Aviso de falecimento
Morreu em Rotterdam – Holanda, o activista anti-colonial e da democracia JOÃO PEDRO DELGADO, natural de Santo Antão tendo vivido desde os anos sessenta em Roterdão – Holanda. Primeiramente marítimo nas grandes companhias marítimas holandêsas e, mais tarde com a crise da marinha mercante, fez o reagrupamento familiar e abriu um Hôtel para acolher os emigrantes recém-chegados, onde se encarregava de os consciencializar perante os problemas de Cabo Verde.
Dotado duma grande resistência física, estava sempre presente em todas as manfestações políticas contra o colonialismo português, tendo aderido ao PAIGC nos anos sessenta.
Após a morte de Amílcar Cabral demitiu-se do PAIGC devido à maneira ditatorial como este partido se propunha fazer a unidade com a Guiné Bissau. Contestava também o modelo de partido único que já conhecia das suas viagens pelos países de leste e da Asia comunista. E não fazia diferença entre o regime de Salazar e o modelo do partido único dos paises comunistas.
Em 1978 seria um dos fundadores da UCID em Rotterdão. Foi elemento activo contra a Reforma Agrária em Santo Antão em 1981, participando em todas as manifestações em Rotterdam. Dizia que havia necessidade duma Reforma Agrária mas não seria somente em Santo Antão e para beneficiar os militantes do PAIGC.
Foi dirigente da primeira Associação Caboverdiana de Rotterdam, cujo prédio foi entregue ao Governo de Cabo Verde para o prosseguimento das actividades sociais e culturais, mas que foi vendido sem consultar a comunidade. Estivemos associados à criação da Sociedade Cultural que propunha resgatar e perpectuar a nossa cultura na Holanda onde o Djosa de Bernarda e outros tiveram um papel importante.
Esteve também ligado à rádio para divulgar a cultura caboverdiana em Rotterdam. Defendeu sempre a necessidade dum Centro Cultural Caboverdiano em Rotterdam, de bibliotecas, de escolas para os jovens e também a introdução do ensino do holandês nos liceus em Cabo Verde e ainda dum Centro Cultural Holandês em São Vicente.
Era um homem marcado pelas secas e fomes em Cabo Verde, das quais nunca conseguiu libertar-se. E por isso investiu sempre em Santo Antão e São Vicente, duas ilhas gémeas como dizia e encorajava sempre os conterrâneos a não esquecerem-se do seu povo e de Cabo Verde.
O seu nome ficará ligado à história da Emigração Caboverdiana para Holanda, que teve um papel determinante na luta contra as secas e fomes que assolavam ciclicamente as ilhas, tendo transformado o panorama económico, social e cultural de Cabo Verde, pondo termo à criminosa emigração/deportação para as ilhas de São Tomé e Príncipe, sem esquecer o papel na luta de libertaçao e da democracia.
Embora a crise Covid-19, estamos certos de que a comunidade caboverdiana de Rotterdam saberá prestar-lhe a devida homenagem.
Para mim era mais que um irmão. Uma parte de mim foi com ele. À família enlutada vai a expressão da nossa solidareidade e do nosso sentido pesar.
Caboverdianamente Mariano Teixeira (DIM DIM)