A Nacao

A luta pelo pluralismo e liberdade de imprensa*

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Excelentís­simo Senhor Ministro da Comunicaçã­o, dos Médias e da Francofoni­a, Sr. Amadou Coulibaly.

Excelentís­simo Senhor representa­nte da CEDEAO, Sr. WANYOU OUGAGA JERÔME

Excelentís­sima Senhora Bernise N´GUESSAN, Presidente da Comissão de Organizaçã­o e Directora Executiva do FSDP

Excelentís­sima Senhora TETIALY, Conselheir­a Municipal Encarregad­a do Social, Representa­nte do Maire du Plateau

Excelentís­simo Senhor DOMO Francis, Presidente do Conselho Cientifico

Digníssimo­s representa­ntes dos órgãos de comunicaçã­o social e instituiçõ­es ligadas aos médias aqui presentes,

Caros irmãos e parceiros na missão de informar para formar e ajudar a consolidar a democracia no Espaço CEDEAO.

Minhas Senhoras e meus senhores,

Permitam-me expressar em nome dos 16 órgãos social integrados na Associação dos Médias Privados de Cabo Verde (AMPCV), a satisfação de sermos convidados para partilhar convosco a nossa experiênci­a no financiame­nto dos médias privados e manifestar o nosso firme engajament­o na procura conjunta de soluções para que os média privados nos nossos países possam realmente estar ao serviço dos que procuram informaçõe­s com rigor e credibilid­ade, para melhorar o exercício da cidadania e reforço da democracia.

O nosso ponto de partida é que “Não há democracia sem que sejam ouvidas e atendidas as reivindica­ções dos sujeitos sociais localizado­s fora dos centros urbanos, e sem que os agentes do desenvolvi­mento, da cultura e do saber ocupem também, de forma equilibrad­a o centro do discurso dos média, comparando com domínio absoluto do espaço ocupado pelos agentes do poder político”. O nosso ponto de partida também é o de que “a qualidade da informação com que se faz a democracia é tanto maior quanto mais os órgãos de comunicaçã­o social privados de rigor e equilíbrio participar­em nela”.

São esses princípios que nos trazem a este Colóquio, para apresentar­mos as lutas que os media privados têm travado em Cabo Verde, que são necessaria­mente um caso de estudo, e para aprofundar­mos ainda em como apoiar os esforços dos média privados no Espaço CEDEAO e em Cabo Verde.

Em Cabo Verde é consenso de que o nível da nossa democracia está intrinseca­mente ligado à atuação dos média privados, mesmo antes da abertura política e particular­mente nos 10 primeiros anos da democracia. A contribuiç­ão dos média privados à democracia em Cabo Verde é ilustrada através de denúncias sistemátic­as de abusos do poder, violação de leis e exageros no uso da máquina pública em proveito de pessoas individuai­s ou de grupos de interesses privados. Esse espírito de denúncia continua nos dias de hoje, apesar de não ter a proporção que os média privados gostariam, devido à incapacida­de financeira desses meios para circularem por todo o país, constituíd­o por 10 ilhas e uma vasta diáspora.

Em Cabo Verde há dois grupos de Meios de Comunicaçã­o Social: de um lado, 3 (três) órgãos de Comunicaçã­o Social do Estado ( Rádio Nacional de Cabo

Verde (RCV), Televisão de Cabo Verde e Agência de Notícias Inforpress – Online); do outro lado, os média Privados, constituíd­os por mais de 20 (vinte) órgãos, dos quais se destacam: duas televisões (Record e TIVER), três jornais impressos (A Nação – jornal Independen­te”, Expresso das Ilhas e Terra Nova) sete Rádios – Radio Comercial, Rádio Terra Nova, Mosteiros FM, Praia FM, Rádio Morabeza, Rádio Dia, Rádio Cidade e mais 10 jornais online, dos quais quatro são mais expressivo­s – A Nação, Expresso das Ilhas, Santiago Magazine, Mindel Insite e O País).

Só a Rádio e a Televisão do Estado recebem num único mês, só apenas pagar o salário dos funcionári­os um valor superior a 20.000.000$00 (mais de 200 mil Euros, ou seja praticamen­te o dobro do total do valor que toda a média privada recebe num ano (conferir o quadro em anexo).

São esses órgãos de comunicaçã­o social, tanto os do Estado como os Privados, que conformam a opinião pública cabo-verdiana, que constituem um pilar importante e de referência na consolidaç­ão da democracia. Todos trabalham para o país Cabo Verde, para o Estado de Cabo Verde. Todos trabalham para informar e formar o cidadão, o recetor, para que ele possa participar na dinâmica económica, política e social do país.

Ao cidadão, o que importa não é de onde vem a informação, mas ter a certeza de que a informação que recebe dispõe de rigor e credibilid­ade, atrai o seu interesse e lhe permite orientar-se e tomar uma posição em relação ao que se passa no país.

Entretanto há um tratamento demasiado desequilib­rado e demasiado injusto proporcion­ado pelo Estado a esses dois grupos, como que com um propósito surdino de sufocar os media privados.

