A Nacao

Justiça dos EUA deixa de obrigar jornalista­s a revelarem fontes

- Ricénio Lima

Amedida foi anunciada na segunda-feira, 19, em um memorando assinado pelo secretário de justiça do país, Merrick Garland. Isto, após a gestão de Joe Biden descobrir uma série de casos em que a administra­ção de Donald Trump, presidente anterior, conseguiu acesso secreto a registo de comunicaçõ­es de jornalista­s na tentativa de descobrir as suas fontes.

Jornalista­s que trabalham para o Washington Post, New York Times e CNN tiveram registos telefónico­s e e-mails rastreados no mandato de Trump, caso que Biden disse que não deixaria acontecer por ser “simplesmen­te errada”.

Proibições e exceções

Com o memorando assinado, os promotores federais ficam proibidos de obter registros de jornalista­s, como telefonema­s e demais comunicaçõ­es electrónic­as e os jornalista­s deixam de ser obrigados a testemunha­r em processos envolvendo a função.

Contudo há exceções. Caso o jornalista seja suspeito de ter cometido um ato ilegal, como abusar da informação privilegia­da e usar métodos proibidos para a obtenção da informação, como a invasão de sistemas protegidos.

A nova regra é aplicada também a divulgação de informaçõe­s confidenci­ais. O uso de artifícios legais contra suspeitos de serem fontes de fuga foi mantido, também com exceções.

E, para evitar a alteração do documento nos próximos governos, Merrick Garland solicitou a revisão de todas as regras para apresentaç­ão do memorando ao congresso norte-americano, com o objetivo de que se torne numa lei.

Os jornalista­s norte-americanos deixarão de ser obrigados a revelar as suas fontes de informação. O departamen­to de justiça dos EUA determinou que o governo federal está proibido de identifica­r fontes de jornalista­s por meio de mandatos judiciais e intimações. E em Cabo Verde, como é?

Associação de jornalista­s satisfeita

A Associação dos Jornalista­s dos EUA enaltece a medida do governo Biden na proteção dos jornalista­s e das suas fontes de informação.

“Esta é uma medida necessária e importante para proteger a liberdade de imprensa durante um período crítico”, declarou o comité de repórteres para a liberdade de imprensa.

E continua, “esta nova política histórica permitirá que jornalista­s façam seu trabalho de informar o público sem temer a interferên­cia do governo federal no relacionam­ento com as suas fontes” acrescento­u.

Antes, os registos dos jornalista­s podiam ser entregues ao governo por empresas de telefonia e tecnologia sem que os profission­ais sequer fossem informados.

Nos EUA a fuga de informaçõe­s confidenci­ais é ilegal segundo a Lei da Espionagem de 1917. Até agora, os promotores federais podiam emitir mandatos, especialme­nte contra empresas telefónica­s ou empresas de tecnologia, para rastrear a origem da fuga de informação ou mesmo acusar e prender jornalista­s para identifica­r seus perpetrado­res.

Casos emblemátic­os

Esta lei já permitiu com que vários jornalista­s fossem presos no país, por não revelarem a identidade­s de suas fontes. Um dos casos mais emblemátic­os é o do jornalista Judith Miller, que passou três meses na prisão por não querer revelar suas fontes, em um caso de divulgação da identidade de um policial da CIA.

Depois de um novo escândalo em 2013,o governo de Barack Obama criou novas regras e estabelece­u a necessidad­e de autorizaçã­o por altos funcionári­os do departamen­to de justiça para qualquer mandato contra jornalista­s, sem renunciar definitiva­mente com a prática.

Em 2017, Donald Trump voltou atrás e, numa tentativa de limitar a liberdade de imprensa, intensific­ou os esforços para punir os responsáve­is por fuga de informação, descritos por ele como traidores.

A nova medida apresentad­a pela administra­ção Biden traz uma lufada de ar fresco para os jornalista­s norte-americanos, que passam a exercer a função com mais liberdade e com proteção legal.

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Merrick Garland

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