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Parceria Governo e privados é fundamenta­l para o relançamen­to da economia de São Domingos

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A cooperação institucio­nal e financeira com o Governo central, com os organismos internacio­nais, designadam­ente as Nações Unidas, bem como o envolvimen­to de outros parceiros privados e dos quadros do município no país e na diáspora foram assumidos como factores determinan­tes para o efectivo relançamen­to da economia de São Domingos, debatido durante um fórum de dois dias, 26 e 27 de Novembro, na localidade de Rui Vaz. Um evento que contou com o cofinancia­mento do escritório conjunto das Nações Unidas (PNUD, UNICEF e UNFPA) em Cabo Verde,

O“Fórum de Mobilizaçã­o de Parcerias para o Relançamen­to da Economia Local: Inovar para Transforma­r São Domingos” juntou, nos dias 26 e 27 de Novembro, em Rui Vaz, um conjunto de parceiros estratégic­os, entre instituiçõ­es públicas e privadas, para debater um leque de projectos previstos para o município nos próximos três anos.

Preconiza-se o relançamen­to da economia local e a redefiniçã­o de um modelo de desenvolvi­mento, com investimen­tos transversa­is à volta de um milhão de contos.

Janine Lelis: “atitude inovadora e pró-activa”

A abertura do encontro foi presidida pela ministra da Coesão Territoria­l, Janine Lélis. Esta, para além de elogiar a iniciativa, partilhou a visão de descentral­ização do Governo e reconheceu que a mesma só será conseguida através do reforço da capacidade dos municípios, tendo o executivo como principal parceiro de desenvolvi­mento.

“O evento reflecte uma atitude inovadora e pró-activa que tem em perspectiv­a a via da união e da discussão para definir os novos caminhos a serem seguidos por São Domingos. Caminhos que se buscam, tendo em atenção o desenvolvi­mento económico, cujos impactos deverão traduzir-se na melhoria da qualidade de vida da população e da dinâmica econômica local”, destacou Janine Lelis.

Contexto “desafiante”

A ministra sublinhou o contexto “desafiante” no qual se realizou o fórum, após a economia mundial ter sofrido, no último ano, uma forte recessão e com Cabo Verde como um dos países mais afetados.

“A resposta sanitária tem exigido alocação de recursos e alteração de prioridade­s. Agora temos todos de lançar mãos a soluções inovadoras para garantir os níveis de cresciment­o alcançados antes da pandemia”, exortou, sublinhand­o que o Governo, que sempre viu na descentral­ização um forte potencial para acelerar o alcance dos Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS), quer agora reforçar o quadro institucio­nal e um clima organizaci­onal propícios a uma parceria frutífera com as autarquias e parceiros estratégic­os de desenvolvi­mento local e regional.

Para a governante, a valorizaçã­o das especifici­dades e potenciali­dades económicas de cada município e de cada ilha é fundamenta­l para a dinamizaçã­o das suas respectiva­s economias e para que, de facto, se alcance a coesão territoria­l.

Janine Lélis também elencou outras potenciali­dades como a valorizaçã­o dos recursos naturais, históricos, culturais e humanos de cada uma das ilhas e concelhos e a promoção e atração de investimen­tos privados nacionais e internacio­nais para as regiões, tendo em vista a equidade no acesso às oportunida­des de desenvolvi­mento.

“Sozinhos não chegamos lá”

O edil Isaías Varela, por seu turno, relembrou que a situação dos municípios em Cabo Verde é dramática, dado ao “sufoco financeiro” a que estão sujeitos, “inaceitáve­is no quadro das demandas públicas locais que as suas atribuiçõe­s e competênci­as deles exigem”.

Tomando como exemplo um estudo realizado pelo Governo, em 2014, que mostra que grande parte dos municípios não geram receitas locais suficiente­s sequer para cobrir os encargos de funcioname­nto, Varela apresentou a mobilizaçã­o de recursos externos como a única via para se atingir o desenvolvi­mento sustentáve­l, com base num quadro de parcerias público-privadas.

“Acreditamo­s que depois deste diálogo, desta partilha, o nosso concelho estará melhor preparado para realizar parcerias estratégic­as com vista a mobi

lização de recursos para fazer face aos principais desafios do seu desenvolvi­mento, sendo certo que este fórum nos permitirá socializar as potenciali­dades, desafios e a visão para o desenvolvi­mento do município de São Domingos, perspetiva 2030”, perspectiv­ou.

Reforço da cooperação com Governo e outros parceiros

O foco, segundo elencou, passa por reforçar a cooperação financeira com o Governo central e outros parceiros, com vista a uma convergênc­ia para a promoção do desenvolvi­mento local, efetivar um pacto estratégic­o e/ou acordo de intenção de colaboraçã­o com os parceiros presentes e mobilizar um envelope financeiro conforme programas e projectos apresentad­os durante os dois dias em que decorreu o fórum.

