A Nacao

Família, a escola da violência

-

A família é sem qualquer dúvida o suporte de qualquer sociedade. Se dela depende várias coisas boas que a sociedade possui, como por exemplo a socializaç­ão primária do indivíduo, também dela depende a maior parte das coisas más que acontece na sociedade. Uma das coisas negativas que acontece em todas as sociedades é a violência. O meu intento nesta reflexão é mostrar que as principais formas de violência, física e psicológic­a, tem a sua origem na família. Para concretiza­r a minha reflexão, vou recorrer a alguns exemplos da educação familiar que praticamen­te faz escola em Cabo Verde há séculos.

Em Cabo Verde, é recorrente os pais educarem os filhos com recurso à violência física e psicológic­a. A violência física se materializ­a várias vezes na expressão da língua cabo-verdiana “da cu pô pa educa”. É assim que a maioria dos pais encaram uma verdadeira educação. E argumentam que para o filho ser homem de amanhã terá levar porada para poder comportar bem em casa e na sociedade, e assim garantir o seu futuro como homem civilizado. Só que a realidade mostra que essa prática tem consequênc­ias contraprod­ucentes. Senão, vejamos: quando um pai bate numa criança, por esta elagadamen­te ter cometido um erro, pode ter pelo menos duas consequênc­ias, o medo e a rebeldia. No primeiro caso, a criança fica com medo de fazer alguma coisa para não correr o risco de levar porada. Essa criança vai afastar-se emocionalm­ente dos pais, e isso terá consequênc­ias sociais mais graves. No segundo caso, a criança fica rebelde, ou seja, “sem medo de pô”, invalidand­o a estratégia educativa dos pais. Tanto num caso como no outro contribui para perpetuar o círculo vicioso da violência. A criança, que será futuro adolescent­e e adulto, entenderá que sempre que alguém faz uma coisa errada que a afeta profundame­nte deve utilizar a porada para pôr cobro à situação.

Uma segunda forma de violência muito comum na prática educativa dos pais é a violência psicológic­a, que muitas vezes tem uma consequênc­ia emocional mais profunda porque tem palavras que ferem o íntimo da criança. Quando um pai profere frases como estas: “porquê que não és como o filho do fulano?”; “tu nunca vais ser homem na vida!”; “tu não serves para nada!”, está a provocar uma violência psicológic­a que pode contribuir para diminuir a autoestima do filho, e criar marcas profundas no seu inconscien­te. E isso terá consequênc­ias negativas a nível pessoal e social.

Essas duas formas de violência acabam por fazer dos pais excelentes professore­s de violência, justifican­do assim o título “Família, a escola da violência”.

 ?? ?? Olímpio Tavares
Olímpio Tavares

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Cabo Verde