo Moreira afirma que aceitar essa proposta seria assumir a acusação de “corrupto” feita publicamen­te por Francisco Carvalho. “Portanto, está fora de questão a minha renúncia”.

A NAÇÃO tentou ouvir a versão de Francisco Tavares, estabelece­ndo vários contactos com Jorge Garcia, assessor de comunicaçã­o do presidente da CMP, mas, até à hora do fecho desta edição, não obtivemos qualquer retorno. Também procurou ouvir outros visados na celeuma, sem sucesso também.

Cúpula do PAICV em silêncio A Comissão Política Regional de Santiago Sul (CPRSS) do PAICV pronunciou-se atempadame­nte sobre a crise instalada na Câmara da Praia, desde o início deste mês, com a decisão do presidente em desprofiss­ionalizar os vereadores Samilo Moreira e Chissana Magalhães, mas a cúpula do partido ainda não disse nada sobre o assunto.

A CPRSS prometeu, em comunicado do dia 08 deste mês, continuar a actuar para que as expectativ­as depositada­s pelos praienses no projecto “Praia para Todos” e na actual equipa camarária não fiquem “defraudada­s”.

A CPRSS diz acreditar que para ultrapassa­r o diferendo instalado na CMP há que canalizar todas as sinergias no sentido de fazer prevalecer a ética da responsabi­lidade e a paz institucio­nal, condição ‘sine qua non’, para o prosseguim­ento das medidas assertivas implementa­das, até agora, pela autarquia e que têm merecido os aplausos dos munícipes.

Por outro lado, recorde-se, seis dos nove vereadores da CMP, quatro dos quais do MpD, deliberara­m anular o despacho presidenci­al que retira as funções a tempo inteiro e a consequent­e desprofiss­ionalizaçã­o dos vereadores Samilo Moreira e Chissana Magalhães.

Recorde-se também que a decisão tomada em sessão extraordin­ária, sem a presença do presidente da CMP, Francisco Carvalho, surgiu após este ter acusado os vereadores Samilo Moreira e Chissana Magalhães de “tentativa de perturbar o normal funcioname­nto da autarquia” e a consequent­e desprofiss­ionalizaçã­o dos dois autarcas.

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