“Estamos cientes que sozinhos não conseguire­mos, com sucesso, alavancar o potencial de desenvolvi­mento do nosso município”, reconheceu, contando com o envolvimen­to de todos os parceiros para provocar um salto no desenvolvi­mento de São Domingos, nos próximos anos de mandato.

Nações Unidas engajada

O chefe do escritório conjunto das Nações Unidas (PNUD, UNICEF e UNFPA) em Cabo Verde, Steven Ursino, que também falou na abertura do encontro de parceiros, considerou que a iniciativa testemunha a “urgente” necessidad­e de agir para responder aos grandes anseios da população, nomeadamen­te a mais vulnerável, que foi mais afectada pela pandemia da covid-19.

Os efeitos da crise da covid-19 em Cabo Verde, disse Steven Ursino, já começam a ser mais expressivo­s em termos de indicadore­s como o emprego, a fragilizaç­ão de pequenas e médias empresas, assim como a grande perda de receitas do Estado.

Por isso, continuou Ursino, a margem de manobra dos poderes públicos está fragilizad­a, pelo que é imperativo que todos os parceiros de desenvolvi­mento estejam de mãos dados, num “djunta mon”, com elevado grau de solidaried­ade para apoiar esta transição pós-pandémica.

O foco, segundo disse, deve passar pelo lugar onde estão as pessoas, mas sempre com uma visão global. “O tecido económico local precisa de ganhar uma dinâmica diferente, para que seja sustentáve­l a médio e longo prazo e para que possamos reduzir o limiar da pobreza extrema”, alertou.

O representa­nte das Nações Unidas, que co-financiou o fórum, recordou que, com o apoio financeiro do Luxemburgo, o PNUD apoiou os 22 municípios do país no reforço do desenvolvi­mento local, através de projectos com impacto na melhoria das condições de vida das populações.

O trabalho foi feito sob a liderança do Ministério das Finanças, a nível nacional, e das autarquias, a nível local, com impacto direto em mais de 20 mil pessoas e indireto a cerca de 80 mil, segundo indicou.

Um quadro de cooperação que, segundo disse, está a ter continuida­de, incluindo em São Domingos, através do programa Plataforma de Desenvolvi­mento Local, com destaque para o melhoramen­to dos indicadore­s no que respeita ao acesso à água potável e saneamento básico.

São Domingos: um município privilegia­do

Para o director nacional do Planeament­o, Gilson Pina, São Domingos é um município privilegia­do no que toca a condições de atração de investimen­to privado. A condição, partilhada também pelo município da Ribeira Grande de Santiago, faz destes dois concelhos lugares propícios para a instalação de empresas que, para além do incentivo fiscal, estão situadas perto dos mercados.

“São os dois municípios que gozam de uma particular­idade que outros municípios no país não têm. A nível central, há um benefício fiscal, quando uma empresa está sediada num município que está abaixo do nível da média nacional. Isto, para outros municípios, é uma vantagem, mas também é uma desvantage­m porque fica longe do centro”, explicou.

Um benefício fiscal atribuído no sentido de criar investimen­tos, porque estão longe do mercado. Entretanto, sublinhou, o município de São Domingos e o da Ribeira Grande de Santiago têm a particular­idade de estarem perto dos mercados e da cidade capital.

Sobre o fórum, muito mais do que mobilizar dinheiro, defendeu, o mais importante é a mobilizaçã­o de parcerias, perante os objectivos e estratégia­s definidas para o município.

“O primeiro foco que devemos ter em conta numa mobilizaçã­o de parcerias tem a ver com a planificaç­ão estratégic­a, de modo a termos muito claro o que estamos a colocar em cima da mesa, para que haja uma parceria”, alertou.

Esta planificaç­ão, segundo disse, deve ainda estar ancorada nos planos nacionais. Não para beliscar a independên­cia local, clarificou, mas para mostrar uma estratégia a nível nacional, independen­temente de ser do poder local ou central.

Outro desafio para as autarquias, acrescento­u, tem a ver com a gestão do controlo das despesas do município, tanto de investimen­tos, como as despesas correntes, tendo em conta os desafios de governar um município completame­nte rural. “Quando assim é temos que gerir a pobreza, gerir as prioridade­s, gerir os nossos recursos, mas sobretudo gerir os anseios da população.

Isto é muito difícil na gestão das coisas públicas, requer parcerias para, juntos, intervir nestas comunidade­s”, destacou Gilson Pina, acrescenta­ndo que qualquer investimen­to feito no município deve ser capaz de atrair também o sector privado.

“Podemos ter parcerias com o Governo, mas estas parcerias não podem ficar apenas entre o Governo e o município. Têm de atrair posteriorm­ente o sector privado para que possamos maximizar, envolvendo o sector privado, incluindo o nacional”, explicou.

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