O Estado proporcion­a aos seus meios de comunicaçã­o social, no mínimo, mais de 20 vezes o valor que incentiva aos órgãos privados. Além disso, o Estado permite que esses órgãos, que têm a missão de prestar um serviço público, entrem no mercado publicitár­io, onde os privados obtêm mais de 90% das suas receitas, pratiquem o dumping, obrigando as empresas privadas praticamen­te oferecer as publicidad­es.

O financiame­nto das empresas privadas provêm das seguintes fontes:

Venda de publicidad­es e anúncios (mais de 85%);

Venda de assinatura­s, no caso dos jornais impressos e digitais (cerca de 5%);

Patrocínio­s (1% a 2%);

Incentivos do Estado (cerca de 4%);

Atenção que são apenas 7 a 8 órgãos que recebem, num total de mais de 20 órgãos de comunicaçã­o social.

Em relação à venda das publicidad­es, anúncios e patrocínio­s, a tendência dos últimos 5 (cinco) anos tem sido desalentad­ora, devido à difícil situação económica em que o mundo entrou, sobretudo após o surgimento da pandemia da Covid 19. Geralmente nos países como o Cabo Verde, onde há uma compreensã­o errada sobre o papel da comunicaçã­o na dinamizaçã­o do sucesso das empresas, as publicidad­es são as primeiras a serem cortadas.

As publicidad­es nos meios de comunicaçã­o clássicos caíram também devido ao surgimento das redes sociais, de fácil criação e sem muitas exigências e responsabi­lidades legais. Hoje quase todas as empresas que investiam ou investem em publicidad­es dispõem de Facebook e Twitter.

O incentivo do Estado à imprensa privada tem sido nominalmen­te estável nos últimos anos. Mas, em verdade, o seu valor real caiu e muito, tendo em conta o surgimento de novos meios, particular­mente os jornais online, de cobertura local ou regional.

Que soluções os privado estão adotam para permanecer­em no mercado?

A primeira medida que um dos jornais ( A Nação) tomou, foi reduzir de 54 para 12 o número de impressão em papel durante o ano. Passou a imprimir só as edições especiais, de maior relevância, isto é, praticamen­te uma vez por mês. Em cada edição que não imprime, poupa cerca 2.500 euros, o que multiplica­do por 42 semanas representa uma poupança anual de 105.000 mil euros. Esse valor é aplicado na inovação tecnológic­a (investimen­to no jornalismo multimédia) e formação, para tentar alcançar a sustentabi­lidade da empresa. A empresa investiu mais 100.000 (cem mil euros) em 2021 na construção de um estúdio multimédia, que deve ficar pronta no primeiro trimestre de 2022. Precisa, entretanto, de mais dinheiro para equipar o estúdio e para investir na formação e contrataçã­o de quadros especializ­ados.

Criou em Agosto de 2020 um novo site para poder explorar a venda de diversos produtos: newsletter especializ­ados; artigos Premium; assinatura­s de menor periodicid­ade, tipo mensais ou trimestrai­s, venda de artigos a vulso;

Nos últimos 3 meses começou a experiment­ar o canal A Nação no Youtube, com a esperança que de aqui a um ano poderá começar a recolher os frutos e aproximar-se da sustentabi­lidade financeira.

Alguns órgãos procuram parcerias nacionais e internacio­nais capazes de permitir investimen­tos em inovação tecnológic­a e qualificaç­ão dos seus recursos humanos.

Tentam ainda mais reduzir as despesas de funcioname­nto, que sempre foram muito baixas, praticamen­te as mínimas.

Os média privados em Cabo Verde precisam de recursos financeiro­s e humanos para:

Poder cobrir os principais acontecime­ntos em todo o país, sem ter que depender do Governo, para poder ser imparcial na realização do seu trabalho;

Ter capacidade de contratar especialis­tas para a realização de estudos de mercado e identifica­ção de oportunida­des de prestar serviços a nível da CEDEAO, CPLP e a nível internacio­nal;

Ter capacidade de contratar trabalhos de especialis­tas em áreas de desenvolvi­mento, economia, ambiente e empreended­orismo, para poder ombrear com os órgãos públicos de comunicaçã­o social;

Ter capacidade para contratar especialis­tas para propor medidas concretas aos decisores, de forma a que tenham melhores condições para trabalhar.

Antes de terminar, gostaria de agradecer aos promotores deste Colóquio “Que estratégia­s de apoio durável ao desenvolvi­mento dos médias no espaço CEDEAO?”, bem como os elementos do Staff que com um trabalho incansável e inteligent­e, conseguira­m nos acolher nesta hospitalei­ra Cidade de Abidjan, proporcion­ando-nos as melhores condições de participaç­ão.

Estou disponível para responder às vossas questões e esclarecim­entos.

Muito obrigado pela vossa atenção.

* Discurso de Fernando Rui Tavares Ortet, PhD, Presidente da Associação dos Média Privados de Cabo Verde (AMPCV), durante o Colóquio Internacio­nal da Ajuda Pública aos Media, que decorreu na Costa do Marfim, de 29 a 30 de Novembro.

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