12 mil contos para “Pensar São Vicente 2035”
A Câmara Municipal de São Vicente vai desembolsar 12 mil contos para o fórum “Pensar São Vicente 2035”. A informação foi confirmada pelo vereador Albertino Graça, na terça-feira, e tem surpreendido os mindelenses. E nisso não falta quem questione o gasto de uma tal soma numa altura de crise como a que o país se encontra.
Do montante anunciado, sete mil contos destinam-se exclusivamente à montagem da estrutura que acolherá o evento, a ter lugar entre os dias 19 e 21 de Janeiro, na localidade de Ribeira de Julião.
“Um fórum especial”, segundo disse à imprensa o vereador Albertino Graça, eleito pelo PAICV, e que a seu ver vale o investimento da transferência da cidade do Mindelo para a periferia da ilha, para mostrar que “não se trata apenas de mais um fórum”. O objectivo, conforme assegurou, é discutir e encontrar os caminhos de desenvolvimento de São Vicente, num contexto de perda de competitividade em relação a outras ilhas do país.
O “oásis” em construção, concebido especialmente para receber o evento, será constituído por quatro naves, sendo uma primeira, com capacidade para 200 pessoas, para acolher a abertura do fórum.
As restantes naves destinam-se à apresentação dos 80 temas e painéis previstos, e uma outra destinada às refeições. A estrutura terá ainda gabinetes de imprensa, fotocopiadoras, instalações sanitárias e terá um espaço para receber os presidentes de câmara da região norte do país, que participarão, em paralelo, de uma cimeira sobre a regionalização.
Pensar custa caro
O montante anunciado logo causou “espanto” em algumas pessoas, que não se contiveram em reagir nas redes sociais, questionando o preço a pagar para “pensar”. Apesar de uma ou outra aceitação, no geral, as críticas são mais expressivas.
Reconhecendo que é necessário pensar, planificar e projectar o desenvolvimento de São Vicente, o internauta Manuel Lopes Fortes questiona, porém, se este é o momento adequado para a realização desse tipo de evento. “Certamente ajudaria muita gente em situação de fragilidade na situação de imprevisibilidade em que estamos a viver”, sugeriu.
Para muitos, está na altura de “parar de pensar” e entrar, de uma vez por todas, na era de “colocar em prática”. “Doze mil contos que dariam bom jeito nas habilitações sociais. Em Cabo Verde já somos doutores em fóruns e mesas redondas que não resultam em nada”, escreveu Ladino Fortes.
Luiz Silva, por seu turno, questiona se os emigrantes que tanto têm dado contributos para a transformação da ilha e do país foram convidados. “Haverá algum debate ou reflexão sobre a política municipal da emigração? Porque a emigração, antes de ser nacional, é duma grande vertente local”, apontou o emigrante e activista social.
Silva sugeriu ainda um estudo das políticas regionais e municipais dos países do Mediterrâneo, como a Itália e a Grécia. “Ignorar a componente migratória na vida do município ou do país e sua importância na construção de Cabo Verde é uma traição à nossa emigração”, reforçou.
Uma solução para este “desperdício de dinheiro”, defende Fábio Benjamim Delgado, seria promover um evento online, aproveitando as ferramentas que a tecnologia oferece, especialmente numa época de crise.
Outra pessoa que considera a soma “grande” demais para a situação que se vive é o activista e líder do Movimento Sokols, Salvador Mascarenhas, e que também corrobora com a ideia de um fórum online, mais económico e mais abrangente.
“Importante seria um fórum que até poderia ser on-line distribuindo credenciais para todas as pessoas que pudessem contribuir e que fosse aberto ao público em geral on-line”, declarou, questionando que interesse tem a “criação de um clã de que acha que são eles que têm as soluções e fazem uma discussão aparatosa mas hermética”.
O fórum acontece sob o lema “Transformar São Vicente numa ilha atractiva, dinâmica e competitiva”. Marcado para os dias 19, 20 e 21 de Janeiro, o mesmo deverá contar as participações do Presidente José Maria Neves e do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, além, claro, das autoridades da ilha do Monte Cara, a começar pelo seu presidente, Augusto Neves.