Ressurgimento ou aumento de casos?
Esta reportagem não passou “pente fino” sobre todos os registos de doenças que o país registou nos últimos tempos. Apenas tomou como referência aquelas que “voltaram” neste período pandémico e que mereceram uma “atenção especial” na comunicação social, o caso de percevejo, conjuntivite e coceirinha.
Independentemente disso, é necessário entender porque é que estas doenças “ressurgiram” ao fim de vários anos e se estão ou não relacionadas com a covid-19. Em se tratando de pelagra, esta normalmente é vista como um alarme para situações de fome crónica, ou de subnutrição. Num país com longo historial de fomes, a confirmar-se o retorno dessa endemia, urge accionar os mecanismos de defesa da população em situação de carência nutricional.
Enquanto a sociedade acredita que estas doenças já tinham sido erradicadas no passado, daí a surpresa do seu “regresso”, o director de Serviço de Vigilância e Resposta do Ministério da Saúde, Domingos Teixeira, esclarece que, afinal, a coceirinha, os percevejos, entre outros males da mesma natureza, não podem nunca ser considerados erradicados.
“Percevejo não voltou em alta. Os mais jovens podem não o conhecer por estarem num meio onde a sua presença é menos perceptivel. Com a melhoria das condições de vida e de habitabilidade, a sua diminuição foi drástica, mas ela nunca acabou. Quando muito, são situações que foram sendo melhoradas com o uso de produtos de higiene geral e pessoal. As ocorrências, de um ou outro caso, sempre há nos Centros de Saúde, por exemplo. No entanto, por serem poucos os casos, são considerados irrelevantes”, afirma o interlocutor do A NAÇÃO.
Na mesma linha, Teixeira avançou que no caso da conjuntivite, esta “é uma doença comum nas épocas quentes e em todos os países há factores do seu surgimento”, pelo que “Cabo Verde não está fora deste círculo”.
“A conjuntivite pode surgir com mais ou menos intensidade, mas não é uma doença que possa ser considerada erradicada. Pode até passar despercebida um ano ou outro, não só pela quantidade, mas pela atenção que é dada pela comunicação social. Este ano, tivemo-la com uma dimensão maior. Começou na ilha de Santiago e alastrou-se a outras ilhas. Em Santiago está praticamente ‘sem’ casos neste momento, mas nas outras ilhas do Barlavento, ainda há registo de casos. É uma doença passageira”, explicou.
“Tendência é sempre para diminuir”
Domingos Teixeira diz que a tendência, a nível geral, é sempre para diminuir, sobretudo quando se refere à coceirinha. “A coceirinha é uma doença que, com o passar dos tempos, tem diminuído bastante. Eventualmente, em um momento ou outro, podem até aparecer mais casos, mas a tendência é para diminuir. Entre outras doenças e casos como percevejo, pulga, pulguinha, são ocorrências que, com o passar dos tempos, vamos deixando para trás, melhorando as condições de higiene e de habitabilidade das pessoas”.
Relações destes surtos com a pandemia
Questionado se o aumento de casos relativamente a estas doenças pode estar relacionado com a covid-19, o nosso entrevistado responde: “Não tivemos evidências de que a covid-19 mudou o curso destas doenças ou que estão relacionadas de alguma forma. O sistema de saúde de Cabo Verde resistiu bem, continuou a acompanhar todas as outras situações de programas de patologias com boa performance. Mas temos a consciência que de alguma forma nos concentramos mais na Covid-19, mesmo que sem desprimor das outras doenças”.
Neste momento, prosseguiu o nosso interlocutor, “tendo maior domínio sobre esta pandemia, estamos folgados para dar atenção devida às restantes endemias”, avançando que, ultimamente, o foco tem estado nas Doenças Crónicas Não Transmissíveis, Saúde Materna Infantil, entre outros programas correntes que devem fazer diferença em Cabo Verde e que sempre foi destaque na região.