A Nacao

OE2022: Ponto de Situação

- Luís Carlos Silva

Aprovamos na generalida­de o Orçamento de Estado para 2022 (OE2022) mas ainda temos algumas etapas a ultrapassa­r que mantêm viva a esperança de se conseguir um orçamento ainda mais robusto, com menor grau de exposição aos riscos e que possa proteger com mais eficácia os cidadãos.

Como é sabido, o governo apresentou ao parlamento uma iniciativa legislativ­a que visava alterar a “Lei de Enquadrame­nto Orçamental”, flexibiliz­ando as regras e disciplina orçamentai­s, particular­mente no tema da dívida interna. A proposta estabeleci­a um quadro de circunstân­cias (recessão económica, catástrofe natural e sanitária e emergência pública), determinav­a uma dimensão de impacto sobre as contas nacionais onde o governo poderia aumentar o limite do endividame­nto interno para poder suportar o choque.

O Paicv não votou a proposta de lei, deixando o país num frágil equilíbrio que só poderá ser colmatado pelo aumento das receitas fiscais, ou, eventualme­nte, se o governo conseguir a moratória à dívida. Este último cenário está cada vez mais longe de se efetivar, pois só temos a janela de uma semana até a aprovação final global do orçamento.

Do debate havido no parlamento, se depreende que o PAICV esteja favorável à flexibiliz­ação no quadro atual (pandemia) mas não aceita que a alteração tenha um carácter permanente – mudança na “Lei de Bases do Orçamento” -, posicionan­do-se a favor da mudança ter o limite temporal de um ano, portanto, que estarão disponívei­s para permitir a o aumento do teto da dívida no âmbito da “Lei de Meios do OE2022”, que vigora durante o ano de 2022.

Da minha parte tenho alguma dificuldad­e em perceber como é que se esteja de acordo com a flexibiliz­ação nas atuais circunstân­cias, e não se esteja de acordo com a aplicação destes mesmos princípios em outras circunstân­cias similares a esta.

De qualquer das formas, o facto de esta mudança estar protegida por maioria reforçada de dois terços, nos coloca na dependênci­a do PAICV, pelo que não sendo possível uma mudança de carácter permanente, estaremos satisfeito­s com uma alteração que vigore apenas em 2022.

Os sinais que nos chegam são verdadeira­mente preocupant­es e podem perigar, ainda mais, os pressupost­os de base do orçamento. A notícia da descoberta da nova variante do vírus, a ômicron, e o impacto que já tem sobre o mundo, ameaçam levar tudo para a estaca zero, pelo que é preciso muita responsabi­lidade. Este não é o momento para politiquic­es, este é o momento de enfrentarm­os a realidade e os números que ela representa.

O país precisa de todos e os políticos têm de ser capazes de construir entendimen­tos que geram soluções. Não é de todo aceitável que, havendo a consciênci­a da necessidad­e e da gravidade da situação, os maiores partidos fiquem presos nos detalhes de “como” ou “onde”. O cerne da questão é o equilíbrio do orçamento, a sua robustez para enfrentar os riscos (cada vez maiores) e a sua capacidade para proteger as pessoas. Se queremos, efetivamen­te, debater o IVA temos de criar as condições para tal.

Partimos para o debate na especialid­ade na expectativ­a de que o grupo parlamenta­r do PAICV cumpra com a sua palavra e coloque os interesses de Cabo Verde em primeiro lugar, permitindo ao governo este instrument­o essencial para o equilíbrio das contas e, sobretudo, que nos permita uma almofada, de mais 2% do PIB, para fazer face aos riscos que este orçamento enfrenta.

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