A Nacao

“O meu lugar no mundo é aqui, em Cabo Verde,” nas ilhas

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Já conseguiu recuperar alguns quilos depois da campanha?

Estou neste processo de recuperar, sim, alguns quilos (risos).

“Vou ter saudades das minhas aulas” Agora que volta a assumir uma função política, ao mais alto nível, o que mais vai ter saudades da vida de cidadão comum?

Vou ter saudades das minhas aulas. Era o que mais gostava de fazer, dar aulas, depois conversar com os estudantes no corredor. Ouvia coisas muito interessan­tes, que temo não poder ouvir com a mesma simplicida­de, e sem quaisquer condiciona­mentos, porque, estando à paisana, os jovens diziam tudo.

Temo não poder ouvir as mesmas coisas. Passei a ouvir tudo nos corredores da universida­de, nas filas, nos supermerca­dos, ou num café. Ouvia de tudo. Mesmo a forma como as pessoas falam do presidente, do primeiro-ministro, dos ministros, dos partidos, dos políticos, e vou estar muito mais atento porque já sei o que vão dizer de mim (risos).

Vai ter tempo para continuar a ler?

Vou fazer um esforço para ler. Neste momento estou a ler três livros. Um do Daniel Innerarity, sobre a complexida­de da democracia, estou a ler um livro do Carlos Lopes, “A transforma­ção em África” e estou a ler “Pedro Pires Combatente”, que é uma entrevista de fundo, feita pela Fundação Getúlio Vargas, no Brasil, no quadro de um processo documental que eles têm.

É o primeiro estrangeir­o que eles estão a entrevista­r. É extremamen­te interessan­te, sobre o percurso dele, desde a família no Fogo, depois a presença dele em Portugal, a fuga, a luta, a independên­cia e todo o percurso político dele, que é extremamen­te interessan­te, enquanto uma das referência­s políticas aqui de Cabo Verde.

E vai ter tempo para continuar a escrever?

Tenho algumas notas, que fui fazendo durante a campanha eleitoral, sobre a campanha. Eu gostaria de poder publicar um livro sobre a campanha. Não sobre como montamos a campanha - que também tem alguma questão de interesse, como chegámos ao lema e essas coisas todas - , mas, sobretudo, as minhas impressões dos contactos com as pessoas. Vou ver se será possível, porque também tenho pendente a tese de doutoramen­to.

Um herói?

Eu poderia falar de duas grandes referência­s minhas: Amílcar Cabral e Nelson Mandela.

“Sou uma pessoa muito corajosa, que dá o corpo ao manifesto” Um medo que tráz consigo?

Eu não tenho muitos medos. Sou uma pessoa muito corajosa, que dá o corpo ao manifesto. Para mim, os obstáculos existem para serem ultrapassa­dos e gosto de superar-me, em todos os momentos. Eu não sinto receio, não tenho medo. As pessoas, às vezes, até ficam um pouco incrédulas, quando vêem que eu enfrento os desafios com muita determinaç­ão, mas sem nenhum receio e com muita tranquilid­ade também.

O seu lugar preferido no mundo?

O meu lugar no mundo é aqui, em Cabo Verde, nas ilhas. Eu tenho uma amor ilimitado por Cabo Verde. Eu não me vejo na emigração. Quando estou fora, estou sempre com alguma angústia. Gostaria de estar, eventualme­nte para ver a secura das ilhas. Esse contraste, do castanho e o azul é muito lindo. Cada ilha mais linda do que a outra, o que faz de Cabo Verde um pais lindíssimo. Um país que tem algo que é como se fosse um íman. Que atrai e que pega as pessoas. Os cabo-verdianos e os que veem de fora.

Uma viagem por fazer?

Eu gostaria, imensament­e, de conhecer o Egipto e toda aquela área. Desde Israel, Egipto, Belém, Nazaré e todas aquelas áreas que veem na Bíblia e do nascimento de Cristo. Gostaria também de conhecer o Iraque, a Turquia… Essa região histórica que vem de há muitos séculos. É uma região que gostaria de conhecer pela sua riqueza cultural, e por tudo o que tem de representa­ção.

“Tenho sido muito abençoado por Deus. Tenho cumprido todos os meus sonhos” Um sonho?

Eu tenho sido muito abençoado por Deus. Tenho cumprido todos os meus sonhos, tudo o que eu sonhei tenho conseguido realizar.

Tem sorte então?

Acho que sou uma pessoa de sorte, uma pessoa abençoada, e gostaria de ver os meus filhos felizes.

O que ainda o emociona?

Sou uma pessoa muito sensível. Às vezes me emociono com um abraço, com uma palavra, com pequenos factos do quotidiano. Às vezes fico emocionado e vou escrevendo também sobre essas emoções. Não se sabe, recentemen­te, treze das letras que escrevi foram musicadas no projecto Alma e, portanto, expresso um pouco das emoções de cada momento.

O que não suporta?

A deslealdad­e. Gosto muito de ser leal com as pessoas. A deslealdad­e é uma afronta para mim.

Três objectos que vai levar consigo para a Presidênci­a da República?

Não vou levar muitas coisas pessoais para a Presidênci­a. Levarei os meus livros, que são, basicament­e, o meu material de trabalho, os de consulta obrigatóri­a para o exercício das minhas funções, mas também as minhas leituras, o que terei de acompanhar no dia-a-dia. Para a residência oficial, ai sim, terei todos os meus objectos mais pessoais para a vida quotidiana do dia-a-dia.

Para terminar, numa palavra, o que deve ser um PR?

Um PR deve ser o pai da Nação. E deve fazer tudo para cumprir os deveres de um pai.

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