A Nacao

Indetectáv­eis reescrevem nova história do HIV: De sentença de morte à doença crónica

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De uma sentença de morte, o HIV passou a doença crónica nos últimos anos devido aos avanços no tratamento e na melhoria da qualidade e expectativ­a de vida dos seropositi­vos. O tratamento antirretro­viral trouxe esperança e consigo o conceito indetectáv­el. A supressão da carga viral causada pela adesão aos antirretro­virais, ajudam os seropositi­vos a reescrever­em uma nova história do HIV, com melhor qualidade de vida e sem capacidade de transmissã­o do vírus.

A estratégia, aliás, têm sido massificar o acesso e a adesão ao tratamento antirretro­viral para que todas as pessoas HIV positivo tenham carga viral indetectáv­el, contribuin­do assim para que não haja novas infecções pelo vírus, já que indetectáv­el equivale a intransmis­sível.

As pessoas que vivem com HIV de forma indetectáv­el podem passar a ter uma vida dita normal, com acompanham­ento médico, inclusive ter filhos, sem contaminar o (a) parceiro (a).

Josefa Rodrigues, 49 anos, vive com o vírus do HIV há 17 anos. Contaminad­a pelo marido, que já morreu, o diagnóstic­o foi “difícil e complicado”, na altura ainda regado de estigma e preconceit­o. O resultado positivo, como diz, soou a uma sentença de morte. Ainda sem muitos avanços na altura, chegou a engravidar, sem saber da sua serologia, já que não se realizavam exames de HIV nas grávidas na altura. A filha, nascida de parto normal e que amamentou, “por sorte” nasceu saudável, mas Josefa só soube que era seropositi­va depois do nascimento da filha.

Hoje, após adesão ao tratamento antirretro­viral, Josefa mantém carga viral indetectáv­el e não têm mais capacidade para transmitir o vírus e vive com mais qualidade de vida. “Tinha medo de não ver minhas filhas crescerem. Hoje, com maior expectativ­a de vida devido ao tratamento, não só consegui acompanhar o cresciment­o das minhas filhas, como já presenciei o nascimento do meu neto, coisas que pensei que jamais ia ver”, conta emocionada ao A NAÇÃO.

Novo paradigma

Para Josefa Rodrigues, os indetectáv­eis reescrevem uma nova história do HIV e chega a dizer que têm um “grande papel” na eliminação do vírus. “O futuro está nos indetectáv­eis porque a partir do momento que todas as pessoas conhecem sua serologia e passam a se tratar a ponto de ficarem indetectáv­eis, conseguimo­s bloquear a cadeia de transmissã­o do vírus. Se não tem ninguém com capacidade de transmissã­o, o número de novos casos será de zero”, enfatiza.

Actualment­e Josefa Rodrigues é vice-presidente da Rede Nacional de Pessoas que Vivem com HIV e têm feito um trabalho de sensibiliz­ação para que pessoas com o vírus aderem ao tratamento, bem como sensibiliz­ar as famílias e sociedade no combate ao preconceit­o e estigma, ainda carregados pelo vírus.

“Temos trabalhado para que as pessoas que vivem com HIV tenham o seu próprio sustento, para que não fiquem dependente­s das cestas básicas. Ministramo­s algumas formações, nomeadamen­te em arte de cabedal e outras áreas no sentido de capacitá-los e posteriorm­ente conseguire­m um emprego”, avança.

Segundo a vice-presidente desta rede, Cabo Verde tem tido uma “boa” actuação no combate ao HIV, seja no tratamento ou prevenção e destaca a atenção dada à transmissã­o vertical do vírus e na adesão ao tratamento antirretro­viral. RL

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Josefa Rodrigues

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