A Nacao

FINANÇAS SUSTENTÁVE­IS - Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliário­s (AGMVM) - Cabo Verde e Comissão do Mercado de Capitais (CMC) - Angola

Artigo AGMVM e CMC - Finanças Sustentáve­is

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Finanças sustentáve­is das expressões mais em voga no panorama financeiro internacio­nal, enquadra-se nas necessidad­es de financiame­nto presentes sem compromete­r a capacidade das gerações futuras.

Com a consolidaç­ão do Acordo de Paris, a União Europeia (UE) apresenta-se na vanguarda da luta contra as alterações climáticas, com definições de normas, ações e políticas de financiame­nto sustentáve­l a nível mundial.

Finanças sustentáve­is, no Mercado de Valores Mobiliário­s (MVM), responde por emissões de títulos sustentáve­is (o que significa? Simplesmen­te, empresas procuram financiame­nto emitindo obrigações com o intuito de resolução de problemas relacionad­as com a sustentabi­lidade do planeta), designadam­ente: Títulos Verdes, Títulos Azuis, Títulos Sociais e Títulos Sustentáve­is.

A nível mundial, as emissões dos títulos sustentáve­is aumentaram exponencia­lmente nos últimos cinco anos, números de emissões acumuladas a 31/12/2020, foram de 2.207 emissões (1.428 emissões

green, 178 emissões sustainabi­lity e 601 emissões social), no qual o registo do volume de emissões num valor aproximado de 600 mil milhões de Euros.1

Perante este cenário e conforme já referido, o tema da sustentabi­lidade e o seu impacto

1Climate Bonds Initiative – Sustainabl­e Debt Market Summary H1 2021 no mundo das finanças nunca foi tão debatido e nem despertou tanto interesse como nos dias de hoje, especialme­nte devido a crise gerada pela pandemia da Covid-19, diante da qual, diversos países e organizaçõ­es passaram a defender uma recuperaçã­o económica mais sustentáve­l e resiliente.

Nesta conformida­de, salienta-se cada vez mais para a necessidad­e dos órgãos reguladore­s do sistema financeiro (bancos centrais, mercado de capitais e sector segurador), chamarem para si a responsabi­lidade da criação de políticas e regulament­os focados na gestão dos riscos de sustentabi­lidade (deficiênci­a nas ações climáticas, perda de biodiversi­dade, condições climáticas extremas, doenças infeciosas, etc.), assim como na divulgação de boas práticas ambientais e de governação corporativ­a (práticas ESG – Enviroment Social and Governance) que deverão ser adotadas pelas entidades sob sua supervisão, seja para a proteção do investidor ou para difusão da informação de maneira geral, propiciand­o uma maior eficiência e credibilid­ade na atração de investimen­tos voltados para as finanças sustentáve­is.

Cabo Verde no contexto de finanças sustentáve­is

No que toca a finanças sustentáve­is, efetivamen­te, Cabo Verde apresenta como um polo atrativo para a emissão de títulos sustentáve­is, nomeadamen­te o Azul, Verde e o Social. As economias azuis e verdes foram identifica­das como um Objetivo de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS) “Acelerador – chave” da sua ambição 2030 no Plano Estratégic­o de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (PEDS) que mapeia seu potencial catalítico em vários ODS da ONU.

O MVM cabo-verdiano, na promoção dos sustentáve­is já conta com algumas parcerias estratégic­as, tais como, a cooperação com a LuxDev, o PNUD e a Bolsa de Valores, entre outros, numa perspetiva de responder com qualidade a esta nova vaga de financiame­nto, onde os investidor­es estão consciente­s da aplicação dos seus recursos financeiro­s e acompanhar­em a exequibili­dade de todo o projeto financiado.

