A Nacao

O que ainda segura Paulo Rocha no Governo?

Na sua edição 451, de 21 de Abril de 2016, este Jornal dava conta de um certo mal-estar na Polícia Nacional (PN), provocado pela nomeação de Paulo Rocha para o cargo de ministro da Administra­ção Interna.

- Daniel Almeida e José Vicente Lopes

Na altura, diante dessa grande surpresa, vários oficiais da PN ponderaram avançar para a pré-reforma para não se cruzarem com o antigo responsáve­l dos serviços secretos (SIR) e director-nacional da Polícia Judiciária.

O então diretor nacional da PN, João Domingos, e o seu adjunto Adalberto Coelho solicitara­m de imediato a passagem à situação de pré-reforma.

Manuel Alves e Elias Silva, dois veteranos da PN, tornaram-se nesse meio tempo denunciant­es da conduta de Paulo Rocha quando colocado no terreno, descrevend­o-o por vezes como um psicopata, que não vê a meios para levar de vencida os seus propósitos.

Conflitos e questões de ética

A rejeição a Paulo Rocha advinha do facto de, enquanto inspector e chefe da Polícia Judiciária (PJ), ter protagoniz­ado várias situações de conflito com agentes, subchefes e oficiais subalterno­s e superiores da PN.

Rocha também era tido como o principal mentor de um relacionam­ento “conflituos­o” entre a polícia científica e os ramos de investigaç­ão e de combate à criminalid­ade da polícia de ordem pública.

Para além dessa conflitual­idade com a PN, também se colocou, na altura, a questão de ética, e não só, na nomeação de alguém que tinha assumido as mais altas responsabi­lidades no governo anterior, num domínio particular­mente sensível como o da segurança, combate à criminalid­ade, entre outras.

Paulo Rocha, como se sabe, até ser nomeado para ministro da Administra­ção Interna, era chefe dos Serviços de Informação da República, SIR – um cargo altamente sensível, tendo com conta a natureza das informaçõe­s na sua posse – depois de ter passado pela PJ.

Nomeação para ministro gera descoforto

Aliás, a sua nomeação para essa função chegou a ser questionad­a por Humberto Cardoso, então deputado do MpD e director do jornal Expresso das Ilhas.

“Um homem que ocupa um cargo de elevada confiança do primeiro-ministro cessante, num passe de mágica aparece como membro do governo do partido que esteve na oposição. Será que não terá passado informaçõe­s privilegia­das à oposição no tocante a questões de segurança interna?”, interrogou um oficial da PN, na altura, perguntado, igualmente, “que garantia os cidadãos poderão ter de um tal governante, tendo em conta a natureza dos serviços de informação da República?”

Mas o desconfort­o aconteceu também, a nível político, nas hostes do próprio MpD, novo partido no governo. Ainda hoje esta é uma questão mal digerida em certos meios ou próximos dessa família política.

Cabeça de lista do MpD por São Vicente

Se o desconfort­o já existia, com a bancada do PAICV a explorar, sempre que pode, a conduta ética e política do ministro da Administra­ção Interna, a surpresa maior acabou por acontecer nas últimas eleições legislativ­as, com o mesmo Paulo Rocha a aparecer como cabeça de lista do MpD por São Vicente, ilha de que é natural, mas onde nunca exerceu qualquer actividade política conhecida. Até porque, enquanto magistrado, estava-lhe vedado qualquer tipo de actividade política, ainda por mais partidária.

Em certos meios acredita-te, actualment­e, que a colocação de Paulo Rocha na lista de deputados foi a forma encontrada pelo primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva e o seu núcleo duro de “blindar” o seu controvers­o ministro diante dos problemas que parece ter acumulado antes da sua chegada ao Governo, em 2016.

Situação cada vez mais insustentá­vel

Neste momento, diante do avolumar de casos e episódios, a situação do ainda ministro da Administra­ção Interna é cada mais insustentá­vel. Há quem defenda, por exemplo, que deveria ser o próprio visado a demitir-se das suas funções, poupando assim o MpD e o Governo do desgaste de uma tal permanênci­a.

Afinal de contas, é a própria imagem do Estado de Cabo Verde que está em causa, ao albergar no seu seio uma tal individual­idade. Por muito menos, noutras paragens, essa seria a solução de qualquer governante no lugar do actual ministro da Administra­ção Interna.

Blindagem do Ministério Público

Além disso, a atitude do Ministério Público de retirar partes do processo que investiga a morte de Zezito Denti d’Oro, envolvendo o ministro, apenas veio adensar ainda mais a nuvem negra que parece perseguir o visado.

Portanto, a blindagem do Ministério Público e do sistema MpD, expressa na sessão parlamenta­r anrerior, em torno de Paulo Rocha, reforçada pelo artigo do antigo chefe da Polícia Judiciária, Carlos Alexandre Reis, no Expresso das Ilhas, mostra-se insuficien­te para tirar esse governante do sufoco político em que se encontra.

O depoimento de Ady Lopes, sobreviven­te do episódio da morte de Zezito Denti d’ Oru, metralhado por agentes da PJ e episódios antigos envolvendo a acção de Rocha, ora tornados públicos pelo A NAÇÃO, nada abonam a favor de Paulo Rocha. Diante das evidências a pergunta é: o que segura ainda Paulo Rocha no Governo de Ulisses Correia e Silva e do MpD?

Questionad­o, a propósito, na resposta que enviou ao A NAÇÃO essa pergunta ficou sem resposta de Paulo Rocha.

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