A Nacao

“Aprendi a ceder e a gozar do processo”

- Natalina Andrade

Mais introspect­ivo, Batchart revela, no seu novo álbum – Resiliente – , um lado mais pessoal, que até então era desconheci­do pelo seu público. Um trabalho desafiador que, muito além do resultado final, ensinou a gozar do processo e a ceder mais às investidas da sua equipa.

“É um álbum muito introspect­ivo, voltado para a motivação das pessoas e ajudá-las a acreditar na sua jornada, porque acredito que, no tempo que estamos a viver, as palavras que estão no álbum precisam ser ouvidas”, releva Batchart, em entrevista ao A NAÇÃO.

Em Resiliente, o nosso entrevista­do afasta-se do conceito do seu primeiro álbum – mais político e interventi­vo – , e volta-se à ideia do autoconhec­imento e cresciment­o pessoal.

“Acredito que não podemos conhecer o nosso valor enquanto sociedade se não nos conhecermo­s e conhecer o nosso valor enquanto pessoas”, explica, admitindo que, por isso, este álbum poderia anteceder Wikileaks, na medida que nos ensina o nosso valor enquanto pessoa, para depois falar do nosso papel na sociedade.

Entretanto, reconhece, essa era a ordem necessária para as coisas acontecere­m. “Talvez, na altura, eu não tivesse maturidade para escrever o que escrevi agora. Ao ouvir Resiliente, consegues perceber que é um álbum de alguém que está amadurecid­o, que levou algumas pancadas da vida e que está a conseguir tirar tudo para fora, em formato de arte”, revela.

Ao escutar este álbum, diz, é perceptíve­l o quanto muita coisa está mudada. Por isso, confessa, teve algum receio, “o que é normal”. “Não foi um receio de não ser validado, mas de ser estranhado, por ser um trabalho diferente e muito pessoal”, explica.

Apreciar o processo e aprender com ele

Tratando-se de um trabalho para o qual foi preciso uma transforma­ção, o rapper diz que um dos maiores aprendizad­os foi saber tirar partido do processo de produção, em detrimento do resultado final.

“Se no primeiro o objectivo era ter um resultado final, neste, eu senti que tirei mais vantagem do processo, que é tão importante quanto, ou mais importante, do que o resultado final. Isto é algo que este álbum me ensinou”, garante.

Outro aprendizad­o foi aprender a ceder e a confiar na sua equipa. “É bom trabalhar com pessoas que nos desafiam. E eu consegui me rodear dessas pessoas, que não se limitam àquilo que eu gosto, mas que me tiram do meu lugar e me apresentam a coisas que eu nem sabia que gostava”, explica.

Batchart, que já foi referencia­do antes como alguém que tem muito claro aquilo que quer do seu trabalho e até difícil de fazer mudar de ideias, admite que aprendeu a ceder e a confiar.

“Não é fácil quando já tens todo um trabalho projectado. É algo que nasce na minha mente e, como tal, está num plano ideal. Enquanto não colocar para fora é a melhor ideia que já tiveste, a melhor letra. Entretanto, quando sai para fora começam a aparecer diferenças em relação a aquilo que foi idealizado e isso pode ser frustrante”, admite.

Por isso, concluí, “é bom que as coisas fiquem do nosso gosto, mas não necessaria­mente precisam ficar do nosso gosto”.

Resiliente traz o dedo de vários produtores, a saber, Golbeats, Marvin Beats, Beats Diterra, Bouzin Beats e D. Blinde. Uma variedade que “adiciona”, diz o rapper, revelando ter uma equipa que já o conhece e que sabe como vai reagir a cada incentivo quando estão a gravar.

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