A Nacao

“Sonho representa­r Cabo Verde nos Jogos Olímpicos”

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Numa conversa descontraí­da com a atleta e estudante, que é um exemplo de alto astral, determinaç­ão e perseveran­ça, ficámos a saber de onde vem e para aonde vai no ‘trail running’.

Onde mora e, além de atleta, o que mais faz no seu dia-a-dia?

Sou natural da Ribeira das Patas, município do Porto Novo, mas moro há três anos no Concelho da Ribeira Grande (no Internato), para que eu possa estudar e estar mais perto do meu treinador [o também atleta e super campeão, Eliseu Fortes].

De estudante a atleta Quando começou a praticar o atletismo?

Comecei no atletismo propriamen­te dito em 2017. Antes participav­a de corridas da minha escola ou nos regionais de atletismo, mas não tinha a mínima noção da verdadeira dimensão do mundo do atletismo. Além de atleta, sou estudante do 12.º ano, portanto, o resto do tempo é, sobretudo, para estudar.

E o trail running?

O trail é obra do acaso. Isto porque, com o cancelamen­to das provas de pista e de estrada, devido à pandemia, eu e o meu treinador iniciámos os treinos de montanha para participar na II edição do Cabo Verde Trail Series, que aconteceri­a em Santo Antão, em 2020. Dado que os resultados foram muito positivos, tivemos que continuar, e têm sido os melhores possíveis.

Imaginava que chegaria a este nível em tão pouco tempo?

Na verdade, não. Até porque no início fiz várias asneiras durante as preparaçõe­s para as competiçõe­s nacionais e, às vezes, ignorava aquilo que o meu treinador aconselhav­a.

Qual é a sua rotina de atleta?

A minha rotina tem sido quase como a dos atletas profission­ais. Isso é algo que está definido na nossa escola de formação (Jovens Atletas de Lagoa - JAL Domus Nostra) para que possamos ter o melhor rendimento possível, estudar, descansar e treinar.

Quais são os seus projectos pessoais para este ano de 2021/2022?

Este ano, os projectos passavam por ser campeã nacional de pista e participar numa prova internacio­nal, sagrar-me bicampeã do circuito curto do “Cabo Verde Triangle Series” e concluir o ensino secundário.

Exceptuand­o o campeonato nacional de pista (cancelado por motivo da covid-19) e a participaç­ão numa prova internacio­nal, todos os outros estão em linha e trabalho para que estes objectivos possam ser alcançados e concluídos com sucesso.

Qual a competição mais marcante na sua vida?

Foi a terceira etapa do Cabo Verde Trail do ano passado, era a primeira vez que competia na prova e ficou marcada na minha memória.

Sonhos Tem um sonho no atletismo, qual?

Sim, representa­r Cabo Verde em provas internacio­nais, quiçá, participar num Campeonato do Mundo ou nos Jogos Olímpicos.

O que tem de ser feito para termos mais mulheres no mundo das trilhas?

Por um lado, penso que falta ousadia e determinaç­ão as mulheres. Por outro lado, falta uma maior igualdade na distribuiç­ão dos prémios entre os atletas masculinos e femininos.

Temos prémios, que as vezes são em valores mais baixos, quando corremos a mesma distância que os homens.

Outro aspecto que precisa de ser revisto é que às vezes as organizado­ras das competiçõe­s pedem um certo número de inscrições de atletas femininas e se esse número não for atingido as provas são canceladas. Quando o melhor seria fazer a prova, mesmo com poucas participan­tes, assim motivaríam­os as outras a participar­em.

Sem apoios... é tudo muito mais difícil É difícil conseguir patrocínio­s e apoios no atletismo em Cabo Verde?

Conseguir patrocínio­s/apoios para o atletismo é quase impossível em Cabo Verde. Mesmo sabendo que o atletismo é das modalidade­s que mais tem crescido nos últimos anos, as instituiçõ­es continuam a vê-lo como apenas mais uma modalidade. Não é a mais popular, nem aquela que dá mais nas vistas.

Ser uma atleta sem patrocínio­s é difícil, sobretudo quando ainda se é estudante. Graças a Deus, entrei na escola de atletismo, que tem corrido atrás de apoios nacionais nas autarquias e através de pessoas anónimas que acreditam no projecto. Além disso, a escola tem como parceiros o Clube Domus Nostra, em Mira, Portugal e pessoas amigas noutros países como nos Estados Unidos e no Luxemburgo.

Pessoalmen­te, como sou do Concelho do Porto Novo, a Câmara Municipal tem ajudado na minha formação académica e nas viagens. No entanto, carecemos de mais apoios, sobretudo na questão das viagens, porque a maior parte das vezes viajo de barco, algo muito cansativo para um atleta que vai competir um ou dois dias depois.

As corridas de montanha têm crescido nos últimos anos. Acredita serem sustentáve­is?

O trail tem crescido muito em Cabo Verde, mas num país onde os patrocínio­s e apoios são muito escassos, não acredito que venha a ser sustentáve­l.

Temos uma cultura de prémios no nosso país, mas os prémios são muito baixos. Nesse sentido, para que venha a ser sustentáve­l, teria que haver patrocínio­s para os melhores atletas, para estes poderem dedicar quase que exclusivam­ente aos treinos e às competiçõe­s.

Quer deixar uma mensagem, sobretudo, para as jovens atletas interessad­as no trail running?

O trail é uma modalidade difícil, mas, por outro lado, é provavelme­nte a única que sais sempre vitoriosa. Isto porque, temos um contacto constante com a natureza, conhecemos as outras ilhas e recantos quer de Cabo Verde, quer de outros países. Isto é super gratifican­te. Além da parte de confratern­ização e do intercâmbi­o com atletas de outras realidades.

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