A Nacao

Dóris Ferreira continua caminhando sobre rodas

-

Uma fracção de segundos pode mudar a vida de uma pessoa quando se envolve num acidente rodoviário. As consequênc­ias são cicatrizes e traumas para quem sobreviveu. Mas para Dóris Christian Ferreira, de 39 anos, foi uma oportunida­de de recomeçar a vida. Deu a volta por cima e hoje segue caminhando sobre rodas. Criselene Brito

18 de Dezembro de 2015 seria um dia de alegrias, pelo menos foi o que Dóris Ferreira pensou. Nessa data, em plena quadra festiva, lá foi ela ao jantar de Natal do trabalho, onde dançou e festejou, mas a noite não terminou com um banho de piscina, como o planeado.

“Lá vamos nós, música alta, velocidade extrema, gritos, sirene. Quando dei por mim, estava no carro com mais colegas, alguns conseguira­m sair, mas eu não, não conseguia mexer as pernas. Quando vi que não havia sangue eu disse ‘Ah, vai ficar tudo bem!’”, mas não ficou.

Paraplégic­a

Dóris estava paraplégic­a, com uma lesão completa na medula. Foi operada de urgência, no Hospital Agostinho Neto, e evacuada para Portugal, cinco dias depois, onde ficou internada e foi novamente operada.

“Depois da primeira operação de emergência em Cabo Verde, durante a qual lhe foram retirados os ossos partidos, para depois ser feito um ajuste, tive que esperar que passasse a época natalícia para ser efectuada a segunda operação. A 29 de Dezembro foi feita a fixação e tive que ficar quase um mês deitada e só conseguia me virar com ajuda dos enfermeiro­s”, faz saber.

Entre o hospital de São José, em Lisboa, e o Centro de Reabilitaç­ão do Hospital Curry Cabral, Dóris enfrentou um longo processo de auto aceitação, de fisioterap­ia e de “cura”.

“Ao saber que estava paraplégic­a, nunca perguntei aos médicos se voltaria a andar, estar viva bastava-me. E apesar de ter que desfazer-me dos meus pertences, da minha casa, de ficar longe do meu filho, comecei o processo de ‘cura’ em Portugal, e hoje entendo o que aconteceu e dou graças a Deus por ter conseguido ultrapassa­r essa fase. Faço de tudo, sou activa, considero-me independen­te e vou levando a vida sempre a sorrir”, afirma.

Partilha de experiênci­a

Depois de um ano do acidente, em 2016, Dóris resolveu criar o blog “Caminhando sobre Rodas”, onde partilha as suas lutas, conquistas e fraquezas.

“O blog nasceu da necessidad­e que eu tinha em tanto partilhar a minha vida com os que já passaram por um acidente, como também com as pessoas no geral, para que tenham prudência nas estradas e para não conduzirem se estiverem sob efeito de álcool”, alerta Dóris, acrescenta­ndo que o álcool é a razão por ela estar numa cadeira de rodas.

“Eu senti, eu vivi e vivo as consequênc­ias do abuso do álcool e isso me faz ter o dever de alertar sobre esse problema muito presente na nossa sociedade”, confessa.

A jovem, que prima a visão positiva e a necessidad­e de conscienci­alizar as pessoas, participa em campanhas sobre o uso abusivo do álcool e as suas consequênc­ias.

Hoje, seis anos após o acidente, Dóris Christian Ferreira, 39 anos, trabalha, faz tudo o que fazia antes. O ritmo é mais lento, diferente daquele andar apressado de 2015, mas ela continua a caminhar... sobre rodas.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Cabo Verde