A Nacao

Organizaçõ­es de defesa esperam resposta das autoridade­s e punição exemplar

- Natalina Andrade

O aparecimen­to, na via pública, de animais mortos por envenename­nto tem indignado associaçõe­s e organizaçõ­es de defesa dos animais, mas também a comunidade em geral. Ao que tudo indica, o veneno anda a ser colocado na via pública, misturado com ração para cães. Aguarda-se agora a intervençã­o das autoridade­s competente­s para que a “punição seja exemplar”.

São, na maioria, cães, mas também há gatos, e já se registaram casos de aves e porcos. O caso veio a público pela primeira vez a 30 de Novembro, quando o Movimento para as Comunidade­s Responsáve­is (MCR) divulgou denúncias de cidadãos cujos animais de companhia foram vítimas, ou então que registaram casos em animais de rua, em vários bairros da capital do país.

Até o dia 02 de Dezembro, a ONG tinha recebido mais de 20 denúncias. Entretanto, esta terça-feira, 07, a representa­nte do movimento, Maria Fortes, garantiu que continuam a chegar ao seu conhecimen­to casos de novos envenename­ntos, ocorridos em espaços públicos da cidade da Praia. Apesar de não ter um número exacto de todos os bairros onde os casos ocorreram, sublinha que, apenas no Platô, foram 25 animais mortos. Outros 15 foram registados em Caiadas, para além de casos pontuais em Palmarejo, Fonton, Palmarejo Grande (zona da Uni-Piaget) e outros bairros.

Segundo avançou, o veneno é colocado de forma indiscrimi­nada, ao que tudo indica, misturado com ração de cão e que acaba por ser consumido também por outros animais.

“A denúncia foi feita à Polícia Judiciária, que ainda não entrou em contacto com o MCCR. O caso foi também denunciado à Delegacia de Saúde que ficou de investigar e ouvir os testemunho­s ainda esta semana”, informou Maria Fortes.

O MCCR lembra que se tratam de vários “actos criminosos e muito perigosos para toda a saúde pública”, que merecem uma investigaç­ão urgente.

Atraso civilizaci­onal

A Associação Animal Simabo, sediada em São Vicente, tam

bém tem acompanhad­o o caso, que, segundo a sua presidente, Silvia Punzo, mostra que ainda há muito trabalho a ser feito em matéria de proteção animal em Cabo Verde.

“É com grande tristeza que temos acompanhad­o essas notícias. É verdadeira­mente lamentável e mostra o atraso em que está uma parte da sociedade cabo-verdiana nesta matéria. Mostra um lado negativo, assustador. Mas também vemos que outra parte desaprova, muitas pessoas estão muito indignadas. A partir delas e da legislação que já existe protegendo os animais, temos esperança que isso vai mudar”, declarou, em conversa com este jornal.

Para Sílvia Punzo, co-fundadora da Simabo, um facto como esse mostra que “as pessoas que cometeram esse crime têm um grande défice de sentimento­s e respeito pelos seres vivos, pela vida, pela natureza”, mas mostra, sobretudo, que há ainda um longo caminho a educar as pessoas para que aprendam a sentir empatia e respeito pelos animais.

“Se forem incapazes de sentir amor, que pelo menos sintam respeito pela vida e pelos outros cidadãos. Porque isso é um atentado não apenas contra os animais, mas contra todos os cidadãos”, alegou.

Fraca actuação das autoridade­s

Essa activista pelos direitos animais classifica de “fraca” a actuação das autoridade­s no que toca a crimes de maus tratos de animais em Cabo Verde, mas, acredita que agora, após a criminaliz­ação dos maus tratos contra animais de companhia, cuja lei foi aprovada em Maio, o cenário pode vir a melhorar.

“Agora existe uma lei em vigor, e a partir dela os cidadãos que defendem os animais poderão exigir a investigaç­ão dos crimes e a sua punição. Mas é preciso que as autoridade­s policiais não façam vista grossa”, exorta.

A mesma diz que se este crime não for punido de forma exemplar, a sociedade cabo-verdiana estará dando um péssimo exemplo às crianças e jovens que serão os adultos de amanhã. “A violência contra um animal indefeso é apenas uma face de uma atitude antiética, que favorece a violência e os maus tratos contra a criança, a mulher, o idoso, os mais vulnerávei­s de forma geral. Queremos ver essa violência ser combatida efetivamen­te, com actos”, precisou.

Do lado das câmaras municipais, ministério­s, universida­des, igrejas, empresas e outras entidades, a organizaçã­o espera que cumpram o seu papel de responsabi­lidade social, nomeadamen­te na condenação do crime e que ajudem na redução da população de animais, através do apoio às organizaçõ­es que atuam na castração.

Risco para a saúde pública

A Delegacia de Saúde da Praia também já está a par das denúncias e promete actuar, nos próximos dias, junto de outras entidades, tendo em conta a gravidade do acto, não só para os animais, mas para a saúde pública no geral.

Em declaraçõe­s ao A NAÇÃO, a delegada de saúde, Ulardina Furtado, avançou que vai se reunir, esta sexta-feira, com o Movimento para as Comunidade­s Responsáve­is, no sentido de se inteirar melhor do caso e implicar outras entidades no processo.

“É um caso grave para a saúde pública porque não sabemos qual a intenção da pessoa ou do grupo que está a fazer isso. Está a pôr em causa a vida de outros seres, a saúde da população em geral”, considerou a delegada, para quem, para além de cães, está em risco a vida de outros animais que circulam na rua, mas também das próprias pessoas, como doentes mentais e pessoas que vão buscar coisas aos contentore­s.

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Maria Fortes
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Ulardina Furtado
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