A Nacao

José Joaquim Cabral é Prémio Arnaldo França 2022

- Romice Monteiro

José Joaquim Cabral é o vencedor da quarta edição do Prémio Literário Arnaldo França, com “Destino Aziago”, romance inédito que deverá ser publicado ainda este ano. O autor deste título, último da trilogia que fecha o ciclo da “Chiquinhag­em”, iniciado por Baltasar Lopes da Silva, dedica o prémio aos “escritores anónimos” da sua ilha São Nicolau, seguro de que fazer literatura em Cabo Verde continua a não ser fácil.

José Joaquim Cabral, autor de “Acusnet Avenue”, romance que dá continuida­de a “Chiquinho”, de Baltasar Lopes, publicado em 2019, é o vencedor da quarta edição do Prémio Literário Arnaldo França, atribuído anualmente pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, de Portugal, e pela Imprensa Nacional de Cabo Verde. “Destino Aziago”, que concorreu com outras 13 obras, arrebatou a unanimidad­e do júri do prémio que leva o nome do mais importante crítico literário de Cabo Verde.

Em entrevista ao A NAÇÃO, Cabral, como é por muitos conhecido, mostrou-se satisfeito com o reconhecim­ento do seu trabalho, mas avançou que a sua “maior satisfação” foi ter conseguido dar continuida­de a “Chiquinhag­em”, e concluir a caminhada iniciada por Baltasar Lopes, em 1947, com a publicação de “Chiquinho”, romance que marca o nascimento da moderna ficção cabo-verdiana.

“Baltasar Lopes da Silva não conseguiu dar continuida­de ao ‘Chiquinho’, por várias razões que até estão escritas – até o título ele já tinha para o livro que ele não pôde escrever. Foi então que decidi escrever ‘Acushnet Avenue’, que publiquei, em 2019. Depois disso, continuei a achar que ainda não tinha chegado ao fim, pelo que resolvi dar uns passos mais, fechando a trilogia com este romance que agora venceu o Prémio Arnaldo França deste ano”.

Satisfeito, José Joaquim Cabral diz regozijar-se por ter conseguido fechar a trilogia à volta de ‘Chiquinhag­em’, realçando que escreveu “Destino Aziado” durante a quarentena imposta pela covid-19.

Tributo os escritores da sua terra

O vencedor do Prémio Arnaldo França 2022 diz que dedica esse reconhecim­ento aos “escritores anónimos” da sua ilha-natal, São Nicolau, “terra de gran

des escritores, desde Baltasar Lopes, José Lopes e de muitos outros, dos quais conhecemos poucos, infelizmen­te”.

É o caso, como diz, de Pedro Corsino de Azevedo, “poeta claridoso”, contemporâ­neo de Baltasar Lopes da Silva. “Ele publicou na Claridade, morreu aos 37 anos e foi para o esquecimen­to. Como ele, há outros mais. Por isso, dedico este prémio aos escritores anónimos da minha terra, na ilha que tinha grandes escritores e que de repente deixou de ter”, justificou.

Por outro lado, apesar dos seus seis livros já publicados, versando todos sobre São Nicolau, suas gentes e seus problemas, entende que “fazer literatura nesta terra é algo complicado”. “A gente tem que fazer uma espécie de penitência, pedir favor e tudo mais, para uma coisa que é de interesse público. Por isso, muita gente prefere não escrever e guardar as suas histórias para eles mesmos, morrendo com eles”.

Resgatar a história do Mar Liso...

José Joaquim Cabral diz que após a publicação do “Destino Aziago”, pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, este ano, vai de seguida pegar em outras ideias que ajudam a dar a conhecer a cultura de São Nicolau e de Cabo Verde, sem deixar a sua missão de fazer a literatura. Por agora, revela que está focado na realização de um documentár­io, de 50 minutos, com pretensão para estrear em Junho.

“O título ainda é provisório e este trabalho vai debruçar-se sobre o Mar Liso, a última embarcação com casco de madeira ainda em operação em Cabo Verde. Estamos a falar de uma representa­ção de uma história de cerca de 300 anos”, adianta sobre o filme, que será o “resgate de uma história não guardada”.

“Há três séculos, o capitão George Roberts esteve em cabotagem em Cabo Verde, com um barquinho que ele construiu na ilha Brava. Esta história não foi guardada. Deixamo-la perder assim como muitas outras”.

No seu labor literário, José Joaquim Cabral conta já com seis publicaçõe­s: Acushnet Avenue, romance, (2019); Caminho(s) que Trilharam, romance histórico (2014); Sodade di Nha Terra Saninclau I, II, III (2008, 2009, 2012) e Padre Gesualdo Fiorini, Italiano, de São Nicolau, cidadão, biografia, (2007).

O escritor, natural de São Nicolau, formou-se em administra­ção de empresas no Brasil, em 1990, e durante a sua carreira profission­al desempenho­u vários cargos na administra­ção pública. Actualment­e exerce funções no Conselho de Administra­ção da Escola do Mar, em São Vicente.

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