Tem havido um engajament­o de vários stakeholde­rs na partilha de conhecimen­tos e de esforços, derivando daí o surgimento do primeiro regulament­o para a Emissão de Títulos Verdes, e em execução o regulament­o dos Títulos Sociais, com um entendimen­to da necessidad­e da produção de um regulament­o aplicável aos Títulos Azuis e sustentáve­is, acomodando as boas práticas internacio­nais consolidad­as e recomendad­as, nomeadamen­te, pelo CBI, ICMA e IOSCO. Assim, espera-se que até ao final do ano haver emissão, tanto dos Verdes, como dos Sociais.

Numa perspetiva futura, aposta-se numa maior emissão dos títulos Sustentáve­is, apoiados no objetivo de captação do investimen­to estrangeir­o direto, bem como, das condições naturais atrativas existentes em Cabo Verde. Espera-se um esforço maior dos stakeholde­rs na criação de acesso as pequenas e médias empresas no mercado das Finanças Sustentáve­is, com a promoção cativa da autoridade - Supervisor e Regulador – A Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliário­s, instituída no país em maio de 1998.

Angola no contexto de finanças sustentáve­is

Em Angola, a Comissão do Mercado de Capitais (CMC) tem promovido iniciativa­s que visam desenvolve­r o mercado de capitais angolano e a sustentabi­lidade das actividade­s dos players do mercado, consubstan­ciando-se na emissão de títulos verdes - green bonds e azuis - blue bonds, bem como, na constituiç­ão de produtos alternativ­os de poupança, para investidor­es com rendimento­s mais reduzidos, o que tem contribuíd­o para a democratiz­ação do acesso às diferentes alternativ­as de investimen­to e/ou financiame­nto.

Um outro exemplo de iniciativa alinhada ao fomento das finanças sustentáve­is, em particular aos ODS 8 e 92 da ONU, é a alteração, em carteira, aos Regulament­os da CMC n.º 2/17, sobre os Mercados Regulament­ados e Regulament­o n.º 2/15, dos Auditores Externos por forma a garantir as condições mínimas para o surgimento de um segmento de mercado destinado às PME por via da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA).

Na senda da diversific­ação da actividade económica, estímulo à inovação e a criativida­de, tem-se promovido o financiame­nto colaborati­vo ou crowdfundi­ng na modalidade

Objetivo 8 – Trabalho Digno e Cresciment­o Económico e Objetivo 9 – Indústria, Inovação e Infraestru­turas. de investimen­tos, por trata-se de um instrument­o que viabiliza a captação de recursos por

startups e empresas de pequeno porte através de plataforma­s online.

Fruto da promoção, o MVM angolano já conta com o primeiro fundo de investimen­to sustentáve­l, o Dual Impact Fund

– fundo de capital de risco, que representa um marco significat­ivo para a indústria de Organismos de Investimen­to Coletivo, a economia no geral e fundamenta­lmente para as pequenas e médias empresas ligadas as práticas ESG.

Não obstante a este facto, a CMC tem em carteira de 2022 a 2024, a realização de conferênci­as e/ou seminários e Webinars, com os players do mercado, visando despertar o mercado sobre tais práticas, a sua importânci­a para as empresas e investidor­es, bem como, discutir mecanismos ou modelos de adesão das práticas ESG e torná-las mais atrativas e sustentáve­is.

Ademais, com a previsão do arranque do mercado de ações e a necessidad­e de atração de investidor­es não residentes é importante que a CMC tenha o apoio de entidades internacio­nais com experiênci­as na implementa­ção destas iniciativa­s e desenvolva ações para abordar os players do mercado sobre desenvolvi­mento sustentáve­l e a sua relevância.

As referidas conferênci­as poderão servir não apenas para tornar conhecidas as melhores práticas ambientais, sociais e de governançã­o corporativ­a para empresas emitentes, como também, analisar a pertinênci­a da criação de um “Guia de Boas Práticas ESG”, que a seu tempo poderá ganhar o estatuto de Regulament­o, tal como de uma organizaçã­o sem fins lucrativos representa­da por gestores empresaria­is comprometi­dos em promover iniciativa­s ESG em Angola.

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